CHEGARAM LÁ

China faz história e torna-se o primeiro país a trazer amostras do lado oculto da Lua  

Avanço importante fez Nasa abrir exceção e cooperar com programa espacial chinês

Brasil de Fato | Pequim (China) |
Cápsula de retorno da sonda Chang'e 6 na bandeira de Siziwang, Região Autônoma da Mongólia Interior, norte da China. - Bei He | Xinhua

A sonda chinesa Chang'e-6 pousou na Terra na última terça-feira (25), trazendo de volta as primeiras amostras coletadas do lado oculto da lua na história. A Chang'e-6, missão sem tripulação da Administração Espacial da China, partiu em 3 de maio, totalizando 53 dias de jornada.

Esse hemisfério lunar praticamente não é visto da Terra, apenas 18% de sua área, em determinadas épocas do ano. Apesar de ser chamado de "o lado escuro", o hemisfério recebe praticamente a mesma quantidade de luz solar que o outro. A comunicação por rádio nessa parte da Lua é difícil, o que desestimulou missões tripuladas. 

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, disse que a missão da Chang'e-6 abriu um novo capítulo na exploração lunar. Ela falou que o país se dispõe a “trabalhar com parceiros internacionais que pensam da mesma forma para explorar o espaço sideral, (...) e a continuar a lutar pelo uso pacífico do espaço sideral, uma causa comum de toda a humanidade".

A Chang'e-6 foi uma missão complexa. As etapas incluíram o envio da sonda ao espaço e a chamada frenagem próxima à Lua, para colocá-la na sua órbita. Os comandos foram retransmitidos pelo satélite Queqiao-2, que fizeram com que o módulo de pouso e ascensor pousassem na cratera chamada Bacia Polo Sul-Aitken.

No dia 4 de junho, o módulo ascendente decolou da Lua com amostras para a órbita lunar. Dois dias depois se acoplou ao chamado módulo orbitador-retornador e transferiu as amostras ao retornador, a sonda que voltou à Terra. O ascendente foi desacoplado e voltou à Lua para não se tornar lixo espacial.

O orbitador-retornador passou mais 13 dias na órbita lunar, esperando o momento adequado para empreender a viagem de volta. O lado oculto também possui mais montanhas e crateras em comparação com o lado visível da Lua, tornando a missão mais difícil. 

A exploração lunar chinesa completou 20 anos em 2024. Em 2007, a China enviou a Chang’e 1, que ficou durante 16 meses orbitando a Lua e conseguiu realizar o mapa em 3D de mais alta resolução da superfície lunar.

Boicote dos EUA

Em 2020, a versão anterior desta sonda, a Chang'e-5, conseguiu trazer 1.731 gramas de amostras do lado visível da Lua. Até hoje, as amostras foram disponibilizadas para 114 equipes de pesquisa científica.

Essa missão trouxe as amostras de basalto lunar mais jovens já obtidas por humanos, um novo mineral lunar chamado Chang'e, e vestígios que sugerem a presença de água pelo vento na Lua, em Mercúrio e asteróides. Esse último estudo foi publicado na revista científica Nature.

O avanço foi tão significativo que os Estados Unidos abriram uma exceção e cooperar com o programa espacial da China. Em 2011, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma lei que proibia a NASA de cooperar com o governo chinês e as suas agências. A emenda Wolf (como ficou conhecida, por ser de autoria do congressista republicano Frank Wolf) teve como consequência o banimento da China da Estação Espacial Internacional (EEI).

Mas desta vez a NASA recebeu autorização para estudar as amostras lunares coletadas pela Chang’e 5, que a China ofereceu à comunidade científica internacional para fins de pesquisa.

Imaginário

Além dos avanços científicos, a missão foi significativa em termos simbólicos. O nome "lado escuro da Lua" se refere ao desconhecido e inspirou inúmeras manifestações culturais. O escritor Julio Verne descreve uma viagem ao hemisfério no romance À Volta da Lua e o monolito do filme 2001, uma Odisseia no Espaço teria sido encontrado por lá.

Frequentemente associado ao oculto e misterioso, o termo ganhou projeção mundial ao batizar o álbum mais famoso da banda inglesa Pink Floyd, em 1973.
 

 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho