Nos lugares da Europa onde as medidas de proteção social permaneceram, o fascismo não avançou
Olá!
O fascismo raiz é o europeu, mas é fichinha perto das bancadas da bíblia, da bala, do boi e da Bovespa.
.Direita, volver! Enquanto o governo se debate para manter alguma influência sobre as votações no Congresso, a economia e as relações externas não trazem alento. Apesar da relativa estabilidade nas previsões de crescimento para este ano, que se mantém em torno de 2,09%, os efeitos da crise no Rio Grande do Sul já começam a ser sentidos, especialmente na inflação dos alimentos. E isso vai consolidando no mercado a visão de que o tempo de cortes na taxa básica de juros acabou, o que pode comprometer os planos do governo na área econômica. Além disso, parece ter acabado o tempo em que as viagens de Lula ao exterior eram uma forma de desviar a atenção dos problemas domésticos. Agora, em giro pela Europa para participar do encontro do G20 e do G7, o que aguarda o presidente é uma montanha de conflitos onde o Brasil não tem espaço para se apresentar como mediador eficaz. É o caso da nova escalada do ocidente contra a Rússia e do genocídio em Gaza. A própria Europa onde Lula desembarca já não é mais a mesma depois da vitória retumbante da extrema direita no Parlamento Europeu, que enfraqueceu figuras como o presidente francês Emmanuel Macron e o chanceler alemão Olaf Scholz, e enfraquece também os organismos multilaterais. E o cenário está em suspenso até que se resolvam as eleições nos Estados Unidos, que podem levar Trump de volta ao poder. A lição que fica para Lula das eleições europeias é que, onde as medidas de proteção social e redução das desigualdades permaneceram, o fascismo não avançou. Por isso, a insistência do presidente brasileiro em taxar as grandes fortunas em escala internacional também faz sentido e tem conotações políticas, mas ainda está muito longe de se realizar.
.Pé no Brasil. Uma das lições que Lula e o governo deveriam extrair do Congresso e das eleições europeias é que o discurso de paz e amor, reconstrução e unidade nacional tem pouca efetividade - pra não dizer nenhuma - quando o inimigo é a extrema direita. E o preço de manter uma base aliada na direita é bem maior que os benefícios, vide o caso do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, do União Brasil. Animados pelas sucessivas derrotas impostas ao governo nas últimas semanas, as bancadas conservadoras já entenderam que o Planalto não tem resposta e não sabe o que fazer quando as pautas são morais ou de segurança pública. No caso da criminalização do porte de drogas, o PT deve votar contra, mas o governo vai liberar as bancadas da “base governista”, já torcendo para que a aprovação não seja contabilizada entre as novas derrotas. A mesma orientação deve ser dada na votação do projeto que criminaliza o aborto e no fim das delações premiadas de presos. Bom para a direita, não tão bom para o governo, mas péssimo para quem é afetado por estes projetos, como a juventude mais pobre e as mulheres. Independente do resultado, as bancadas conservadoras já perceberam que essa é uma estratégia eficiente para desgastar e emparedar Lula, como se vê pelas declarações da bancada evangélica sobre o projeto de criminalização do aborto. Quem também sabe disso é Arthur Lira, que acelerou a tramitação de todos os projetos, acenando para o bolsonarismo com uma mão, e chantageando o governo com a outra. Se o conteúdo da extrema direita é questionável, o que dizer do método? Vale tudo - gritar, agredir, mentir - desde que o resultado final seja um vídeo lacrador nas redes sociais. A busca pelo canavial de likes e nenhuma civilidade resultou até agora em 133 ocorrências de violência política dentro do Congresso, sendo que o último episódio fez a deputada Luiza Erundina parar na UTI semana passada, e também foi usado como desculpa para o presidente da Câmara ampliar seus próprios poderes em nome da ordem. “Armas, dinheiro, religião e poder. O projeto de futuro da extrema direita para o Brasil segue popular, mesmo sem a presença histriônica de Jair Bolsonaro” resume o jornalista Bruno Paes Manso. Aliás, a pesquisa da Fundação Friedrich Ebert revela que, para os próprios bolsonaristas, o projeto já tem vida própria para seguir sem o capitão Jair.
.Nada de novo. E não durou nem uma semana a justificativa do centrão de que não votaria com o governo nas pautas conservadoras, mas estaria junto nas pautas econômicas. A Medida Provisória que mudava a compensação do PIS/Confins foi enviada ao Congresso para recuperar as perdas de uma derrota anterior do Planalto, a desoneração da folha de 17 setores. No entanto, o recado histérico das confederações da Indústria e da Agricultura foi bem claro: o governo deve cumprir a meta fiscal, mas não cortando na carne do andar de cima. A chiadeira foi suficiente para o Senado devolver a MP sem nem começar a tramitar. Para completar o estrago, as bancadas conservadoras, a grande mídia e o mercado já escolheram o que deve ser cortado para garantir o arcabouço fiscal: acabar com as obrigações orçamentárias para saúde e educação e desvincular benefícios do INSS do salário mínimo. Em outras palavras, mandaram o governo cortar no andar de baixo. E a ideia de que o ajuste fiscal por aumento da arrecadação está se esgotando e chegou a hora de apertar os cintos tem adeptos dentro do próprio governo. A outra derrota da semana foi a suspensão do leilão para compra de arroz, para compensar a perda da safra com as enchentes gaúchas. A medida era criticada pelo agronegócio, que pretendia ganhar com a especulação dos preços novamente, como já havia feito na pandemia. E, que coincidência, o leilão foi anulado porque uma das empresas vencedoras tinha como sócio o filho de um dos quadros do agronegócio no Ministério da Agricultura, o ex-deputado Neri Geller. Apesar de tudo, o Planalto ainda tem esperanças de aprovar no primeiro semestre medidas positivas, como a redução da conta de luz e o programa de empréstimos para pequenas empresas e pessoas de baixa renda, além da regulamentação da reforma tributária.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.México: clima é trunfo e desafio para presidenta Claudia Sheinbaum. Na Agência Pública, como a presidenta eleita do México pode assumir a vanguarda na luta ambiental.
.Para derrotar direita, esquerda precisa enfrentar desafios com novo projeto de sociedade. No Brasil de Fato, Anderson Barreto analisa a conjuntura de ascensão da extrema direita na Europa.
.‘O Congresso é a expressão política do negacionismo’. No Brasil de Fato, o editor do De Olho nos Ruralistas explica como funciona e o que pensa a bancada ruralista.
.“O governo no está fazendo nada na reforma agrária. É uma vergonha”. João Pedro Stédile, do MST, faz o balanço das políticas agrárias do governo Lula.
.Como estão as mulheres desabrigadas no Rio Grande do Sul. A Agência AzMina colhe testemunhos do dia-a-dia das mulheres nos abrigos da enchente gaúcha.
.O sentido da revolução em Clóvis Moura. A Jacobin recupera o legado imprescindível do historiador Clóvis Moura para a luta popular.
.Ciência Suja. No segundo episódio do Podcast, como as mineradoras de Minas Gerais viabilizam seus empreendimentos com técnicas para driblar a lei.
.O futebol, a Copa do Mundo e a luta palestina. Na newsletter Tarkiz, José Antônio Lima escreve sobre a preparação da Palestina para a Copa do Mundo de futebol masculino.
.Vinha de Portugal e já sabia do tamanho do Brasil. Na Jacobin, Juliane Furno presta sua homenagem à professora Maria da Conceição Tavares, que nos deixou na última semana.
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Nome: Instituto Brasileiro de Solidariedade
*Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
**Este é um texto de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Rodrigo Chagas