Estarei no segundo turno. E essa é a resposta que eu e quem está do meu lado damos
Na última segunda-feira (20), 287 municípios do estado de São Paulo aprovaram a privatização da Sabesp, a empresa estatal responsável pela gestão dos recursos hídricos no território paulista. O objetivo do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) é disponibilizar ações da empresa para oferta pública na Bolsa de Valores até o final de junho.
A maior parte dos cidadãos paulistas, no entanto, são contrários à privatização. Segundo pesquisa do Datafolha, 53% acham que a empresa não deve perder seu caráter estatal. Já outros 40% são favoráveis à ideia arquitetada pelo governador do Estado.
Para a deputada federal Tabata Amaral (PSB), que é pré-candidata à Prefeitura de São Paulo, "a discussão da Sabesp, do jeito que ela está sendo feita hoje, só existe por conta do ano eleitoral".
"Acredito eu que nenhum outro prefeito ou prefeita toparia isso que a gente está topando enquanto cidade, não fosse o contexto eleitoral que a gente está vivendo. E acho que não vai demorar muito para a gente se dar conta do erro que está sendo cometido", explicou a deputada.
Amaral é a convidada desta semana no BdF Entrevista. Segundo ela, "deputados e vereadores toparam abrir mão de tanta coisa por uma questão eleitoreira".
A pré-candidata à prefeitura explica que a cidade de São Paulo, que detém o maior contrato de prestação de serviços com a Sabesp, deverá perder não só a gestão das águas, mas também votos e presença decisória em um futuro conselho gestor da empresa a partir do projeto de privatização aprovado pela Câmara dos Vereadores da capital.
A pressão para que o projeto fosse votado de maneira acelerada, sem participação expressiva da sociedade civil, foi uma decisão do prefeito Ricardo Nunes, que com a aprovação deve garantir o apoio de Tarcísio de Freitas à sua campanha de reeleição.
Tabata Amaral é a terceira colocada na disputa à prefeitura de São Paulo. Hoje, o candidato com maior intenção de votos é o deputado federal Guilherme Boulos (Psol), com 35,6%, que recebe apoio de Lula e terá em sua chapa a ex-prefeita Marta Suplicy, que se filiou novamente ao Partido dos Trabalhadores.
No segundo posto aparece o atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB), com 33,7%. Apesar de uma relação conflituosa com o bolsonarismo, sua participação em um ato do ex-presidente em São Paulo, na avenida Paulista, contribuiu para a subida nas intenções de voto em Nunes.
A deputada do PSB aparece em terceiro lugar com 14,7%. Sua campanha ainda não conseguiu apoios expressivos para a disputa. Há conversas adiantadas com o PSDB, que inicialmente indicaria um candidato a vice para a campanha da deputada. No entanto, o nome mais cotado para a tarefa, o apresentador de TV, José Datena, foi alçado como pré-candidato tucano na última semana.
Segunda Tabata Amaral, sua pré-campanha "não tem negociação de cargo, não tem conversa de dinheiro por fora e coisas que o valham. Então, isso reduz muito o número de partidos com os quais eu posso conversar", explica.
"Hoje eu converso com três partidos apenas. É importante a gente entender que essas grandes coligações têm um custo muito alto, porque são coligações que não têm a menor coesão ideológica".
Amaral afirma ainda que as conversas com o PSDB seguem, "independente da pré-candidatura do Datena". "Acho que todo mundo tem o direito de colocar seu nome, de ver como vai na pesquisa. Mas dentro do PSDB ainda tem muita disposição para poder estar junto com a gente".
Na conversa, a deputada federal também fala sobre a tragédia no Rio Grande do Sul e afirma ter sido procurada por Boulos e Nunes, que buscam um possível apoio da terceira colocada no pleito em um possível segundo turno das eleições. Amaral, no entanto, garante: "estarei no segundo turno. E essa é a resposta que eu, quem está do meu lado, que meu time, damos".
Confira a entrevista na íntegra no vídeo acima e os melhores trechos no texto abaixo:
Brasil de Fato: Queria começar esse papo falando sobre a tragédia do Rio Grande do Sul. Apenas três parlamentares mulheres do Rio Grande do Sul destinaram emendas para contenção e combate de desastres climáticos no estado gaúcho. E eventos como este deverão ocorrer com cada vez mais frequência. A classe política ainda não se deu conta do tamanho do desafio que vai ser enfrentar estes desastres climáticos?
