Neoindustrialização

Governo brasileiro quer diversificação na relação comercial com China e celebra empréstimo bilionário

Brasil pautou as recentes iniciativas de industrialização, como o Novo PAC, durante viagem da delegação à China

Brasil de Fato | Pequim (China) |
Presidente chinês Xi Jinping e vice-presidente Geraldo Alckmin em reunião no Grande Salão do Povo acompanhados de vários de seus ministros. 7 de junho de 2024 - Mauro Ramos

O governo brasileiro quer estimular a diversificação na relação comercial com China e celebrou ter conseguido mais de R$ 24,6 bilhões em empréstimos.

A soma, fechada com bancos chineses, como o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) e o Banco de Exportação e Importação da China (Eximbank), e internacionais como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) e o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), presidido por Dilma Rousseff ocorreram durante a sétima Sessão Plenária da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação, a Cosban, que marca os 20 anos do mecanismo de diálogo e os 50 anos das relações Brasil-China.

O Banco de Desenvolvimento da China acordou três empréstimos: com o BNDES, para infraestrutura (R$ 4 bi) e outras ações de investimentos (R$ 3,6 bi); e R$ 2,5 bi para o Banco do Brasil, para o "aprofundamento da cooperação pragmática entre Brasil e China", segundo o governo.

BAII e BNDES assinaram uma carta de intenção para aprofundar a cooperação entre as duas instituições, o que significará um empréstimo de US$ 250 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) para energias renováveis, logística e mobilidade urbana e outros.

O BAII também assinou um acordo com o Ministério da Fazenda, para fornecer empréstimos (no valor do equivalente a R$5 bi), para apoio emergencial ao Rio Grande do Sul, visando sobretudo infraestrutura.

O Eximbank concederá empréstimos no valor de R$ 2,5 bilhões ao Banco do Brasil para apoio ao comércio exterior.

Já o NDB formalizou o compromisso anunciado por Rousseff no mês passado de destinar o equivalente a R$ 5,7 bilhões para a reconstrução da parte atingida do Rio Grande do Sul (veja o detalhamento aqui).


Vice-presidente Geraldo Alckmin e presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff, mostram carta-compromisso de R$ 5,7 bilhões do NDB para reconstrução do Rio Grande do Sul / Mauro Ramos

A delegação liderada pelo também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, e integrada por mais seis chefes de pastas do governo Lula, enfatizou que a parceria comercial com a China deve se diversificar e entrar em sinergia com as iniciativas de retomada da indústria por parte do governo Lula.

Em uma das entrevistas coletivas feitas em Pequim, Alckmin afirmou que a aposta é diversificar a relação econômica entre os dois países: "Nós vamos diversificar, ele é muito [concentrado] em soja, petróleo, minério de ferro, agora também crescendo bastante carnes. O objetivo é, de um lado, atrair investimento, investimentos recíprocos, e muitos investimentos chineses no Brasil, e nós queremos mais investimentos aí, inclusive na área industrial." 

O Secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC, Uallace Moreira, avaliou que a sétima reunião da Cosban avançou nas "possibilidades de aliança entre esses dois países pra fortalecer sistema inovacional e fortalecer, avançar em estruturas produtivas altamente complexas tecnologicamente"

Moreira afirmou que todas as conversas e negociações do vice-presidente e do ministro da Casa Civil foram no sentido de mostrar "que o Brasil tem um plano estratégico de retomada do papel da indústria no crescimento econômico e no desenvolvimento econômico brasileiro" 

Exportação do café e o papel da agricultura familiar

Na área agrícola, o governo celebrou o acordo feito para venda de 120 mil toneladas de café no valor de cerca de US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões), para a rede de cafés da China Luckin Coffee, que em 2023, superou a multinacional Starbucks em valor de vendas no país. 

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, falou sobre o que representa o valor do acordo para o Brasil. "Para se ter uma noção do tamanho da evolução deste mercado: há três anos atrás toda a China comprava US$ 80 milhões (R$ 428 milhões) em café. Em 2023, foram US$ 280 milhões (R$ 1,4 bi). E agora só essa empresa compra US$ 500 milhões (R$ 2,6 bi)". Ao todo segundo Fávaro, as exportações de café para China chegarão aos US$ 800 milhões anuais (R$ 4,2 bilhões). 

A agricultura familiar é responsável por 48% da produção do café no Brasil, segundo o Censo Agropecuário. Alckmin defende que o país precisa apoiar os pequenos produtores, através de entidades como o BNDES e a Apex: "o grande vai meio sozinho, mas o pequeno [produtor] você precisa apoiar, fazer feiras, trazer compradores". "Isso é muito importante porque o café é uma alternativa para o pequeno produtor. Você não precisa ter mil hectares de terra pra produzir café. Ele é uma alternativa boa de renda para a agricultura familiar, para o pequeno agricultor [que produz] café orgânico", disse o vice-presidente. 

A sétima plenária da Cosban assinou 8 instrumentos intergovernamentais e teve mais 29 resultados (leia aqui). Entre eles, memorandos de entendimento para a construção conjunta de um satélite geoestacionário meteorológico e para cooperação em Políticas Públicas para Micro e Pequenas Empresas. 

No último dia da visita oficial, Alckmin se reuniu com o presidente chinês Xi Jinping, no Grande Salão do Povo, onde destacou o combate à pobreza feito no país asiático.

"A China é para nós inspiradora, um país que em 40 anos retirou da pobreza quase 800 milhões de pessoas, um feito único no mundo. E o presidente Lula tem como compromisso, o desenvolvimento inclusivo, ajudar a população a melhorar a sua qualidade de vida, o desenvolvimento sustentável, com atenção e combate às mudanças climáticas e o desenvolvimento com estabilidade e previsibilidade."

Edição: Rodrigo Durão Coelho