A Venezuela anunciou o rompimento das relações diplomáticas com o Peru nesta terça-feira (30), após o governo peruano declarar que reconhece o opositor Edmundo González Urrutia como presidente eleito do país caribenho, mesmo sem a divulgação das atas eleitorais. O Conselho Nacional Eleitoral venezuelano declarou no domingo (28) Nicolás Maduro como vencedor do pleito presidencial, mas a oposição afirma ter ocorrido fraude e exige a divulgação das atas eleitorais que comprovariam o resultado.
“O Governo da República Bolivariana da Venezuela decidiu romper relações diplomáticas com a República do Peru, sobre a base do Artigo 45 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961”, publicou o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, em sua conta no X, antigo Twitter.
"Nos vemos obrigados a tomar esta decisão, depois das temerárias declarações do chanceler peruano que desconhecem a vontade do povo venezuelano e nossa Constituição”, completou.
O chanceler venezuelano se referia às declarações de seu homólogo peruano, Javier González-Olaechea, ao canal estatal de TV no Peru, nas quais afirmou haver conversado com a líder da oposição Maria Corina Machado para demonstrar o apoio do governo do Peru. Olaechea qualificou as eleições venezuelanas como “fraude” e acusou o presidente Nicolás Maduro de querer “se perpetuar no poder”.
González-Olaechea é ministro do governo de Dina Boluarte, que chegou ao poder no Peru em 7 de dezembro de 2022 através de um golpe de Estado e prisão do então presidente Pedro Castilho.
A resposta do governo venezuelano foi rápida. As autoridades da Venezuela afirmaram ainda que o país romperá relações e expulsará o corpo diplomático de todos os países que questionarem a democracia no país. Com isso, Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai foram convidados a retirar o seu pessoal diplomático da Venezuela.
Em uma mobilização com apoiadores na terça-feira (30), o presidente Nicolás Maduro chamou Edmundo González de “covarde”, o responsabilizou pela instabilidade política no país e afirmou que se tratava de um “novo Juan Guaidó”, em referência ao ex-deputado venezuelano que se autoproclamou presidente da República, com apoio dos Estados Unidos, e de outros países da região, incluindo o Peru.
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, o atual presidente conquistou 51,2% dos votos, contra 44,2% de Edmundo González. O não reconhecimento dos resultados por parte da oposição foi o estopim para uma série de manifestações violentas no país caribenho, desde a última segunda-feira (29).
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Eleição, suposta fraude e violência: como chegamos até aqui?
A votação no último domingo (28) ocorreu com tranquilidade, segundo as próprias autoridades eleitorais. Os resultados definitivos foram divulgados por volta da 1h da manhã da segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Com 80% das urnas apuradas, o órgão deu vitória ao atual presidente Nicolás Maduro com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia, ex-diplomata de direita e principal candidato da oposição. Os resultados, segundo o CNE, já eram irreversíveis.
No palácio de Miraflores e rodeado por apoiadores, Maduro fez seu discurso da vitória, no qual agradeceu os eleitores e pediu respeito aos resultados eleitorais. "Haverá paz, estabilidade e justiça. Respeitem a decisão de 28 de julho", disse. Minutos depois, a oposição se manifestou e não reconheceu os resultados. González apareceu acompanhado de Maria Corina Machado, líder opositora que, por complicações com a Justiça, foi inabilitada de ocupar cargos públicos no país, e disse que era o vencedor da disputa.
Sem apresentar provas, os opositores alegaram uma "fraude eleitoral" e disseram ter atas de votação que supostamente comprovariam a divergência nos números. Após a postura de González e Machado, o dia seguinte foi de tensão e violência. Marchas foram registradas em redutos historicamente opositores de Caracas, capital venezuelana, e manifestantes chegaram a incendiar prédios e patrimônios públicos.
O governo denunciou as ações, responsabilizou os opositores pela violência e classificou o movimento como uma "tentativa de golpe de Estado". Na noite da segunda-feira (29), Edmundo González e Maria Corina Machado voltaram a denunciar a existência de "fraude eleitoral" e, desta vez, deram números: supostamente, o candidato de direita teria vencido com mais de 6 milhões de votos.
Eles ainda alegaram estar em posse de 73% das atas eleitorais que comprovariam este resultado e que esses documentos seriam disponibilizados em um site. A página, no entanto, não permite uma consulta ampla aos comprovantes e é impossível checar por conta própria a veracidade da narrativa opositora.
Até às 12pm do dia 30 de julho, o CNE, por sua vez, ainda não havia divulgado a totalização das atas. Os números são aguardados por países como Brasil, Colômbia e México para uma posição final sobre o processo.
Edição: Rodrigo Durão Coelho