Tabata Amaral: Infelizmente não. Nem em Brasília, nem aqui em São Paulo. Falando um pouco dessas últimas semanas, essa tragédia que a gente está vendo no Rio Grande do Sul, eu acho que finalmente as pessoas entenderam que a gente precisa pelo menos acudir quem está sofrendo agora, quem está passando por isso.
E eu estou vendo o esforço que aconteceu no meu mandato, que está acontecendo em outros mandatos, pra gente redirecionar emendas parlamentares, pra gente colocar isso na pauta. Mas, para além desse esforço, que é do presente, me preocupa muito o amanhã. Eu acho que a pergunta que todo mundo se faz é: "a gente está pronto?", em um Brasil em que algumas pessoas ainda acham que mudanças climáticas não existem, que ainda negam essa realidade.
Muito do meu trabalho nas últimas semanas foi entender como é que a gente se prepara, como é que a gente acelera essa conversa. Há alguns anos coordeno, dentro da bancada ambientalista, toda pauta de resíduos, questões urbanas. Mas estou desde 2021 tentando pautar um projeto para que nossas cidades tenham um plano de adaptação para as mudanças do clima.
Com muito esforço tinha conseguido aprovar ele na Câmara, mas foi só na semana passada que eu consegui aprová-lo no Senado. Por quê? Porque as pessoas acham que não é pauta, não é prioridade a gente fazer plano, se preparar, a gente destinar recurso para isso.
E aí quando a gente fala aqui de São Paulo, eu também tenho muita preocupação. Eu cresci na periferia de São Paulo e desde que eu me dou por gente, eu tenho medo da chuva. Não é que São Paulo vai sofrer apenas em eventos extremos. Todo ano, infelizmente, as pessoas perdem o que têm. Todo ano a gente tem pessoas que perdem sua vida.
E são os mesmos lugares...
São os mesmos lugares todo ano. Se falamos da zona sul, o pessoal da Favela do Macaco vai sofrer, eu sei que o pessoal da favela do Vietnã vai sofrer. Faz pouco tempo, a sogra de um conhecido meu foi levada pela enchente aqui em São Paulo. Então, me preocupa. A gente vive em uma cidade construída em cima de rio, que nunca equacionou bem essa questão da água de forma concreta.
Eu sentei para conversar com o pessoal da Defesa Civil aqui de São Paulo, com a major Tatiana Rocha, que inclusive está lá no Rio Grande do Sul agora, para entender o que a gente tem que fazer hoje para estarmos pronto para o começo do ano que vem, que é quando a chuva vem com força.
A primeira coisa é que a gente não tem um sistema de alerta robusto, uma coisa que existe há muitos anos, mas ficam lá as empresas de telefonia, sem se entender com o governo federal. E a gente não tem uma tecnologia simples que é pegar um quadrilátero, não importa qual, e o celular de todo mundo tem que receber um alerta que você só desliga quando você toca.
A segunda coisa é que tem muita burocracia. Ela me contava que muito recurso ela não consegue liberar porque falta o carimbo da prefeitura. Mas não tem mais carimbo, não tem impressora, não tem prefeitura, não tem mais nada nessas horas.
Ela me falou o que aconteceu no litoral norte, aqui no estado de São Paulo, que como foi a virada do ano, tinha recurso do ano passado, mudou o ano fiscal, não conseguiu acessar esse recurso. Eu não vou nem me prolongar, mas é assustador o quanto que não só a gente não pensa, a gente não se planeja, mas enquanto sociedade, a gente não está pronto para lidar com uma emergência.
Falando aqui de São Paulo, a gente está há 10 anos sem ter um plano para as enchentes. Eu inclusive entrei na Justiça contra o atual prefeito Nunes, porque nunca apresentou esse plano. Consegui vencer esse processo e a Justiça deu até abril pra ele apresentar, ele não apresentou.
Eu entrei agora de novo no Ministério Público, porque não importa se eu gosto dele ou não gosto. É a minha família, são as nossas famílias que vão sofrer. A gente tem um longo caminho pela frente. Infelizmente o futuro nos aguarda com muito mais eventos extremos do que o que a gente está vendo e a gente precisa encarar isso.
Aproveitando que a gente está no tema dos recursos hídricos, queria falar contigo sobre a privatização da Sabesp. A Alesp aprovou, a Câmara dos Vereadores de São Paulo também aprovou. Houve aí um imbróglio judicial no meio do caminho mas, ao que tudo indica, o plano segue aprovado. Caso a senhora vença as eleições municipais de 2024, a senhora atuaria para reverter essa privatização ou manter o projeto como está?
