O Pantanal tem sofrido intensamente com as queimadas neste ano. Considerando o período de janeiro até 17 de junho, os focos de incêndio no bioma aumentaram 1.500% de 2023 para 2024, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Fazendo um recorte apenas do mês de junho, foram registrados 1.434 focos de incêndio do dia 1º ao dia 18. A quantidade é muito maior que o registrado também em junho de 2020, ano que teve queimada recorde no Pantanal. Foram 406 focos de incêndio no mês naquele ano.
Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil, diz que há uma dinâmica natural de queimadas no Pantanal, com o fogo sendo utilizado muitas vezes, por exemplo, para a renovação da vegetação, adaptada ao sistema. Mas pontua que a dinâmica observada atualmente, com os registros crescentes, é diferente.
"O que a gente tem hoje é uma dinâmica diferente por causa das secas e espaços de interferência do clima, que está muito mais seco com menos chuvas e menos umidade relativa do ar, que provocam uma intensidade maior de ameaças de focos de fogo, de incêndio na região, que podem ter um descontrole devido a esses elementos todos atualmente", explica.
Como resposta à situação preocupante, os governos dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde o Pantanal está presente, anunciaram investimentos e a proibição do uso do fogo em propriedades.
Para além do motivo climático, o avanço atual das queimadas também pode ser explicado pela exploração do agronegócio na região, segundo Cyntia.
"A gente precisa lembrar que o Pantanal é um bioma altamente interdependente do Cerrado e da Amazônia. Está inserido na bacia do Alto Paraguai e essa configuração coloca ele numa planície muito abaixo do que estão o Planalto ali em cima no Cerrado, onde estão as cabeceiras, nascentes de água do Pantanal, onde a gente tem também a grande dinâmica com muito mais velocidade na transformação do uso do solo por atividades econômicas, caso da agricultura, pecuária, mineração e outras tantas que alteram muito rapidamente a dinâmica do solo e suprimem a vegetação nativa", conta.
Ela explica que as cabeceiras do Pantanal contribuem para que as águas, no momento das chuvas, de dezembro a março, tenham fluidez e façam a dinâmica de secas e cheias. "Aliado a isso, a gente tem a dinâmica da Amazônia, toda a ciência mostrando a teoria dos rios voadores, que é responsável pelo nível de pluviosidade que vai circulando no país e isso também afeta a Planície Pantaneira. Essas dinâmicas, uma vez alteradas, e essa mudança muito rápida, nos últimos 15 anos, prejudicam direta e indiretamente. Então, a gente tem o resultado que a gente tem visto: rios assoreados, diminuição e comprometimento das nascentes."
A analista de conservação do WWF-Brasil, que tem participado de diálogo sobre o tema com governos, fala ainda do que precisa ser feito para conter o alto índice de queimadas no bioma.
"O olhar precisa ser de muito planejamento porque existe a resposta emergencial que a gente precisa tomar quando está com fogo. As medidas precisam ser tomadas, precisa ter brigadistas nos lugares, equipamento, acesso da água no lugar com intervenções. A gente sabe que a dinâmica do Pantanal, em termos de logística, é muito diferente: muitas áreas isoladas, difíceis de chegar", ressalta Cyntia.
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quarta-feira (19) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Edição: Martina Medina