Coluna

Planejamento urbano deveria incluir estratégias para aproximar local de moradia ao emprego

Transporte em São Paulo
Diminuir o tempo de deslocamento proporciona mais tempo para descanso e lazer - Rovena Rosa/Agência Brasil
É importante reconhecer o valor do tempo e considerar formas de tornar o deslocamento mais eficiente

Por Rosana Pedrosa*

O planejamento urbano e mobilidade urbana têm o poder de transformar as cidades e, consequentemente, a vida das pessoas. Uma alternativa viável é promover a proximidade entre o local de trabalho e de residência: produzir habitações em áreas estratégicas e oferecer postos de trabalho nas áreas periféricas. 

A elaboração de estratégias urbanas que promovam a integração no que diz respeito ao transporte, levando em consideração o local da moradia e o emprego, é fundamental para alinhar o Plano de Mobilidade Urbana, conforme previsto na Lei 12.587/2012, com o novo Plano Diretor Estratégico Municipal.

São diversos os benefícios em termos de mobilidade urbana para a cidade quando este tipo de planejamento é adotado. O Plano Diretor tem como objetivo solucionar os problemas de moradia e transporte, sobretudo para a população periférica. 

De acordo com os registros do Ministério das Cidades, recomenda-se implementar uma estratégia que conduza e combine iniciativas, estratégias e recursos para garantir o acesso da população brasileira às cidades, alcançar a justiça social, melhorar a administração pública e fortalecer a participação cidadã e a proteção ambiental. 

O tema da mobilidade urbana abarca uma ampla gama de questões, incluindo aspectos concernentes ao desenvolvimento urbano, emprego, moradia, saúde, educação e lazer da população e, em especial, concentrando-se na eficácia dos meios de transporte e na conveniência dos deslocamentos diários.  

Segundo o Ministério das Cidades, é imprescindível que os planos e construções de infraestrutura de transporte sejam alinhados a um planejamento geral da cidade, com metas claras estabelecidas para o presente e para o futuro. É fundamental que haja uma integração entre os diversos setores para garantir o acesso às cidades e aos serviços urbanos. 

A expansão e exploração da metrópole, juntamente com o desenvolvimento das regiões circundantes, que acomodam uma considerável população que não possui meios para residir nas áreas centrais e privilegiadas, sobretudo na cidade de São Paulo, onde a atividade econômica é mais concentrada, são responsáveis pela maioria dos deslocamentos diários nesta região.

Com o desenvolvimento de um padrão de oferta de imóveis em locais mais distantes e menos valorizados, os trabalhadores que se deslocam diariamente optam por viver em áreas mais acessíveis financeiramente, mesmo que isso signifique percorrer distâncias maiores até o local de trabalho. 

Se, por um lado, essas informações evidenciam a importância da Região Metropolitana de São Paulo na criação de empregos e no aumento da renda, por outro lado, notamos que geralmente as áreas mais afastadas do centro se caracterizam por abrigar uma população de baixa renda e com características semelhantes.

Nessas regiões é comum encontrar apenas estabelecimentos como bares e pequenos mercados, voltados principalmente para suprir as necessidades locais, enquanto o comércio e os serviços mais amplos estão concentrados nas áreas centrais e mais prósperas. 

A locomoção tem impacto significativo na rotina dos cidadãos que necessitam se deslocar diariamente, especialmente os residentes de baixa renda e das regiões mais distantes, dependentes do transporte público para ir ao trabalho.

Durante os horários com grande concentração de pessoas circulando, a escassez ou a deficiência dos meios de transporte gera aglomerações e conflitos para o embarque no transporte coletivo, resultando em estresse, desconforto e atrasos.

Além disso, as longas viagens, muitas vezes feitas em pé, contribuem para o desgaste físico e emocional, prejudicando as relações interpessoais, a produtividade e a concentração nas tarefas realizadas. 

A volta para casa após a jornada de trabalho é sempre um alívio, contudo, o cansaço se faz igualmente presente tanto na ida quanto na volta. 

Os moradores de São Paulo gastam em média mais de uma hora no deslocamento diário entre casa e trabalho, tempo muitas vezes considerado desperdiçado. Em relação à distância entre local de trabalho e moradia, é importante destacar que os empregados podem ser prejudicados por residirem longe das áreas centrais onde as oportunidades de trabalho são maiores.

Embora este não seja um requisito da empresa, sabe-se da preferência em contratar pessoas que vivam mais perto do seu local de trabalho. Esta situação dificulta a integração ou reintegração ao mercado de trabalho para muitas pessoas que vivem em subúrbios distantes dos centros urbanos. 

É fundamental levar em consideração que residir nas proximidades do local de trabalho pode não ser viável devido aos altos custos dos imóveis em regiões urbanas. Dessa maneira, é essencial encontrar um equilíbrio entre a proximidade do emprego e a acessibilidade financeira. Diminuir o tempo de deslocamento pode proporcionar vantagens significativas, como mais tempo para atividades de lazer, descanso e convívio com a família.

No entanto, essa mudança também pode impactar outras áreas da vida de forma nem sempre positiva. Por exemplo, mudar para um novo bairro pode exigir adaptações na rotina diária, integração em um novo ambiente social e possíveis gastos adicionais, como um aumento no valor do aluguel em áreas mais próximas dos centros urbanos. 

Dessa forma, ao analisar a chance de diminuir o tempo de locomoção, é essencial ponderar de forma minuciosa os pontos positivos e negativos, levando em consideração o impacto que essa alteração terá em diversos aspectos do cotidiano, tais como laços familiares, financeiros e sociais. Manter um equilíbrio entre a proximidade do emprego e outros fatores significativos pode ser fundamental para conquistar uma melhor qualidade de vida de modo geral. 

O estresse pode ser um indicador de que algo não está correndo bem, seja no trabalho ou em casa, e os desgastes dos trajetos diários podem piorar a situação. As horas investidas nesses deslocamentos podem ocasionar um sentimento de tempo perdido, especialmente em situações de trânsito complicadas, como os frequentes congestionamentos. 

Ademais, passar tanto tempo em transporte público ou no carro pode levar à sensação de isolamento ou solidão, devido à falta de interações significativas com outras pessoas. Dito isto, essas longas jornadas podem impactar negativamente a saúde física e mental, contribuindo para o cansaço, a irritabilidade e até mesmo problemas de sono. 

É importante reconhecer o valor do tempo e considerar maneiras de tornar o deslocamento mais eficiente e menos estressante sempre que possível. Isso pode incluir a busca por rotas alternativas, o uso de transporte público, ou até mesmo a possibilidade de se trabalhar remotamente em alguns dias da semana, se for uma opção viável. 

Portanto, para muitos trabalhadores, morar próximo ao local de trabalho pode ser uma escolha estratégica que não só reduz o estresse e os atrasos relacionados ao deslocamento, mas também oferece a oportunidade de aproveitar melhor o tempo livre e melhorar a qualidade de vida em geral, uma vez que ao aproveitar ao máximo o tempo livre disponível, as pessoas têm a oportunidade de desfrutar de uma vida mais equilibrada, satisfatória e gratificante. 

* Rosana Pedrosa é coordenadora de Coleta de Dados na Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pesquisadora do Observatório das Metrópoles - Núcleo São Paulo 

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

 

Edição: Martina Medina