Pelo ritmo de hoje, essa vai ser uma discussão que a gente vai herdar. Então, acho que vale mais eu falar do meu posicionamento hoje. Eu venho dizendo que, no meu entendimento, esse é um grande erro. E não é por uma questão dogmática e tal. Eu acho que vale falar dos números, até para aquelas pessoas que poderiam ser a favor, mas que não estão vendo o quanto que a gente está perdendo com esse processo.
Qual é o pano de fundo? O prefeito Ricardo Nunes, quer o apoio do governador Tarcísio. Em troca disso, está permitindo que essa aprovação se dê a toque de caixa, sem defender os interesses da população de São Paulo, sem trazer reivindicações, contrapesos que seriam muito importantes para proteger especialmente a população mais vulnerável.
E em pesquisa de opinião, as pessoas são majoritariamente contrárias à privatização…
São contrárias à privatização. Então, eu tenho falado, porque São Paulo está, sem nada em troca, abrindo mão de voto? Se for desse jeito que está sendo votado, São Paulo vai ter muito menos voz como cidade, muito menos voto no comitê gestor, sendo que a gente é a maior cidade de todas que contratam a Sabesp.
Segunda coisa, por que que não tem ali nada, uma linha, uma reivindicação sobre o quanto desse dinheiro da venda que fica na cidade de São Paulo? Então, a gente abre mão de voz, a gente abre mão de voto, a gente abre mão de recurso, tudo por conta de um apoio político partidário. É correto isso? No meu entendimento, não é.
E a gente vem tentando colocar alguns pontos que a gente acha que pode podem unir a população e talvez sejam pontos que a gente possa inclusive atuar, independente do que aconteça agora. Um deles é: não dá pra gente passar por esse processo sem saber quais são os investimentos que a Sabesp vai fazer aqui na cidade.
E aí, eu quero ser muito concreta, é o marco físico de investimento. Eu quero saber qual é o investimento que vai ser feito na Brasilândia, em Cidade Ademar, em São Mateus, porque a gente tem hoje uma rede que é antiga, que não recebe investimento há muito tempo, porque a prefeitura não cobra e toda noite a Sabesp corta a pressão. E quem está na ponta, como a minha família, fica sem água.
Em casa também falta água durante a noite...
A maioria dos políticos não são impactados por isso, não conhecem essa realidade. Então, por que que a gente não está fazendo um debate, de um pleito que eu tenho, de que se a casa da periferia ficou sem água, a pessoa tem que ser reembolsada no dia seguinte? A gente tem que dizer qual é o investimento que a Sabesp vai fazer em toda a cidade.
Outra coisa, há duas quadras da casa da minha família tem essa realidade: a rede passa na frente da casa da pessoa, mas aquela última milha não é conectada porque não é vantajoso economicamente. Só que essa deveria ser uma reivindicação da prefeitura de São Paulo e não permitir que a gente contabilize o tanto de casas que estão com acesso a saneamento, de acordo se está na frente da casa ou não.
Vou falar de novo da favela do Vietnã, porque tem um problema muito grave de água lá. Toda vez alaga, toda chuva. E aí você entra lá, as pessoas estão pagando tarifa de esgoto, contas de R$ 100, R$ 200, R$ 300, R$ 400, sem estarem sequer conectadas à rede de esgoto.
E tem a tarifa reduzida. A gente tem dois milhões de pessoas aqui em São Paulo que deveriam estar pagando três vezes menos em sua conta porque estão no Cadastro Único. Deveriam estar recebendo a tarifa social, a tarifa vulnerável, mas é uma burocracia tão grande, é tão pouco conhecimento que chega nas pessoas que quase ninguém acessa.
Por que a gente não pode pegar o Cadastro Único e, de acordo com ele, já fazer a tarifa reduzida automática? Então, são alguns pleitos que eu venho trazendo para dizer: porque nada disso está na mesa? Por que a gente está indo para um debate de novo, para abrir mão de voz, de recurso, de voto, sem reivindicar investimento, sem defender os interesses, especialmente de quem está na ponta, correndo o risco da tarifa ficar mais cara?
E na contramão de várias cidades pelo mundo que estão reestatizando esse tipo de serviço, por ser um serviço essencial.
Exato. Infelizmente essa discussão da Sabesp, do jeito que ela está sendo feita hoje, só existe por conta do ano eleitoral. Acredito eu que nenhum outro prefeito, prefeita, toparia isso que a gente está topando enquanto cidade, não fosse o contexto eleitoral que a gente está vivendo. E acho que não vai demorar muito para a gente se dar conta do erro que está sendo cometido, inclusive pelos deputados e vereadores que toparam abrir mão de tanta coisa, de novo, por uma questão eleitoreira.
