SAÚDE COLETIVA

Radinho BDF: por que as crianças estão sendo menos vacinadas?

Podcast explica a importância da vacinação infantil e como especialistas e crianças lidam com a queda na imunização

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Orientação é levar documento de identidade, CPF e, se possível, caderneta de vacinação - Foto: Ualisson Noronha/ Agência Saúde-DF
Quando uma pessoa se vacina, beneficia toda a comunidade

Estamos em um posto de saúde, ouvindo crianças e pais aguardando atendimento. A sala de espera está cheia, e o assunto do momento é a vacina. “Confesso que estou um pouco nervosa, mas, como sempre, a picadinha acaba sendo bem menos assustadora do que eu imaginava”. Esse é o relato do momento em que a jornalista e apresentadora Camila Salmazio foi tomar a vacina da gripe deste ano, e também o cenário do episódio desta quarta-feira (7) do Radinho BdF, o podcast de jornalismo para crianças e adolescentes produzido pelo Brasil de Fato.

Recentemente, o Brasil tem enfrentado um desafio crescente: a redução da cobertura vacinal infantil. Essa preocupação surgiu quando pesquisas mostraram que muitas crianças e adolescentes estão deixando de ser vacinados, colocando em risco a saúde coletiva.

Para entender melhor o que está acontecendo e por que as vacinas, fundamentais para prevenir doenças graves, estão sendo negligenciadas, o programa entrevistou o médico Renato Kfouri, infectologista pediátrico, e Carla Wolanski de Almeida, vice-diretora de produção de biológicos do Bio-Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Renato explica que a vacinação é um passo crucial para prevenir doenças e proteger a saúde coletiva. "As vacinas, como a da gripe, são aplicadas anualmente para combater vírus que sofrem mutações e permanecem ameaçadores", diz. 

O Radinho BdF também acompanhou a jornada de Arthur De Martino Pires, de 12 anos, que compartilhou conosco sua visita à Unidade Básica de Saúde (UBS) para receber as vacinas contra gripe e HPV (papilomavírus humano). “Chegamos no posto e agora vamos ver se tem fila”, relatou Arthur.

O SUS, Sistema Único de Saúde, mantém uma vasta rede de mais de 48 mil UBS no Brasil, os famosos “postinhos” de saúde. São nesses locais que as vacinas são administradas e outros cuidados são prestados. O posto de saúde visitado por Arthur era próximo à sua casa, facilitando o acesso ao serviço.

“Já me vacinaram, já coloquei um band-aid, foi bem rápido e foi bastante dolorido. A pior parte foi quando eu tomei a picada, a segunda foi antes de tomar a picada e a terceira foi o final”, relatou Arthur após a vacinação.

O registro das vacinas é feito na carteirinha de vacinação, um documento essencial para garantir que todas as doses necessárias sejam aplicadas ao longo da vida, ou seja, se tomamos todos os imunizantes necessários para cada idade e disponíveis pelo SUS.

Origem e avanços nas vacinas

O Radinho BdF também investigou a origem das vacinas e descobriu histórias fascinantes. O médico inglês Edward Jenner, por exemplo, foi pioneiro e fez experimentos com secreções da ferida de uma vaca contaminada por varíola bovina para criar a primeira vacina contra a varíola humana. Um método que, apesar de arcaico, abriu caminho para os imunizantes modernos.

“Ele observou que as pessoas que tinham contato com o vírus previamente não adquiriam a doença. Era como se o organismo se preparasse para aquela infecção e não desenvolvesse a doença. Então, ele preparou um experimento em vacas. [...] Ele raspou aquele material, fez um preparado e inoculou em crianças e pessoas. Algumas pessoas tiveram uma varíola muito branda, mas não vieram a óbito. E depois, quando essas pessoas entraram em contato com a varíola, não desenvolveram a doença. Então, ele entendeu que havia um medicamento em potencial. Ele escreveu, um pouco depois, um tratado sobre esse experimento que fez”, conta Carla.

