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No Bem Viver, a primeira colheita das máquinas chinesas: assentamentos do Maranhão comemoram resultados

Programa mostra parceria histórica com MST, responsável pelos testes do equipamento para fortalecer agricultura familiar

Brasil de Fato | Itapecuru Mirim (MA) |
A colheita de um hectare demorava até 25 dias manualmente, tempo reduzido para menos de 4 horas com as máquinas. - Eduardo Moura/MST-MA

Assentamentos do Maranhão iniciam as primeiras colheitas com máquinas chinesas em fase de testes no Brasil. O maquinário veio ao país por meio de parceria com a China proporcionada pelo Consórcio Nordeste, cujo objetivo é fortalecer a mecanização agrícola na agricultura familiar e áreas de reforma agrária, contribuindo na produção de alimentos saudáveis.

As 31 máquinas chegaram ao país em janeiro no estado do Rio Grande do Norte, mas o momento histórico de colheita aconteceu no dia 29 de abril, no Assentamento Cristina Alves, município de Itapecuru Mirim, a 115km da capital maranhense. Nesta edição, o Bem Viver, programa do Brasil de Fato, traz um pouco do que já se pode ver de resultado na produção, como o aumento da colheita.

Com cerca de 100 famílias, o assentamento é uma das referências na produção de arroz e um dos escolhidos pela Cooperação Brasil-China para sediar a fase de testes das máquinas, que deve durar em torno de um ano e meio, como explica Maria da Saúde Gomes, do setor de produção do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST).

“A gente dizia que elas iriam para os estados e elas estão começando a chegar, começando a entrar nesse campo de testagem e, daqui a um ano e meio, vamos poder ter os elementos das possíveis adaptações, das possíveis necessidades que essas máquinas possam apresentar e o desempenho delas dentro do contexto de máquinas para a reforma agrária, para a agricultura familiar.”

No Maranhão, foram recebidas duas colheitadeiras que atendem às colheitas de grãos como arroz e milho, e serão revezadas ao longo do período de testes entre os assentamentos Cristina Alves, município de Itapecuru Mirim, Diamante Negro Jutaí, no município de Igarapé do Meio e Belém, no município de Tuntum.

Em grande festa, a Cooperativa Mista das Áreas de Reforma Agraria do Vale do Itapecuru (COOPEVI) fez a primeira colheita durante ato político e já pôde comparar a agilidade da produção com os tempos de foice e facão, garantindo que, com acesso à terra, tecnologia e equipamentos, a agricultura familiar é capaz de suprir a necessidade de alimentos no estado.

“Nós já gastamos até 25 dias colhendo um hectare de arroz, e isso fez a gente refletir que isso fez o arroz do Maranhão cair de produção de área plantada na agricultura familiar. A gente implementou outras alternativas, como a roçadeira costal e reduzimos de 25 dias para 6, e hoje com a máquinas estamos, até o momento, colhendo um hectare de arroz em 4 horas, com o auxílio da pequena máquina”, comemora Elias Araújo, da COOPEVI.


Pequenos produtores são os maiores beneficiados com a chegada das máquinas, por meio de cooperativas. / Eduardo Moura/MST-MA

Maior consumidor de arroz do Brasil, o Maranhão já foi um dos maiores produtores do país, hoje segue a liderança no Nordeste, com quase a totalidade do cereal produzido em lavouras com menos de 50 hectares, ou seja, por pequenos produtores, que enfrentam desafios como áreas invadidas por monoculturas, veneno e falta de acesso às tecnologias.

“O Maranhão é dependente de importação de arroz e a reforma agrária precisa dar essa resposta, mas para exigir essa missão da reforma agrária, o estado, a academia, a extensão rural, tem que fazer esse aporte de tecnologia, tem que transferir conhecimento, mas transferir também equipamentos”, complementa Araújo. 


Assentado maranhense, José Montello, durante treinamento com equipe chinesa em Apodi (RN). / Arquivo Pessoal

Do estado, quatro agricultores receberam treinamento para o uso das máquinas no Rio Grande do Norte e, com muito entusiasmo, já estão dominando a ferramenta, replicando os ensinamentos e comemorando os resultados, como é o caso do jovem agricultor José Montello, do Assentamento Cristina Alves.

“Antigamente a gente colhia o nosso arroz manualmente, com a foicinha e a faca. Depois fizemos uma adaptação na roçadeira costal, isso contribuiu para o avanço da colheita do arroz, mas com um pouco de dificuldade na hora de fazer a batição do arroz e o beneficiamento, né? Era um pouco mais rápido, mas precisava de muita mão de obra. Com a chegada das mini colheitadeiras a gente vê que a avançou nessa questão e elas vem contribuir bastante com o desenvolvimento da nossa agricultura familiar”, explica José.


Representantes municipais, estaduais e federais durante ato de lançamento da primeira colheita. / Eduardo Moura/MST-MA

Alianças políticas para fortalecimento da cooperação

Entre as máquinas recebidas no Brasil estão microtratores, roçadeiras, semeadeiras, plantadeiras e colheitadeiras que, após a fase de testes, receberão os ajustes indicados pelos estados e, em um segundo momento, o acordo prevê a instalação de uma fábrica no Nordeste.

Nesse sentido, o Governo do Estado do Maranhão tem participado de reuniões sobre a cooperação Brasil-China e, junto ao Movimento Sem Terra, aposta na viabilidade de parcerias para a implantação da fábrica no estado.

“Estamos percebendo a iniciativa do MST de mecanizar a agricultura, de dar condições aos nossos assentados de produzir mais, com menos esforço. A mecanização é uma realidade, é uma necessidade. Portanto, o MST está de parabéns e nós, do Incra, estamos aqui para nos colocar a serviço de uma reforma agrária justa, que realmente dê dignidade às pessoas que estão morando aqui nos nossos assentamentos”, declara Zé Carlos, superintendente regional do Incra.


