Europa

Eleições legislativas deste domingo na França definem força da extrema direita no país

Pesquisas divulgadas na véspera apontam que partido de Le Pen não alcança maioria parlamentar absoluta no segundo turno

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Manifestantes seguram cartazes com caricaturas do líder de extrema-direita Jordan Bardella, um deles diz: "Oh Hitler, como você tem dentes longos" - ARNAUD FINISTRE / AFP

O segundo turno das eleições legislativas franceses deste domingo (7) definem a força da extrema direita no país. Apesar de ter alcançado o maior número de votos no primeiro turno, no domingo passado (30/6), o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) liderado por Marine Le Pen e Jordan Bardella não devem, segundo pesquisas de  intenção de voto, conquistar a maioria absoluta na Assembleia.

Caso as pesquisas se confirmem, o pleito podem impossibilitar a formação de um governo composto pela extrema direita junto a uma grande coligação entre esquerda, a Nova Frente Popular (NFP) e liberais. Com a recusa do partido de esquerda França Insubmissa (FI) em participar de qualquer governo em coligação com o RN, ambos partidos teriam votos suficientes para derrubar o governo com moções de censura interpostas na Assembleia.

"Nunca tivemos uma eleiçao tao incerta com três blocos politicos polarizando o eleitorado francês", aponta a cientista política francesa Florence Poznanski. Segundo ela, caso a extrema direita não alcance a maioria absoluta a questão de como se comportarão as possíveis maiorias técnicas permanece incerto. "Há gente falando de possíveis alianças entre governistas e os partidos de esquerda socio-democraticos, mas tudo vai depender das forças de cada bloco. Eu acho pessoalmente muito difficil o Nova Frente Popular (NFP) conseguir impor sua agenda nessa conjuntura."

O crescimento do RN, ancorado em um programa nacionalista, contra os imigrantes, com perseguição ao islamismo e retrocessos na área ambiental, gerou uma reação nos partidos de centro e esquerda que se unificaram em uma campanha para frear o avanço da extrema direita. Esquerda e a base governista construíram uma "frente republicana" para barrar a chegada ao poder do RN que implica na retirada do candidato "republicano" com menos chances para o segundo turno, em cenários onde candidatos das duas alianças disputam com a ultradireita.

Para Poznanski,a tatica de desistencia entre a Nova Frente Popular (NFP) e a base governista deve contribuir para reduzir a probablilidade do RN alcançar a maioria absoluta, mas o cenário "ainda está muito incerto".

"Isso vai depender da adesão do eleitorado às propostas de apoio. A expectativa de participaçao eleitoral parece aumentar em relaçao ao segundo turno, o que pode ser favoravel. Mas já analisamos no primeiro turno que a baixa abstençao tem favorecido também a extrema direita."

Apesar e consierar que a tática de desistência para um fronte republicano ter funcionado "razoavelmente bem" , ela aponta que permanecem disparidades no processo. "Nas triangulares,  a esquerda desistiu sempre quando cerca de 30 candidatos da base governista ou de direita decidiram ficar e isso aconteceu pincipalmente com candidaturas da França Insubmissa, mas não só.O fato da FI ter sido taxada por todos os setores do centro e da direita de anti-republicano é um sinal muito grave do rompimento dos fundamentos democraticos que vai deixar graves sequelas no futuro", alerta. 

Na sexta-feira (5), a poucas horas do término da campanha para o segundo turno, a pesquisa OpinionWay apontou que a extrema direita e seus aliados obteriam entre 205 e 230 vagas na Assembleia Nacional,  longe dos 289 assentos necessários para a maioria absoluta no plenário de 577 parlamentares. Cenário semelhante foi apontado pelo instituto Odoxa, onde o RN aparece com 210 a 250 cadeiras.

As pesquisas contradizem as declarações de Marine Le Pen na quinta-feira (4), que afirmou que seu partido e aliados ainda teriam condições de conquistar a maioria absoluta, apesar dos acordos entre esquerda e liberais para frear a chegada do RN ao poder, o que representaria a primeira vez que a extrema direita chega ao poder no país desde a libertação da França da Alemanha nazista. 

"Acredito que ainda há capacidade para ter uma maioria absoluta se o eleitorado fizer um último esforço para conseguir o que quer", declarou Le Pen em uma entrevista àrede BFMTV, a três dias do segundo turno.

A Nova Frente Popular de esquerda, que reúne socialistas, ecologistas, comunistas e candidatos da França Insubmissa, sigla de esquerda radical, aparece em segundo lugar nas duas pesquisas: com 145 a 175 deputados segundo a OpinionWay e com 140 a 180 deputados na pesquisa divulgada pela Odoxa.

O partido centrista do atual presidente Emmanuel Macron aparece em terceiro lugar nas duas sondagens. Segundo a pesquisa OpinionWay o campo presidencial poderia conquistar entre 130 e 162 vagas na Assembleia Nacional, contra 250 antes da dissolução. Na pesquisa Odoxa, o bloco de centro aparece com 115 a 155 assentos.

Raí enérgico

Além da mobilização legislativa, organizações políticas e sindicatos realizaram uma mobilização nacional na quarta-feira (3) contra o partido de Le Pen, que contou com a participação de  Raí, ex-jogador do PSG que vive na França. "Aqui é a França, a África, e todas as cores, e o respeito a todas as cores. É a República, a Democracia, a generosidade, a fraternidade e a resistência aos racistas! É a resistência aos fascistas. Não deixem de votar meus amigos franceses", convocou o ex-jogador durante o protesto na Praça da República na capital, Paris.

“Conheço bem a extrema direita e mentir é aquilo que eles fazem de melhor. Eu os conheci no poder", disse o ex-jogador sobre a experiência vivida pelo Brasil sob quatro anos do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, hoje inelegível e investigado por tentativa de golpe de Estado. Raí definiu esse período  como "quatro anos de misoginia, de homofobia, preconceito, milhares de mortos e desmatamento".

"A extrema direita é o fim do mundo, dos direitos humanos e da humanidade. A extrema direta é o ódio. Onde eles querem o ódio, vamos lutar com paixão e amor. Onde eles querem a repressão, resistiremos com liberdade. Onde eles querem a censura, a mentira e a ignorância, vamos usar a ciência, a mobilização, a cooperação, a arte, a música e a dança. Às armas, cidadãos", disse o ex-jogador citando o hino francês, a Marselhesa.

*Com RFI

Edição: Rodrigo Durão Coelho