A partir dali, estudos aprofundaram o desenvolvimento dessa profilaxia contra a doença. Outro pesquisador que começou a trabalhar com o vírus da raiva na época foi Louis Pasteur: “ele começou esses experimentos lá em 1880 e dali em diante as vacinas começaram a ganhar protagonismo. Houve a criação do laboratório em Londres, e a partir desse laboratório começaram a surgir outros experimentos, até que tivemos várias gerações de vacinas e um aprimoramento desse material.”

Atualmente, a maioria das vacinas é administrada por injeção, mas há uma busca constante por métodos alternativos que não envolvam agulhas. "Adoraríamos vacinas com gotinhas, mas, infelizmente, para produzir defesa e gerar anticorpos, a vacina precisa entrar no músculo", explica o médico Renato Kfouri.

Nesse sentido, a especialista da Fiocruz completa que há estudos para outras formas de imunizantes, como spray nasal ou micro agulhas, “mas são estudos preliminares”, e explica que o “preparado injetável garante que toda a dose seja colocada no organismo”.

“A vacina oral, como a da poliomielite, visa uma pequena replicação viral na primeira porção do intestino. O vírus atenuado da vacina compete com o vírus selvagem no ambiente, conferindo uma proteção coletiva”, explica.

O desafio da baixa cobertura vacinal

A baixa cobertura vacinal no Brasil é alarmante. Em 2021, foi de apenas 52,1% para crianças e adolescentes, a menor taxa dos últimos 20 anos. Em 2015, o país havia alcançado 95% de cobertura, um feito notável que o colocou como exemplo mundial. No entanto, o cenário atual mostra uma queda preocupante, exacerbada por movimentos antivacina e a disseminação de informações falsas.

O personagem Zé Gotinha, um ícone das campanhas de vacinação, ajudou a alcançar altas taxas de imunização no passado. Mas a recente redução na adesão às vacinas é um desafio sério. Renato aponta que o sucesso das vacinas pode levar a uma falsa sensação de segurança, fazendo com que pais questionem a necessidade de novas doses.

"Quando as doenças desaparecem, pode haver dúvidas sobre a necessidade de vacinas. [...] Muitos pais que não estão motivados a vacinar, acabam deixando para depois. E aí que mora o perigo, a gente começa a relaxar nessa vacinação, e essas doenças que já foram embora, podem voltar", alerta o infectologista.

Apesar dos desafios, muitas pessoas estão trabalhando para garantir que as vacinas estejam disponíveis para todos.

A doutora Carla da Fiocruz é uma dessas pessoas. A equipe do laboratório de Bio-Manguinhos é formada por médicos e cientistas trabalha constantemente para garantir a qualidade e a eficácia das vacinas que recebemos nos postos de saúde.

A história de Clara Caravieri, de 5 anos, que lembra seus pais de tomar as vacinas, também é um exemplo inspirador de como a cidadania pode começar cedo. Manter a caderneta de vacinação em dia é uma responsabilidade importante, e consultar o calendário vacinal no site do Ministério da Saúde é uma maneira de garantir que todos estejam protegidos.

"Eu tinha saído da escola. Daí eu falei: 'Eu tenho que tomar vacina'. Ninguém me falou, eu lembrei de tomar. Daí a gente foi, eu brinquei um pouco, e eu fui tomar vacina. Não doeu porque eu gosto de tomar vacina para não ficar com gripe, para não ficar com a doença do mosquito da dengue. Eu levanto a manga para todo mundo ver, para mostrar que eu tomei vacina", narra Clara.

A vacinação não apenas protege o indivíduo, mas também aqueles que, por motivos de saúde, não podem ser vacinados. "Quando uma pessoa se vacina, beneficia toda a comunidade", completa o infectologista.

Para mais informações sobre vacinas e como manter a carteirinha em dia, visite o site do Ministério da Saúde: gov.br/saude.

Sintonize

A nova temporada do Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, às 9h, nas principais plataformas de streaming.

A edição também pode ser ouvida no site do Brasil de Fato. Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, cadastre-se nesse link.  

Edição: Nathallia Fonseca