Coluna

A indiscreta mesquinhez da burguesia

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"A mesquinharia da direita vai além de privatizar praias, escolas e desmontar leis ambientais"; inclui "sabotagem à importação de arroz", "tudo em nome do livre direito de especular com a fome alheia" - Foto: Katia Marko
A crise no RS tornou-se desculpa perfeita àqueles que veem o copo meio vazio darem o último gole

Olá!

Para o mercado e seus serviçais, toda crise é uma oportunidade para ganhar mais.

.O último gole. Os resultados econômicos do primeiro trimestre do ano, divulgados pelo IBGE esta semana, vieram com uma sensação de nostalgia. O crescimento de 0,8% no PIB foi além das expectativas do mercado e, se mantido nos próximos meses, poderia representar um crescimento de 2,5% até dezembro, um resultado nada desprezível. Outros pontos positivos foram o aumento do consumo das famílias, a redução do desemprego, a desaceleração da inflação e um crescimento puxado não só pelo agronegócio, mas também pelo setor de serviços. O problema é que a crise no Rio Grande do Sul mudou tudo, jogando todas as expectativas lá pra baixo e tornou-se a desculpa perfeita para aqueles que veem o copo meio vazio darem o último gole. A mesquinharia da direita vai além de privatizar praias, escolas e desmontar leis ambientais. Ela inclui também a sabotagem à importação de arroz pelo governo federal para evitar o desabastecimento, tudo em nome do livre direito de especular com a fome alheia. Ao mesmo tempo, e apesar do desempenho da economia no primeiro trimestre, o mercado já precificou o clima de crise e fala em aumento da inflação e fim do ciclo de queda da taxa de juros, o que significa mais austeridade e dinheiro para os bancos, contrariando inclusive a visão de investidores externos. Como não poderia deixar de ser, o presidente do Banco Central, Campos Neto, papagaiou inadvertidamente a visão de seus chefes, causando alvoroço no mercado, elevação do dólar e especulação na bolsa. O movimento foi tão escancarado que obrigou o Ministério Público a entrar em campo, acionando o Tribunal de Contas da União para investigar se o Boletim Focus, que mede a “temperatura” do mercado, foi utilizado com alarmismo calculado. Nada disso, no entanto, intimida Campos Neto, que ainda pretende deixar como legado a autonomia financeira do Banco Central, leia-se, formalizar o “quem paga a banda escolhe a música” que já corre solta. 

.Tudo será como antes. Apesar das sucessivas derrotas no Congresso nas últimas duas semanas, nada deve mudar na relação entre o Planalto e o Parlamento. Esse foi o recado da primeira reunião semanal do grupo de articulação política do governo com a presença de Lula, uma prática que o presidente tinha nos mandatos anteriores, mas que sabe-se lá porque não havia adotado ainda nesse. Publicamente, os ministros e parlamentares minimizaram as derrotas como “já esperadas”, argumentando que o governo não está "sendo derrotado naquilo que é essencial”, segundo Alexandre Padilha. A estratégia continua sendo ignorar as pautas conservadoras e insistir na economia, como resumiu Randolfe Rodrigues. Faz sentido, mas elas não são tão irrelevantes assim, como comprova o projeto que equipara o aborto ao homicídio e o que criminaliza o porte de drogas, dois carros-chefes da próxima investida da extrema-direita contra o governo, e é claro, a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro. A lógica de liberar emendas para garantir o apoio parlamentar também não tem sido muito eficiente. O governo pagou R$7,5 bilhões de emendas antes das derrotas de maio. E também não adianta cobrar os ministros do centrão. Segundo eles, fazer parte da base governista só conta para os temas econômicos, nos demais, estão todos livres para votar como quiserem. Além disso, o Planalto precisa lidar sempre com os humores de Arthur Lira. Depois de levar uma rasteira do seu próprio grupo político na disputa da Prefeitura de Maceió, Lira resolveu ameaçar o governo, exigir solidariedade na derrota e quase prolongar a novela da taxação das “blusinhas”. Também afeta o humor do coronel alagoano o tempo que corre contra ele para ungir um sucessor e o medo de que sua influência possa ser reduzida depois das eleições municipais. Aliás, é exatamente este o desejo dos menos quistos pelo atual presidente da Câmara, enquanto o seu favorito, Elmar Nascimento (União Brasil - BA), também ensaia voos solos, fechando acordos com o PSB, sondando Zé Dirceu e se comprometendo com a anistia de Bolsonaro.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Nora Cortiñas (1930-2024). A Terra é Redonda homenageia a madre da praça de maio que nos deixou e mostra a atualidade de sua luta.

.Por que o projeto progressista de Obrador funcionou no México e quais os desafios agora? Transição energética, mudanças climáticas e violência devem ser os principais desafios da presidenta Claudia Sheinbaum.

.Aprendendo com o México. A Opera Mundi desvenda os segredos do sucesso do governo de López Obrador: enfrentar a correlação de forças.

.Como a PM da Bahia virou uma máquina de matar? Com os maiores índices de violência policial, a Bahia vive um paradoxo na segurança pública. Na Piauí.

.Caso Miguel completa 4 anos sem conclusão: “tortura grande”, diz mãe. Ou mais um exemplo de como a Justiça tem classe e cor. Na Carta Capital.

.Associação comandada por bolsonarista lucra milhões com projetos de escola cívico-militar. Na Carta Capital, a associação comandada pelo capitão Davi Lima Sousa do PL que já lucrou R$11 milhões no governo Tarcísio.

.Como surgem e se espalham os projetos de lei contra LGBTQIA+ no Brasil. A Diadorim analisa o modus operandi por trás da criação e disseminação de leis homofóbicas. 

.Armas para o fim do crime: como discursos da “Bancada da Bala” influenciaram opinião de brasileiros. Como o argumento de que o Estado é incompetente e as armas privadas são a solução  alimentaram os projetos da Bancada da Bala. No Jornal da USP.

.Espere até ouvir estes novos álbuns de protesto. No Espaço Antifascista, uma seleção das melhores músicas de protesto na Inglaterra em 2024.

.O rio só quer passar. Assista ao documentário do Brasil de Fato sobre a catástrofe climática no Rio Grande do Sul.

 

Contribua com o socorro do MST às famílias atingidas pela enchente do Rio Grande do Sul:

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Nome: Instituto Brasileiro de Solidariedade

 

*Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

**Este é um texto de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Rodrigo Chagas