O mandato do presidente da Venezuela tem 6 anos. Por isso, neste domingo (28), eleitores que têm entre 18 e 23 anos votarão pela primeira vez para o Executivo do país. Sem a figura do ex-presidente Hugo Chávez, partidos e grupos de esquerda têm se esforçado nos últimos anos para aproximar a juventude venezuelana das ideias chavistas e vai saber no pleito de 28 de julho se o trabalho teve resultado.
A aproximação com os jovens não é nova no processo chamado de “revolução bolivariana”. O primeiro instrumento para isso foi a criação de uma juventude para o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV). O grupo foi fundado em 2008 tendo como um dos articuladores o atual governador do estado Miranda, Héctor Rodríguez.
O voto jovem pode ser decisivo nessas eleições. Em um cenário em que pesquisas eleitorais indicam resultados incertos, serão 600 mil novos eleitores em 2024 de um total de 21,4 milhões de venezuelanos aptos para votar, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Para muitos dos jovens que neste ano vão pela primeira vez às urnas, o chavismo tem como referência principal o atual presidente Nicolás Maduro em contexto de seguidas crises no país. A violência da oposição nas guarimbas, as sanções dos Estados Unidos e uma pandemia fizeram parte da formação militante de uma parcela da população que foi criando consciência política nos últimos 10 anos.
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A vice-ministra da juventude do PSUV, Yosneisy Paredes, garante que a aproximação das ideias de Chávez com os jovens é trabalho permanente no processo revolucionário venezuelano. Segundo ela, os jovens estudam Chávez e mantém o ex-presidente como referência.
“Dentro da militância revolucionária, Chávez é um dos pilares para os estudos de quem quer ser militante e um pensamento que não perde vigência. Há jovens de 13 anos que militam na organização bolivariana estudantil que faz referência aos discursos de Chávez. Umas das tarefas que temos é manter acesa a chama sagrada do comandante Chávez. É assim que nós conseguimos nos aproximar dos jovens”, afirma ao Brasil de Fato.
Desde que está no poder, Maduro diferenciou cinco gerações de jovens. A primeira ele chamou de precursores, aqueles que foram para a luta armada contra a ditadura nos anos 1960. Uma segunda geração são os fundadores, que estavam no processo revolucionário em 1998, quando Chávez é eleito.
O terceiro grupo é o intermediário, representado pelos fundadores da Juventude do PSUV e que hoje ocupam espaços de gestão, como ministérios e governos de Estado. A geração “tempestade” é a que cresceu em meio aos momentos mais difíceis da Venezuela, com aumento da crise e ataques externos. Esse grupo ainda conseguiu dar o primeiro voto em Chávez e foi chamada pelo ex-presidente, em 2012, de “a melhor geração de 500 anos de história”.
A juventude atual é chamada por Maduro de “geração genial”. Não teve contato com o ex-presidente e não tem lembrança específica de Chávez. Yosneisy Paredes afirma que, apesar de esse grupo ter vivido os momentos mais difíceis da Venezuela nos últimos anos, o trabalho do governo na pandemia conseguiu melhorar a simpatia dos jovens com a revolução.
“A juventude venezuelana, essa geração dos mais jovens que têm entre 18 e 24, na adolescência viveu uma pandemia e em meio disso viram um governo que ajudou os cidadãos, bateu na porta, distribuiu vacinas grátis. Mas também é uma geração que não podia sair da sua casa com 14 anos pela violência que estava nas ruas com as guarimbas e de uma crise muito dura. Ou seja, passou por uma violência e por uma organização popular que se preocupa em construir soluções. Essa juventude vê que o governo se organiza e quer paz”, disse.
Para ela, há um movimento internacional para desencorajar o jovem a participar da política. Segundo Paredes, empresas e governos do Norte global atuam para estimular um padrão de consumo e uma ideia de sociedade mais individualizada. A vice-ministra da juventude do PSUV entende que, por isso, é preciso desburocratizar a linguagem da política e aproximar dos jovens de forma mais estética.
