Pressão

General dos EUA vem ao Brasil para exercícios militares e ataca aliança da China com América Latina

Atitividade militar acontece no contexto do aniversário de 200 anos das relações bilateriais entre Brasil e EUA

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
A comandante do Comando Sul dos Estados Unidos, Laura Richardson, durante a cerimônia de encerramento dos exercícios de treinamento do Fuerzas Comando Panama, em 24 de maio de 2024 - ARNULFO FRANCO / AFP

Exercícios militares conjuntos entre a Marinha dos EUA e a Marinha brasileira trouxeram esta semana ao Brasil a general estadunidense de quatro estrelas Laura Richardson, comandante das Forças Navais do Comando Sul dos EUA. A atividade Southern Seas 2024 acontece no contexto do aniversário de 200 anos das relações bilateriais entre Brasil e EUA, que se completam neste domingo (26).

Em entrevista ao jornal Valor, Richardson atacou a alinça da China com os países da América Latina, e criticou a iniciativa da Belt and Road Initiative, conhecida como Iniciativa do Cinturão e Rota chinesa. As relações comerciais do Brasil com a China completam 50 anos em 2024 em seu ápice. 

Em 2023, a China tornou-se o primeiro a comprar mais de US$ 100 bilhões (R$ 550 bi) em produtos brasileiros em um ano (US$ 104,3 bilhões), o que representa 30,7% das exportações brasileiras no período e 52% do superávit recorde da balança brasileira em 2023. Desde 2018, o país asiático responde por mais de um quarto das vendas brasileiras ao exterior, sendo a soja, o petróleo e o minério de ferro os principais itens da balança comercial entre os países. A aliança diplomática entre os países também têm se intensificado durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na quinta-feira (23), Brasil e China apresentaram proposta conjunta para estabelecer a paz entre Rússia e Ucrânia.

"Acho que os países da região estão alimentando e abastecendo o mundo, mas não estão se beneficiando disso. E há outros países que estão tirando proveito deles. Como podemos ajudar essa região a perceber os benefícios de alimentar e abastecer o mundo?", questiona Richardson para, em seguida, destacar as commodities da região que interessam o mercado estadunidense. "Quando olhamos para a soja, o milho, o açúcar, que já alimentam o mundo, o petróleo bruto pesado, o petróleo bruto leve, as terras raras, o lítio, a Amazônia. Ninguém mais tem isso."

A general estadunidense demonstrou incômodo com a possibilidade de adesão do Brasil à Iniciativa do Cinturão e Rota durante a visita do presidente Xi Jinping ao Brasil no final do ano.

"O que aprendemos é que a Belt and Road Iniciative parece muito boa na parte inicial, mas há muitas letras miúdas. E é preciso ler essas letras miúdas para ver todas as condições e como a soberania é retirada ao longo do tempo se os empréstimos não forem pagos, e coisas desse tipo", disse na entrevista.

Em outro momento de sua fala, Richardson contrapõe os investimentos dos EUA na região em relação à iniciativa chinesa. "O que a qualidade e o investimento dos EUA trazem? Transparência, medidas anticorrupção, padrões ambientais, padrões trabalhistas, diversificação da força de trabalho, funcionários dos países com cargos mais altos. Enquanto que a Belt and Road Iniciative traz seus próprios trabalhadores e não investe na comunidade."

No mês passado, Lula esteve na China, em uma aguardada viagem ao maior parceiro comercial brasileiro. Além de assinar 15 acordos de cooperação, Lula disse que "queremos dizer ao mundo que não temos preconceito em nossas relações com os chineses. Ninguém vai proibir que o Brasil aprimore sua relação com a China".

Durante o encontro com Lula, o presidente chinês, Xi Jinping, destacou que ambos os países têm "interesses comuns", são "importantes mercados emergentes" e podem caminhar para um "novo paradigma em desenvolvimento".

"Foi com sua atenção [de Lula] e apoio que a relação China e Brasil conseguiu dar um grande salto", disse Xi Jinping

Edição: Leandro Melito