Maranhão pode sediar máquina para produção de máquinas destinadas à agricultura familiar. / Eduardo Moura/MST-MA

O vice-governador Felipe Camarão, que esteve na China em outubro de 2023, também destacou a importância da implantação da fábrica e o trabalho desenvolvido pelo movimento na produção de alimentos saudáveis e desenvolvimento social.

“Estamos aqui de portas abertas e o Maranhão garantindo todas as condições, para quem sabe até implantar uma fábrica dessa no nosso estado e poder levar essa experiencia para todo o resto do Brasil. Aqui é só gratidão e mostrando, que o MST, além de lutar pela reforma agrária, pelo uso social da terra, além de ser o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, de ter parceria com o governo do estado alfabetizando pessoas, jovens, adultos e idosos, através do ‘Sim, eu Posso’, hoje ajuda nosso estado com agricultura familiar”, pontua Felipe Camarão.

Também representando o governo do estado, o Secretário de Agricultura Familiar (SAF), Bira do Pindaré reforça a importância da cooperação e garantia de mais máquinas para o avanço da produção de alimentos e autonomia dos assentamentos de reforma agrária.

“Nosso grande objetivo é ampliar as aquisições dessas maquinas e, mais do que isso, fabricar essas maquinas aqui mesmo no Brasil. Nós queremos que essa cooperação permita transferência de tecnologia e que, nossos agricultores e agricultoras, possam dominar esse processo plenamente e garantir a mecanização necessária para aumentar a produção, garantindo alimentação saudável na nossa mesa, trabalho e renda, e sobretudo, preservação do meio ambiente”, explica Bira do Pindaré.


Cooperativas de reforma agrária veem na cooperação a chance de retomar plantios de arroz em assentamentos / Dam Andrade

Cooperativas em festa pelo avanço da agricultura familiar

Após o início da colheita de arroz no Assentamento Cristina Alves, uma das máquinas colheitadeiras seguiu para o segundo assentamento do estado sede da cooperação, o Assentamento Diamante Negro Jutaí, no município de Igarapé do Meio, onde o arroz também já estava no ponto de colheita.

Mais uma festa se forma, a notícia se espalha e as cooperativas já recebem mensagens de todos os cantos, de pequenos agricultores que haviam deixado de plantar por falta de apoio, mas veem na cooperação o início de uma grande revolução na produção de alimentos da agricultura familiar.

“Esse momento é um marco histórico na luta do Movimento Sem Terra no estado do Maranhão, porque nós ocupamos a terra para produzir, para construir as nossas casas e alimentar nossas famílias, mas produzir no campo maranhense é um grande desafio para os trabalhadores e trabalhadoras do campo”, explica Gilvânia Ferreira, da direção do MST.

Segundo Gilvânia, as terras de pequenos agricultores estão cercadas pelo agronegócio, onde de um lado está a soja, do outro o eucalipto e também a pecuária, além do agravante da pulverização e uso indiscriminado de agrotóxicos.

“Nós estamos aqui muito felizes por ter essa oportunidade, esse momento, mas o que nós queremos é que não só o Assentamento Cristina Alves ou o Assentamento Vila Diamante tenha acesso a essa tecnologia, mas que todos os assentamentos de reforma agrária, que todas as comunidades possam ter acesso a essas máquinas para poderem plantar e colher sua produção”, complementa Gilvânia.

E tem mais...

O programa também traz também uma entrevista com Jaime Amorim, membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST) fala sobre a situação dos trabalhadores da agricultura familiar.

Os cantos do cacau. Grupo de Mulheres em Domínio Público resgata músicas que trabalhadores e trabalhadoras entoavam durante a colheita.

Já pensou em criar abelhas em casa em casa? Vamos explicar como isso é possível e importante.

E tem receita no programa de hoje, a Gema Soto ensina uma deliciosa de sobremesa de limão.

Solidariedade RS

As lavouras que dão ao MST o título de maior produtor de arroz orgânico da América Latina submergiram com as enchentes que assolam o Rio Grande do Sul (RS) desde 27 de abril. Somando as áreas dedicadas ao cultivo de arroz orgânico, em transição agroecológica e convencional, o movimento viu 2358 hectares serem tomados pela água.

Ainda sim, desde o início da tragédia, o movimento contabiliza 50 mil refeições produzidas em assentamentos da reforma agrária que chegaram às mãos das vítimas por meio de parcerias com o poder público.

A comida, produzida nas cozinhas solidárias, é distribuída por meio de helicópteros e ambulâncias aos atingidos pelas cheias extremas que afetaram 2,3 milhões de gaúchos até agora.

Você também pode contribuir com as cozinhas solidárias neste momento difícil do Rio Grande do Sul. O pix para doações voltadas as ações do MST é o CNPJ do Instituto Brasileiro de Solidariedade: 09352141000148.

Doações por depósito bancário podem ser encaminhadas utilizando os seguintes dados: conta 30253-8, agência 3001, banco 350. Também está com uma campanha na plataforma Apoia.se, principalmente para doações internacionais, no site deste link.

Quando e onde assistir? 

No YouTube do Brasil de Fato todo sábado às 13h30, tem programa inédito. Basta clicar aqui.

Na TVT: sábado às 13h30; com reprise domingo às 6h30 e terça-feira às 20h no canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.

Na TV Brasil (EBC), segunda-feira às 6h30.

Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET. 

Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET. 

Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital. 

Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital. 

Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET. 

TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 10h40, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17. 

Sintonize

No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista.

O programa também é transmitido pela Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver também está nas plataformas Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.

Edição: Matheus Alves de Almeida