“Esse é um trabalho da juventude, traduzir a mensagem do partido para a linguagem do jovem. É também entender que há jovens que não querem militar em um partido, mas não quer dizer sejam insensíveis com a realidade do mundo. Há jovens que se movem pelos direitos ambientais, de gênero, LGBTQIA+. Ou seja, é falar desses espaços e, uma vez que isso acontece, o jovem começa a ver que a luta ambiental sem a luta de classes não chega ao seu fim”, afirma.
Cenários pós-eleição
Caso Maduro seja reeleito, Paredes afirma que o mandatário dará continuidade à participação massiva dos jovens na política nacional. Em um ambiente político com velhas lideranças, a juventude do partido entende que é parte do processo revolucionário a incorporação de jovens na sua estrutura.
“A juventude tem muita participação no governo. Cerca de 40% dos deputados são jovens, em todos os ministérios há pelo menos um vice-ministro jovem. Isso justamente porque Maduro entende que precisa ir formando e aprender fazendo. Hoje não é uma promessa eleitoral, isso já é uma realidade. A juventude tem participação, responsabilidade de direção”, diz ela.
Do outro lado, há uma oposição que tem no ex-embaixador Edmundo González Urrutia seu candidato. Com propostas antagônicas ao governo de Nicolás Maduro, o grupo Plataforma Unitária decidiu participar das eleições depois de boicotar o pleito em 2018. Em uma eventual derrota para a direita, Yosneisy Paredes entende que a juventude teria papel de proteção dos direitos básicos e uma atuação fundamental de manutenção das ideias de Chávez e de preparação para retomar o poder.
“Se a oposição ganha, a primeira tarefa é salvar a vida. Antes da chegada da revolução os estudantes eram perseguidos. A Universidade Central da Venezuela estava cheia de perseguidos. Há milhares de venezuelanos que não encontraram seus filhos. Então o objetivo dos jovens seria manter a organização e os princípios ideológicos para seguir lutando e vencer”, disse.
Maduro contra 9
O CNE anunciou em maio que 21,4 milhões de venezuelanos estão aptos a votar no dia 28 de julho. Cerca de 69 mil deles estão fora do país. O presidente Nicolás Maduro busca a reeleição contra outros 9 candidatos, sendo o principal deles Edmundo González Urrutia. Ele é apoiado pela ex-deputada ultraliberal María Corina Machado. Ela está inabilitada por 15 anos pela Justiça venezuelana por "inconsistência e ocultação" de ativos na declaração de bens que ela deveria ter apresentado à Controladoria-Geral da República (CGR) enquanto foi deputada na Assembleia Nacional (2011-2014).
Em junho, oito dos 10 candidatos assinaram um acordo para respeitar o resultado das eleições. Edmundo se recusou a participar e não assinou o documento. Além dele, Enrique Márquez, do partido Centrados, não assinou.
Como funciona o sistema eleitoral na Venezuela?
A eleição para presidente na Venezuela tem apenas um turno. Ganha quem tiver o maior número de votos. O mandato para o presidente é de seis anos. No país, não há limite de reeleição para presidente. O atual chefe do Executivo é Nicolás Maduro, que concorre à reeleição para o 3º mandato. Antes dele, Hugo Chávez também foi eleito três vezes, mas morreu logo no início de sua 3ª gestão, em 2013.
Para votar, é preciso ter ao menos 18 anos e o voto não é obrigatório no país. Assim como o Brasil, a Venezuela também usa a urna eletrônica, mas a diferença é que no sistema venezuelano o voto também é impresso. O Conselho Nacional Eleitoral venezuelano contratou uma empresa em 2004 que desenvolveu e implementou mais de 500 mil máquinas e treinou 380 mil profissionais para operará-las.
O procedimento é simples. Os centros de votação são em escolas públicas. O eleitor entra na sala de votação, valida sua biometria e registra o voto na urna eletrônica. Ele recebe o comprovante impresso do voto, confere se está correto e o deposita em uma outra urna, onde ficam armazenados os votos em papel. Quando a votação é encerrada, o chefe da seção imprime o boletim de urna e faz a contagem dos votos impressos para conferir se estão de acordo.
Edição: Rodrigo Durão Coelho