É comum ouvir de quem tem uma visão limitada de urbanismo que o Greca é um grande prefeito. Greca é, na verdade, um marqueteiro brilhante. O talento para construir narrativas é genuíno e vemos isso em suas políticas. Talvez o programa que represente melhor sua essência seja o Natal de Curitiba — Luz dos Pinhais. Pouco custoso, lucrativo, popular, um sucesso. O programa é bom.
Mas no urbanismo, são outros quinhentos. Greca é um pastiche bem-sucedido de Lerner, mas ainda um pastiche. Diferente de Lerner, que foi urbanista, Greca é um zelador.
Nas décadas de 60 e 70, tivemos a formatação de um projeto inovador que moldou nossa cidade — eixos estruturais de verticalização e adensamento, servidos de transporte público coletivo, paisagismo nos parques e áreas verdes associado a drenagem. Esse projeto está esgotado, mas já não fazemos planejamento urbano.
Há cada ano o IPPUC se aproxima mais de um instituto de design de mobiliário e de desenho arquitetônico, sem pesquisa, sem planejamento. Como resultado, hoje temos uma política de urbanização cênica. Greca monta cenários, mas não ofereceu nesses anos nenhuma solução para problemas estruturais da cidade. Nenhuma inovação de projeto de cidade.
Na verdade, a concepção de urbanismo nesses oito anos de governo talvez possa ser sintetizada em uma palavra: binários. O binário é a antítese da rua, é antítese da XV de novembro e da briga com os carros comprada por Lerner em 1972. O binário é antítese da inovação no urbanismo, que hoje passa justamente por pensar fora da caixa automotora e pensar a questão ambiental para o centro da formulação urbana.
Em urbanismo, talvez Greca fosse inovador em 1950.
Mas chegando no tema da Arthur Bernardes, aprendi com a Cynthia Werpachowskki que, na década de 80, existiu um projeto, criado por Lerner, que em algumas maternidades de Curitiba, a cada bebê nascido as mães ganhavam uma muda para plantar uma árvore na cidade.
Muitas delas foram plantadas, justamente, no eixo da Arthur Bernardes e hoje estão ameaçadas pelas obras do Inter 2. Sobre esse projeto, não se enganem com a perfumaria do teto solar do terminal. Na prática, o projeto anunciado para o transporte público coletivo continua mirando ao grande sujeito do urbanismo do século 20 — o carro. E nesse ponto, não há via rápida que resolva o problema do trânsito, porque binário nenhum vai tirar carro da rua. Então, é sempre bom lembrar: estamos no século 21.
*Mariana Marques Auler, advogada, doutora em políticas públicas e militante pelo direito à cidade.
**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Pedro Carrano