GENOCÍDIO

Israel bombardeia escola da ONU em Gaza que abrigava refugiados e mata pelo menos 40, incluindo mulheres e crianças

Segundo o diretor da agência da ONU, escola abrigava 6 mil refugiados e coordenadas do prédio foram informadas a Israel

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Menina palestina observa enquanto pessoas verificam uma escola da ONU que abriga pessoas deslocadas atingida durante um bombardeio israelense em Nuseirat - Bashar TALEB / AFP

O Exército de Israel reivindicou nesta quinta-feira (6) o bombardeio contra uma escola em Nuseirat, na região central da Faixa de Gaza que provocou pelo menos 40 mortes, incluindo mulheres e crianças. Apesar das negociações para um cessar-fogo, os bombardeios e os combates continuam em Gaza, onde a maioria dos 2,4 milhões de habitantes foi deslocada e organizações humanitárias afirmam enfrentar fome generalizada. 

O diretor da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Philippe Lazzarini, afirmou que o bombardeio foi feito "sem aviso prévio" aos milhares de refugiados deslocados nas instalações, apesar de a agência ter comunicado às forças israelenses as coordenadas do edifício.

Segundo Lazzarini, a escola da agência abrigava cerca de 6 mil refugiados. “Atacar, visar ou usar prédios da ONU para fins militares é um flagrante desrespeito ao Direito Internacional Humanitário”, escreveu Lazzarini em um post no X. “A equipe, as instalações e as operações da ONU devem ser protegidas o tempo todo.”

"Cheiro de sangue"

Em postagem na rede social X, a coordenadora da ONG Médicos Sem Fronteiras em Gaza, Karin Huster classificou a situação como "insustentável".

"O cheiro de sangue na sala de emergências esta manhã era insuportável. Há pessoas deitadas por todos os lados, no chão, fora. Estão trazendo os corpos em sacos plásticos. A situação é insustentável."


Palestinos se despedem dos mortos no ataque israelense / AFP

Antes do último ataque em Nuseirat, o centro havia recebido desde terça-feira "pelo menos 70 mortos e mais de 300 feridos, em sua maioria mulheres e crianças, por bombardeios israelenses nas zonas centrais da Faixa de Gaza", afirmou a ONG.

Um porta-voz da ONG internacional Oxfam disse que “é uma vergonha que um cessar-fogo ainda não esteja em vigor e que [o Direito Internacional Humanitário] seja violado por Israel repetidas vezes com total impunidade”. “Dezenas de pessoas - incluindo crianças - foram massacradas enquanto dormiam”, disse.

“Os civis em Gaza devem ser protegidos e os líderes mundiais devem impedir Israel de continuar com essa carnificina e fornecer a cobertura política para que eles façam isso”, concluiu o porta-voz.

O Exército de Israel assumiu o bombardeio, alegando que o local abrigava uma "base do Hamas".

"Caças do Exército [...] realizaram um ataque preciso sobre uma base do Hamas situada no interior de uma escola da UNRWA na região de Nuseirat", diz comunicado do Exército israelense, que citou "vários terroristas mortos".

"Terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica [...] que haviam participado do ataque mortal contra as comunidades do sul de Israel em 7 de outubro operavam neste recinto", acrescenta o comunicado.

Perseguição política

A UNRWA, que coordena quase toda a ajuda para Gaza, ficou no centro de uma tempestade diplomática e à beira do colapso depois que Israel acusou, em janeiro, 12 de seus 13 mil funcionários em Gaza de envolvimento no ataque do Hamas em 7 de outubro que desencadeou a atual guerra.

A acusação levou vários países, incluindo os Estados Unidos, sua principal fonte de recursos, a suspender o financiamento à agência, o que prejudicou a entrega de ajuda a Gaza. Vários países retomaram posteriormente o financiamento.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediu nesta quinta-feira (6) uma investigação independente sobre o bombardeio. 

"Esta terrível notícia deve ser investigada de forma independente, de acordo com a última ordem da Corte Internacional de Justiça" (CIJ, órgão judicial máximo da ONU), disse Borrell na rede social X.

Negociações para cessar-fogo

Após oito meses de guerra, os mediadores Catar, Egito e Estados Unidos prosseguem com os esforços para obter um cessar-fogo, alguns dias após o presidente americano, Joe Biden, anunciar uma proposta de acordo que, segundo ele, foi idealizada por Israel.

A iniciativa contempla, em uma primeira fase, um cessar-fogo de seis semanas e a retirada israelense das áreas mais populosas de Gaza, a libertação de alguns reféns sob poder do Hamas e de prisioneiros palestinos detidos por Israel.

Segundo fonte próxima às negociações, na quarta-feira aconteceu uma reunião em Doha "entre o primeiro-ministro do Catar, o chefe da inteligência do Egito e o Hamas para discutir o acordo de trégua em Gaza e a troca de reféns e prisioneiros". Mas as exigências dos dois lados reduzem as esperanças de sucesso do plano. 

Israel afirma que pretende destruir o Hamas, no poder em Gaza desde 2007 e classificado como "organização terrorista" por Estados Unidos e União Europeia.

O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, reafirmou na quarta-feira que o movimento estudará de maneira "séria e positiva" qualquer proposta baseada no "fim completo" da ofensiva israelense, na "retirada total" israelense e em uma "troca dos prisioneiros".

*Com Al Jazeera e AFP

Edição: Leandro Melito