O apresentador de TV José Datena se filiou ao PSDB, inicialmente para ser o teu vice na campanha deste ano. O Datena, no entanto, anunciou uma pré-candidatura pelo PSDB. Essa ideia de ter o Datena como vice já se dissipou? Você já pensa em um plano B?
Uma coisa que eu acho que vale trazer como pano de fundo é que essa pré-campanha que eu estou liderando, é uma pré-campanha honesta. Isso quer dizer que não tem caixa 2, não tem negociação de cargo, não tem conversa de dinheiro por fora e coisas que o valham. Então, isso reduz muito o número de partidos com os quais eu posso conversar. Infelizmente, a política brasileira ainda se pauta muito por essas negociações muito ruins.
Hoje eu converso com três partidos apenas. É importante a gente entender que essas grandes coligações têm um custo muito alto, porque são coligações que não têm a menor coesão ideológica. E desses três partidos com os quais eu converso, um é público que é o PSDB, por proximidade mesmo, de visão, um partido que reuniu bons quadros da política aqui de São Paulo nos últimos anos.
Tem bons nomes que vão da centro esquerda até a centro direita, e é o partido que topou sentar comigo para conversar sem fazer negociata, para falar de plano de governo, para falar de segurança, para falar de transporte, para falar de educação. Tem uma conversa bem avançada com o PSDB, que continua, independente da pré-candidatura do Datena.
Acho que todo mundo tem o direito de colocar seu nome, de ver como vai na pesquisa. Mas dentro do PSDB ainda tem muita disposição para poder estar junto com a gente. Mas a gente tem que ter muita paciência, até porque o Datena tem um prazo, que já já vence, para poder dizer se finalmente vai ser candidato ou não, seja a prefeito, seja vice, mas também porque as convenções são só em julho.
Eu brinco que uma das maiores características que a gente tem que ter é muita paciência, mas muita paciência mesmo e seguir trabalhando. A minha pré-candidatura é a que mais cresceu nos últimos meses. Eu saí de 5% para 10%, e hoje para 15% nas pesquisas. E isso apresentando o nosso projeto, apresentando o nosso time. E é isso que a gente vai continuar fazendo até o prazo, em julho, das convenções.
A senhora é muito bem avaliada enquanto deputada federal, mas ficou marcada por um episódio de 2019, quando votou a favor da Reforma da Previdência. Na época houveram problemas com o seu antigo partido, o PDT, inclusive com o então candidato à presidência, Ciro Gomes. Uma parte de sua base também não entendeu muito bem, imaginava talvez outra postura da senhora naquela pauta, que era mais liberal e lhe entendiam como uma deputada mais progressista. Como é que você lidou com esse processo, faria diferente?
De jeito nenhum. Eu prezo muito pela minha coerência e pela minha independência. E acho que tem algumas formas de responder. A primeira delas é que eu fui a única deputada federal da esquerda até a direita, entre homens e mulheres, que aumentou de votação entre 2018 e 2022. Eu fui a sexta dentre todos os homens e mulheres aqui do estado.
É muito interessante ver como se deu a minha votação. Eu perdi voto na Bela Vista, onde eu tenho mais rejeição é na classe A, que é onde é mais polarizado. Mas eu cresci muito no extremo sul, no extremo leste da cidade. E eu me candidatei, fui eleita e trabalho todos os dias para ser ponte entre a periferia e o centro, para que as pessoas que vem de onde eu venho tenham sua voz ouvida.
Então, não acho que dá pra gente dizer que minha base não entendeu. Que eu fui xingada, cancelada, ameaçada pelo Twitter da esquerda à direita, isso é verdade todos os meses. Mas eu aumentei muito de votação na minha comunidade, uma comunidade em que eu compito com compras de votos.
Acho que as pessoas que eu escolhi representar, o lugar de onde eu venho, se sentem bem representadas pelo meu mandato. E aí falando, inclusive desse posicionamento que eu tenho, de olhar para a pauta ambiental, mas olhar também para a pauta econômica, de olhar para o combate ao racismo, para o combate à desigualdade, mas olhar para a necessidade da gente ter um estado eficiente. Porque se eu não estou cuidando das contas desse lado, não sobra dinheiro para fazer o social, de fato. É uma visão econômica de centro, não é uma visão econômica de esquerda.
O debate da Reforma da Previdência não foi um pouco açodado? Sem um debate nacional, enfim...
