No município do Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana do Recife (PE), a corrida eleitoral deste ano reedita a disputa de 2020. Keko do Armazém (PP) tenta reeleição com apoio do PT, PCdoB e Psol, mas a má avaliação de sua gestão tem contribuído para que o ex-prefeito Lula Cabral (Solidariedade) apareça em vantagem nas pesquisas. O Delegado Resende (PDT) tenta se construir como terceira via, enquanto Joel da Harpa (PL) busca construir bases.
Para entender o quadro, talvez o mais relevante que as intenções de voto seja destacar a avaliação da gestão de Keko, algo que foi questionado na pesquisa do Instituto Datatrends, em abril. As avaliações ótima (3%) e boa (9%) somam apenas 12%, metade da avaliação regular (23%). Já os que consideram a gestão ruim (25%) ou péssima (39%) totalizam 64% dos entrevistados.
O presidente municipal do PT no Cabo, Antônio “Tonny” Lourenço, conversou com o Brasil de Fato Pernambuco sobre o tema. Apesar de hoje trabalhar como assessor do prefeito Keko, ele avalia que a gestão poderia ter sido melhor. “Em 2020, na véspera da eleição, quatro pré-candidatos abriram mão das candidaturas e apoiaram Keko. Se juntaram para ganhar a eleição, mas não para discutir o plano de governo. Essas lideranças ganharam espaços na gestão, mas não estavam comprometidas com o plano de governo de Keko, que ganhou nas urnas”, critica Lourenço.
Tonny considera que o prefeito se mostrou comprometido com o município, mas que teria sido prejudicado por assumir a gestão durante a pandemia, seguida por um 2022 cujo inverno que atingiu muita gente. “A turbulência nos dois primeiros anos dificultou que a gente ‘plantasse’ políticas que dessem frutos durante a gestão”, lamenta. “E as ações têm consequências”, completa. As consequências aparecem tanto na avaliação da gestão como nas pesquisas de intenção de votos.
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Até o início de abril o PT tinha a superintendência de habitação, a secretaria executiva de Agricultura e as secretarias de Meio Ambiente e de Articulação Política, esta última sob responsabilidade do vice-prefeito, o professor José de Arimatéia. A entrada do vice-prefeito no PT - e consequentemente a entrada do PT na gestão - não foi tranquila. “Eu não aceitei e houve um conflito interno, porque aquela chapa era distante de nós”, recorda Tonny. O prefeito Keko era filiado ao PL. “Mas chegamos a um entendimento e a relação hoje é pacífica”, diz ele.
O dirigente petista conta que o PT passou a colaborar com a gestão Keko no fim de 2021. Ao longo desses dois anos e meio de contribuição, “o PT não conseguiu imprimir uma marca petista, faltou muita coisa”, diz ele. O destaque, segundo avalia, é que a entrada do PT na prefeitura abriu um canal direto com o Governo Federal, através do deputado federal Carlos Veras e dos senadores Humberto Costa e Teresa Leitão, todos petistas.
Pesquisas de intenção de voto
Este ano foram divulgados dois levantamentos com os eleitores do Cabo de Santo Agostinho. Antes do Datatrends (abril), houve a pesquisa da Simplex Consultoria em parceria com a rádio CBN, divulgada em fevereiro. Em ambas, na pesquisa espontânea, quando o entrevistador não fornece nomes de candidatos, o ex-prefeito Lula Cabral (SD) é citado por entre 24% e 30% dos entrevistados, respectivamente.
O prefeito Keko (PP) aparece como provável voto de 8% ou 9% dos eleitores, uma desvantagem que varia entre 16 e 21 pontos percentuais. O Delegado Resente (PDT) é mencionado por 1% e 6% dos entrevistados e Joel da Harpa (PL) é citado com 1% numa das pesquisas. Os que não sabem ou preferem voto em branco somam entre 54% e 64%.
Na pesquisa estimulada, quando os nomes dos candidatos são apresentados, a vantagem de Lula Cabral (SD) fica ainda maior. O ex-prefeito aparece com 37,4% e 45%, enquanto o atual prefeito Keko surge com 12,1% e 12%, numa desvantagem que varia entre 25 e 33 pontos percentuais.
No caso da pesquisa mais recente, do Datatrends, o Delegado Resende (PDT) aparece com 13% em abril e 3,9% na de fevereiro. Joel da Harpa (PL) tem 3% na mais recente. Nas estimuladas surge o nome do Dr. Celso Cunha (Mobiliza), com 1%. Os que não sabem ou votariam branco/nulo somavam 45% na pesquisa de fevereiro e 26% na de abril. Daniel Paluca (União Brasil) não aparece nas pesquisas, mas neste mês de maio se lançou como pré-candidato à prefeitura.
