Na manhã desta quinta-feira (18), o Sindicato dos trabalhadores em água, esgoto e meio ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Frente Povo Sem Medo fizeram um ato contra a privatização da Sabesp em frente à sede da empresa Equatorial Participações e Investimentos, na zona sul de São Paulo.
Sem concorrentes, a Equatorial comprou, por R$ 6,9 bilhões, a participação de 15% na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Assim, tornou-se a investidora de referência da maior companhia de saneamento do país.
No ano passado, o lucro da Sabesp somou R$ 3,5 bilhões. Para controlar a empresa privatizada pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), portanto, a Equatorial deve desembolsar um valor equivalente a apenas dois anos de lucro já auferido pela estatal.
Com faixas e galões pintados de marrom representando água suja, os manifestantes discursaram na frente dos grandes prédios espelhados dos complexos empresarias na Avenida das Nações Unidas, diante de um fluxo contínuo de trabalhadores que chegavam ao serviço.
"É uma empresa do setor elétrico que está comprando a Sabesp num processo cheio de irregularidades, ilegalidades e inconstitucionalidades", afirma José Antonio Faggian, presidente do Sintaema. "Inclusive como única concorrente, numa oferta absurda. Os 15% das ações foram vendidos abaixo do que se negociava na Bolsa", destaca.
"Nós contratamos uma consultoria financeira e fizemos uma avaliação da empresa: chegamos ao valor de R$ 84 por ação. No dia da oferta, ela estava sendo negociada na bolsa a R$ 74, e a Equatorial ofertou R$ 67", explica Faggian.
"Um processo cheio de problemas. A presidente do conselho de administração da Sabesp saiu há sete meses do conselho de administração da Equatorial e participou de todo o processo de modelagem de como seria feito o leilão", ressalta o presidente do Sintaema. "O contexto é esse e nosso protesto é para denunciar isso: como foi criminoso esse processo de privatização de uma empresa lucrativa, eficiente, que presta serviços de excelência, que trabalha com água, saneamento, saúde da população", resume.
Criada no fim da década de 1990 no âmbito das privatizações impulsionadas pelo Programa Nacional de Desestatização (PND), a Equatorial atua principalmente no ramo de energia. Atualmente, opera concessionárias de distribuição de energia em sete estados brasileiros. Em saneamento, porém, a experiência é de apenas dois anos. Em 2023, a companhia teve um lucro líquido de R$ 2,87 bilhões.
"Em todos os lugares onde a água foi privatizada, a tarifa aumentou. Para a população periférica e sem teto, que tem uma grande dificuldade de pagar as tarifas que existem hoje, ter a tarifa aumentada é uma consequência imediata. Isso vai pesar no bolso daqueles que mais precisam do acesso à água", salienta Moisés Ribeiro, da coordenação do MTST.
"Além disso, a qualidade da água onde se privatizou piorou em todos os lugares", acrescenta, citando o caso do Rio de Janeiro. "Foi um caos: água preta saindo da torneira por meses. Ninguém conseguia beber a água", recorda.
"E nesse momento em que a gente debate a importância da defesa do meio ambiente, privatizar um bem que está tão ligado a essa pauta é um absurdo por completo", opina Moisés.
O militante do MTST aponta, ainda, que "o processo de privatização foi muito duvidoso em todas as suas etapas".
"Uma tramitação muito rápida na Alesp, com processo de privatização, que tinha uma decisão judicial para que não ocorresse aquela votação. O prefeito Ricardo Nunes, no caso de São Paulo, em 15 minutos assinou o decreto que aprovava a privatização. Uma série de problemas do ponto de vista do conteúdo e do ponto de vista do método, terminando com uma empresa que não é do ramo", elenca Ribeiro.
Carregando uma faixa com os dizeres "Equatorial = Enel da água", fazendo referência à empresa privada que deixou várias regiões de São Paulo dias sem luz no ano passado. O ato caminhou pela calçada que beira os edifícios empresariais.
"Vamos lutar até o final, porque a luta ainda não acabou", ressalta Moisés Ribeiro: "Nós temos os nossos recursos na justiça e continuamos com a mobilização para barrar esse processo".
Edição: Nathallia Fonseca