"Um desastre, como o que vivenciamos agora, deve ser analisado como uma situação de todo planeta. O nosso ambiente é um sistema único, e embora o dividamos geograficamente, é apenas uma questão de metodologia". A afirmação é do professor Antônio Soler, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em um debate on-line pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, promovido pelo Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Sindjus-RS), nesta quarta-feira (5).
Para o ambientalista, este desastre climático foi provocado por uma catástrofe política. “A Terra tem vários metabolismos, e ela é um sistema único, o que faz a vida na Terra ser viável é justamente o clima. E ele está entrando em colapso, em razão de incidência humana”, afirma. Ele pontua, no entanto, que não são todos os que provocam esses efeitos, e nem todos são impactados da mesma forma.
Segundo Soler, vivemos sob um modelo de sociedade baseado no consumo infinito que vai levar ao esgotamento da Terra. “É o capitalismo neoliberal, incompatível com a vida no planeta. Pois ele parte do pressuposto que vivemos em um sistema infinito, e o planeta é finito”, afirma. Ele acrescenta a esse cenário questões como uso especulativo da terra para a construção de cidades, ocupação de leitos de rios e a destruição de matas ciliares.
Para ele, a situação em que chegamos se deve a fenômenos naturais, mas eles têm se manifestado de uma forma diferente. “Na Eco92 já foram feitas as denúncias e se sabia que tínhamos que mudar este modelo de sociedade e de economia porque ele ia chegar ao colapso, porém nada foi feito”, lamenta.
Além de professor da UFPel, Antônio Soler é membro do Centro de Estudos Ambientais (CEA); e já foi membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Atualmente integra o Comitê Brasileiro para o Programa o Homem e a Biosfera da Unesco; a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional; o Comitê Nacional de Zonas Úmidas e o Conselho Municipal de Proteção Ambiental de Pelotas.
Bomba relógio
O professor explica que “o uso do solo associado às políticas neoliberais é uma bomba relógio, e isso está atingindo o Rio Grande do Sul como nunca antes, com quase 100% dos municípios impactados. É um número negativamente fantástico”.
Soler destaca que parte das causas tem a ver diretamente com o desmonte do Estado, como o fechamento da Fundação Zoobotânica, da Fundação de Economia e Estatística e do Programa Mar de Dentro. Ele aponta que eram setores do Estado que formavam pessoas capacitadas para enfrentar e prever estas catástrofes.
Negacionismo
O pesquisador responsabiliza os governos de Eduardo Leite (PSDB) e as prefeituras, mas também relembra as medidas negacionistas no governo de Jair Bolsonaro. “Negacionista por excelência e justificava este desmonte baseado em sua ideologia que justificava o lucro a qualquer preço."
Soler pontua projetos do governo do estado que contribuem para o desmonte da política ambiental. "Eduardo Leite apresentou um projeto na Assembleia Legislativa abrindo mão do bioma Pampa e outro facilitando a aplicação de venenos. Em suma, destruindo todo o código de proteção ambiental do Rio Grande do Sul, que foi pioneiro no país."
Ele defende que a primeira luta a ser travada, associada às demais, é a defesa do meio ambiente. E parafraseou Karl Marx: “Trabalhadores e ecologistas uni-vos porque enfrentamos o mesmo inimigo. Ele vai ganha força e vai acabar com o meio ambiente e não teremos onde ficar”.
O Brasil de Fato RS solicitou um posicionamento ao governo do estado do Rio Grande do Sul, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. O espaço segue disponível para atualização.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko