Assentamentos do Maranhão iniciam as primeiras colheitas com máquinas chinesas em fase de testes no Brasil. O maquinário veio ao país por meio de parceria com a China proporcionada pelo Consórcio Nordeste, cujo objetivo é fortalecer a mecanização agrícola na agricultura familiar e áreas de reforma agrária, contribuindo na produção de alimentos saudáveis.
As 31 máquinas chegaram ao país em janeiro no estado do Rio Grande do Norte, mas o momento histórico de colheita aconteceu no dia 29 de abril, no Assentamento Cristina Alves, município de Itapecuru Mirim, a 115km da capital maranhense. Nesta edição, o Bem Viver, programa do Brasil de Fato, traz um pouco do que já se pode ver de resultado na produção, como o aumento da colheita.
Com cerca de 100 famílias, o assentamento é uma das referências na produção de arroz e um dos escolhidos pela Cooperação Brasil-China para sediar a fase de testes das máquinas, que deve durar em torno de um ano e meio, como explica Maria da Saúde Gomes, do setor de produção do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST).
“A gente dizia que elas iriam para os estados e elas estão começando a chegar, começando a entrar nesse campo de testagem e, daqui a um ano e meio, vamos poder ter os elementos das possíveis adaptações, das possíveis necessidades que essas máquinas possam apresentar e o desempenho delas dentro do contexto de máquinas para a reforma agrária, para a agricultura familiar.”
No Maranhão, foram recebidas duas colheitadeiras que atendem às colheitas de grãos como arroz e milho, e serão revezadas ao longo do período de testes entre os assentamentos Cristina Alves, município de Itapecuru Mirim, Diamante Negro Jutaí, no município de Igarapé do Meio e Belém, no município de Tuntum.
Em grande festa, a Cooperativa Mista das Áreas de Reforma Agraria do Vale do Itapecuru (COOPEVI) fez a primeira colheita durante ato político e já pôde comparar a agilidade da produção com os tempos de foice e facão, garantindo que, com acesso à terra, tecnologia e equipamentos, a agricultura familiar é capaz de suprir a necessidade de alimentos no estado.
“Nós já gastamos até 25 dias colhendo um hectare de arroz, e isso fez a gente refletir que isso fez o arroz do Maranhão cair de produção de área plantada na agricultura familiar. A gente implementou outras alternativas, como a roçadeira costal e reduzimos de 25 dias para 6, e hoje com a máquinas estamos, até o momento, colhendo um hectare de arroz em 4 horas, com o auxílio da pequena máquina”, comemora Elias Araújo, da COOPEVI.
Maior consumidor de arroz do Brasil, o Maranhão já foi um dos maiores produtores do país, hoje segue a liderança no Nordeste, com quase a totalidade do cereal produzido em lavouras com menos de 50 hectares, ou seja, por pequenos produtores, que enfrentam desafios como áreas invadidas por monoculturas, veneno e falta de acesso às tecnologias.
“O Maranhão é dependente de importação de arroz e a reforma agrária precisa dar essa resposta, mas para exigir essa missão da reforma agrária, o estado, a academia, a extensão rural, tem que fazer esse aporte de tecnologia, tem que transferir conhecimento, mas transferir também equipamentos”, complementa Araújo.
Do estado, quatro agricultores receberam treinamento para o uso das máquinas no Rio Grande do Norte e, com muito entusiasmo, já estão dominando a ferramenta, replicando os ensinamentos e comemorando os resultados, como é o caso do jovem agricultor José Montello, do Assentamento Cristina Alves.
“Antigamente a gente colhia o nosso arroz manualmente, com a foicinha e a faca. Depois fizemos uma adaptação na roçadeira costal, isso contribuiu para o avanço da colheita do arroz, mas com um pouco de dificuldade na hora de fazer a batição do arroz e o beneficiamento, né? Era um pouco mais rápido, mas precisava de muita mão de obra. Com a chegada das mini colheitadeiras a gente vê que a avançou nessa questão e elas vem contribuir bastante com o desenvolvimento da nossa agricultura familiar”, explica José.
Alianças políticas para fortalecimento da cooperação
Entre as máquinas recebidas no Brasil estão microtratores, roçadeiras, semeadeiras, plantadeiras e colheitadeiras que, após a fase de testes, receberão os ajustes indicados pelos estados e, em um segundo momento, o acordo prevê a instalação de uma fábrica no Nordeste.
Nesse sentido, o Governo do Estado do Maranhão tem participado de reuniões sobre a cooperação Brasil-China e, junto ao Movimento Sem Terra, aposta na viabilidade de parcerias para a implantação da fábrica no estado.
“Estamos percebendo a iniciativa do MST de mecanizar a agricultura, de dar condições aos nossos assentados de produzir mais, com menos esforço. A mecanização é uma realidade, é uma necessidade. Portanto, o MST está de parabéns e nós, do Incra, estamos aqui para nos colocar a serviço de uma reforma agrária justa, que realmente dê dignidade às pessoas que estão morando aqui nos nossos assentamentos”, declara Zé Carlos, superintendente regional do Incra.
O vice-governador Felipe Camarão, que esteve na China em outubro de 2023, também destacou a importância da implantação da fábrica e o trabalho desenvolvido pelo movimento na produção de alimentos saudáveis e desenvolvimento social.
“Estamos aqui de portas abertas e o Maranhão garantindo todas as condições, para quem sabe até implantar uma fábrica dessa no nosso estado e poder levar essa experiencia para todo o resto do Brasil. Aqui é só gratidão e mostrando, que o MST, além de lutar pela reforma agrária, pelo uso social da terra, além de ser o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, de ter parceria com o governo do estado alfabetizando pessoas, jovens, adultos e idosos, através do ‘Sim, eu Posso’, hoje ajuda nosso estado com agricultura familiar”, pontua Felipe Camarão.
Também representando o governo do estado, o Secretário de Agricultura Familiar (SAF), Bira do Pindaré reforça a importância da cooperação e garantia de mais máquinas para o avanço da produção de alimentos e autonomia dos assentamentos de reforma agrária.
“Nosso grande objetivo é ampliar as aquisições dessas maquinas e, mais do que isso, fabricar essas maquinas aqui mesmo no Brasil. Nós queremos que essa cooperação permita transferência de tecnologia e que, nossos agricultores e agricultoras, possam dominar esse processo plenamente e garantir a mecanização necessária para aumentar a produção, garantindo alimentação saudável na nossa mesa, trabalho e renda, e sobretudo, preservação do meio ambiente”, explica Bira do Pindaré.
Cooperativas em festa pelo avanço da agricultura familiar
Após o início da colheita de arroz no Assentamento Cristina Alves, uma das máquinas colheitadeiras seguiu para o segundo assentamento do estado sede da cooperação, o Assentamento Diamante Negro Jutaí, no município de Igarapé do Meio, onde o arroz também já estava no ponto de colheita.
Mais uma festa se forma, a notícia se espalha e as cooperativas já recebem mensagens de todos os cantos, de pequenos agricultores que haviam deixado de plantar por falta de apoio, mas veem na cooperação o início de uma grande revolução na produção de alimentos da agricultura familiar.
“Esse momento é um marco histórico na luta do Movimento Sem Terra no estado do Maranhão, porque nós ocupamos a terra para produzir, para construir as nossas casas e alimentar nossas famílias, mas produzir no campo maranhense é um grande desafio para os trabalhadores e trabalhadoras do campo”, explica Gilvânia Ferreira, da direção do MST.
Segundo Gilvânia, as terras de pequenos agricultores estão cercadas pelo agronegócio, onde de um lado está a soja, do outro o eucalipto e também a pecuária, além do agravante da pulverização e uso indiscriminado de agrotóxicos.
“Nós estamos aqui muito felizes por ter essa oportunidade, esse momento, mas o que nós queremos é que não só o Assentamento Cristina Alves ou o Assentamento Vila Diamante tenha acesso a essa tecnologia, mas que todos os assentamentos de reforma agrária, que todas as comunidades possam ter acesso a essas máquinas para poderem plantar e colher sua produção”, complementa Gilvânia.
E tem mais...
O programa também traz também uma entrevista com Jaime Amorim, membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST) fala sobre a situação dos trabalhadores da agricultura familiar.
Os cantos do cacau. Grupo de Mulheres em Domínio Público resgata músicas que trabalhadores e trabalhadoras entoavam durante a colheita.
Já pensou em criar abelhas em casa em casa? Vamos explicar como isso é possível e importante.
E tem receita no programa de hoje, a Gema Soto ensina uma deliciosa de sobremesa de limão.
Solidariedade RS
As lavouras que dão ao MST o título de maior produtor de arroz orgânico da América Latina submergiram com as enchentes que assolam o Rio Grande do Sul (RS) desde 27 de abril. Somando as áreas dedicadas ao cultivo de arroz orgânico, em transição agroecológica e convencional, o movimento viu 2358 hectares serem tomados pela água.
Ainda sim, desde o início da tragédia, o movimento contabiliza 50 mil refeições produzidas em assentamentos da reforma agrária que chegaram às mãos das vítimas por meio de parcerias com o poder público.
A comida, produzida nas cozinhas solidárias, é distribuída por meio de helicópteros e ambulâncias aos atingidos pelas cheias extremas que afetaram 2,3 milhões de gaúchos até agora.
Você também pode contribuir com as cozinhas solidárias neste momento difícil do Rio Grande do Sul. O pix para doações voltadas as ações do MST é o CNPJ do Instituto Brasileiro de Solidariedade: 09352141000148.
Doações por depósito bancário podem ser encaminhadas utilizando os seguintes dados: conta 30253-8, agência 3001, banco 350. Também está com uma campanha na plataforma Apoia.se, principalmente para doações internacionais, no site deste link.
Quando e onde assistir?
No YouTube do Brasil de Fato todo sábado às 13h30, tem programa inédito. Basta clicar aqui.
Na TVT: sábado às 13h30; com reprise domingo às 6h30 e terça-feira às 20h no canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.
Na TV Brasil (EBC), segunda-feira às 6h30.
Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET.
Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET.
Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital.
Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital.
Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET.
TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 10h40, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17.
Sintonize
No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista.
O programa também é transmitido pela Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver também está nas plataformas Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.
Edição: Matheus Alves de Almeida