Se você me permitir algumas provocações, com muito respeito, porque o Lula fez uma Reforma da Previdência, a Dilma [Rousseff] tentou fazer e não conseguiu, e no primeiro momento que algum ministro do Lula tentou desfazer, ele disse: “para com isso”. Porque a esquerda, historicamente, é contra esse tipo de reforma quando está fora do governo, mas quando entra no governo, passa a ser a favor?
É uma reforma duríssima de se fazer, mas a gente tem um envelhecimento da população que pressiona a previdência. E aí, se a gente não tem coragem de fazer esse debate, falta dinheiro para aposentadoria, falta dinheiro para a educação, saúde e segurança. E tem uma segunda provocação que eu faço, que fala muito desse meu movimento, que é ser mais rejeitada na classe A, mas ser mais bem avaliada nas classes mais baixas.
É quem você escolhe representar. É uma reforma muito dura para a classe média, mas do lugar de onde eu venho, ninguém nunca se aposenta por tempo de contribuição. Porque as pessoas…
A Reforma aumentou de 15 para 20 o tempo mínimo de contribuição…
Essa foi a mudança principal. A Reforma da previdência, qual é a questão que ela enfrentou? A principal, você tinha uma classe média e uma classe mais alta, que se aposentava por tempo de contribuição, tempo de carteira assinada e uma classe mais baixa, que sempre se aposentou por idade.
O que você fez foi aproximar as regras de um grupo para as regras do outro grupo. É uma discussão muito difícil, mas não dá para falar que essa é uma reforma que impactou os mais pobres, inclusive diminuiu o quanto quem está na base paga e aproximou as regras [entre classes sociais]. E aí, é muito uma escolha de quem você quer representar.
Eu sou filha de uma diarista e um cobrador de ônibus. Eu sou sobrinha de… tem de tudo na minha família, pedreiro, porteiro. Essas pessoas não foram impactadas muito porque eu tive coragem de sentar, negociar e melhorar esse texto. Porque nem sempre defender os interesses das classes mais organizadas, é você defender os interesses de quem está na base.
E eu não acho, com muito respeito e carinho, que é justo que alguém que trabalhou em escritório a vida toda se aposente 10, 15 anos mais cedo do que pessoas que vêm de onde eu venho, que fizeram trabalhos braçais a vida toda só porque não tinham carteira assinada. Tem muitas formas da gente abordar isso, mas é importante que as pessoas entendam isso, que eu sempre vou batalhar contra as desigualdades e que toda vez que eu me deparar com uma discussão em que a gente pode tornar esse estado mais eficiente…
Eu sou uma das poucas vozes hoje contra os R$ 42 bilhões que o Senado quer dar para uma elite do serviço público, que já recebe salários de R$ 100 mil, R$ 200 mil, R$ 300 mil acima do teto. Esse é um estado que é muito inchado para uma pequena elite do serviço público, enquanto a esmagadora maioria dos servidores não recebe R$ 2.500 por mês.
Esse é um estado que dá centenas de bilhões de reais de isenção fiscal para algumas empresas bem articuladas com o governo federal, mas em que o padeiro se lasca para poder pagar o seu imposto. Eu sempre vou me posicionar desta forma e isso vai fazer com que quem está à minha esquerda não goste, não concorde com o que eu falo, mas você sempre vão ver essa coerência, a defesa de um estado eficiente.
Há emulações sobre essa campanha municipal e a campanha presidencial de 2022, que colocam a senhora como uma terceira via, em relação à ministra Simone Tebet. Hoje, a senhora está há aproximadamente 14 pontos percentuais de distância para o segundo colocado, o prefeito Ricardo Nunes. Em um eventual segundo turno, caso não alcance os votos necessários, a senhora pode sentar para conversar com outras candidaturas?
Eu estarei no segundo turno. E essa é a resposta que eu, quem está do meu lado, que meu time, damos. E tenho algumas diferenças nesse projeto. A primeira delas é que nenhuma das pessoas que, de certa forma, tentaram furar a polarização tinham a intenção de votos que eu tenho. Hoje, a gente tem sólidos 15% num cenário em que eu sou desconhecida pela maioria da população de São Paulo.
Não é à toa que essa é a pré-candidatura que mais cresce. E tem uma outra coisa, é a pré-candidatura que tem praticamente a mesma intenção de votos na classe A e E. Você vê hoje onde o Boulos vai melhor, é na classe A. Acho que isso fala muito da trajetória dele, das propostas que ele tem.
Onde o Nunes vai melhor é na classe E, e a gente está conseguindo furar. Não é ser ponte só entre esquerda e direita. É essa ponte entre o saber que vem da academia e o saber que vem da ponta. Essa é a ponte entre o centro e a periferia.
Edição: Thalita Pires