O dirigente petista, assessor do prefeito, minimiza o prejuízo apontado nas pesquisas. “Por experiência de eleições anteriores, quem está na gestão costuma conseguir no mínimo 30% dos votos. A estrutura tem muita força”, diz ele. “Isso somado ao nosso trabalho político-eleitoral, talvez consigamos reverter, obter uma vitória apertada”, completa Tonny, confiante. “Mas é uma missão pesada”, pondera.
A estratégia do petista é tentar ao máximo converter o apoio da população cabense ao presidente Lula (PT) para o prefeito Keko (PP), contra um adversário que se chama também Lula (Solidariedade). “O presidente Lula tem apoio da população e isso faz com que o PT consiga entrar em todos os lugares. Temos portas abertas até nas igrejas evangélicas”, garante Lourenço, que se descreve como socialista cristão e evangélico pentecostal. “Se necessário, o presidente Lula pode vir aqui no Cabo. Podemos virar. É difícil, mas é possível”, afirma.
Keko do Armazém (PP) tem consigo o PSD, o Republicanos, o Avante, além das federações PSDB-Cidadania, Rede-PSOL e Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV). Contará com os apoios do presidente Lula e da governadora Raquel Lyra. Lula Cabral (Solidariedade) tem como apoios mais relevantes o PSB e o MDB, reunindo João Campos (PSB) e Marília Arraes (Solidariedade) no seu palanque.
Em 2020 Keko (47,5%) bateu o mesmo Lula Cabral (29,3%), que tentava reeleição após um primeiro mandato conturbado, em que ficou um ano afastado da prefeitura (de outubro de 2018 a outubro de 2019), tendo passado três meses preso sob acusação de desvios na ordem de R$92,5 milhões do fundo previdenciário municipal (Caboprev). Ainda existe um processo criminal em aberto contra Cabral, mas ele não tem condenações que o impeçam de concorrer. Naquela disputa, o Delegado Resende conquistou 21,7 mil votos (19%).
Hoje o Cabo de Santo Agostinho tem 203 mil habitantes e é a 5ª maior economia de Pernambuco, abrigando parte dos escritórios e armazéns de empresas instaladas instaladas no Porto de Suape, a apenas 20 km do centro do Cabo. O município tem 170 mil eleitores e, portanto, a disputa se dá em turno único. Em 2020 a disputa pela prefeitura teve 114 mil votos válidos, de modo que 1% corresponde a aproximadamente 1.200 votos.
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Câmara de Vereadores
O PT seguirá com o professor José de Arimatéia na vice de Keko. Mas o partido está sem vereadores no Cabo de Santo Agostinho. O coeficiente eleitoral estimado para este ano fica entre 6 e 7 mil votos para conquistar uma das 21 cadeiras na Câmara de Vereadores.
Em 2020 o PT teve 6.800 votos e elegeu Zeu da GVNet (abaixo), mas na eleição de 2022 o vereador entrou em conflito com a direção municipal da sigla, visto que ofereceu suas bases eleitorais para candidatos a deputado estadual, federal, senador e governador dos quais nenhum integrava ou tinha apoio da federação Brasil da Esperança. Em conversa amigável, foi convidado a sair da sigla na janela partidária deste ano.
A chapa da federação terá 22 candidatos, sendo 17 do PT e 5 do PCdoB. O PV no município não conseguiu se organizar para a disputa eleitoral deste ano. Em 2020, o PCdoB teve 3,1 mil votos e o PV 729. Tonny acredita que a federação terá no mínimo 15 mil votos e vai eleger pelo menos 3 nomes.
Os que largam como mais fortes são justamente três indicações que o prefeito Keko filiou aos partidos aliados: a ex-secretária Gabriela Jerônimo (recém-filiada ao PT), Bruno Villaça (no PCdoB) e Tadeu Anjos (PCdoB). Este último foi candidato a prefeito pelo PCdoB em 2020, quando teve 1.780 votos (1,5%).
O desejo do dirigente petista é que a chapa eleja pelo menos um “militante petista de verdade”. O próprio Tonny será candidato pela primeira vez, ligado à luta da inclusão digital; mas ele destaca também a vice-presidenta petista, a enfermeira e militante da saúde Roselane Dario; o jovem Edmilson e o agricultor Ariel Melo.
Questionado se a má avaliação do prefeito Keko pode prejudicar as candidaturas petistas, Lourenço não se esquiva. “O candidato absorve sim um pouco desse desgaste, mas precisamos ter habilidade, saber ouvir o eleitor. Já no santinho teremos de um lado o prefeito Keko e do outro lado o presidente Lula”, resumiu.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Helena Dias