Temos argumentos para dialogar com governos por políticas públicas e mostrar o que tem dado certo
Organizações que prestam assessoria agroecológica no Nordeste desenvolveram uma série de ferramentas metodológicas para mensurar, com dados e análises, as vantagens de práticas sustentáveis de famílias camponesas e povos e comunidades tradicionais. Batizada de Método Lume, essas ações são realizadas há décadas de forma simples, participativa e processual para realçar as transformações sociais, ambientais e econômicas possibilitadas pelo trabalho de base agroecológica nos territórios.
O Lume é uma abordagem metodológica que, ao longo dos anos, foi desenvolvida pela AS-PTA em parceria com organizações da sociedade civil e redes, como a Rede Ater Nordeste de Agroecologia, que vem cumprindo um papel destacado no aprimoramento do método. O método propõe registrar e compartilhar experiências com soluções concretas para a segurança e soberania alimentar, para a convivência com a natureza e o desenvolvimento sustentável.
:: “Analfabeto é quem não sabe enxergar”: agricultores nordestinos rebatem ataques xenofóbicos ::
De acordo com Rede Ater Nordeste, o método é eficaz para apoiar que a agroecologia possa de fato ser um enfoque orientador para políticas públicas adequadas para famílias e comunidades. "Ao sistematizar com essa metodologia, trazemos o olhar para que outras pessoas observem que isso [o trabalho com base agroecológica] tem valor, que é importante. Temos construído caminhos e dialogado com outros espaços. Por exemplo, a partir do momento que a gente desenvolve uma metodologia dessa, temos argumentos para dialogar com governos por políticas públicas e mostrar o que está dando certo nas comunidades", defende o agricultor Josenildo Apolinário, que mora no assentamento Arcanjo, na zona rural de Soledade, no Cariri paraibano.
Ao longo de décadas, o Lume apoiou um vínculo das organizações da Rede Ater Nordeste de Agroecologia com as pessoas do campo, para a construção coletiva de conhecimentos e na visão sistêmica dos espaços de trabalho das famílias. Por isso, o coletivo defende a ampliação do método em mais espaços de políticas públicas adequadas para apoiar as pessoas que trabalham com enfoque agroeocológico.
:: A dinâmica das narrativas: recontar histórias é conquistar direitos populares no semiárido ::
A Rede Ater Nordeste defende, por exemplo, que o Lume pode favorecer um modelo mais dialógico e agroecológico para o serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater). A partir da realidade de famílias que optam por um trabalho agroecológico, a Rede defende que o método seja incorporado nas chamadas públicas de Ater para garantir o desenvolvimento de uma assistência adequada.
"Uma Ater Agroecológica valoriza o local, valoriza os saberes locais, a natureza, o ambiente, a cultura local. Então, é você trabalhar valorizando saberes e conhecimentos dos povos, contribui para que a gente mude essa relação entre técnico, técnica e agricultores e agricultoras", explica Glória Batista, coordenadora da organização Patac, que atua no estado da Paraíba.
A nossa reportagem entrou em contato com a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) para abrir espaços para possíveis posicionamentos apresentados pelas pessoas entrevistadas no podcast. Mas não tivemos respostas até a data de publicação do podcast.
Esta edição do Coriscos é uma parceria do Brasil de Fato com a Rede Ater Nordeste, formada pelas organizações As-pta, Caatinga, Centro Sabiá, Cdjbc, Cetra, Diaconia, Esplar, Fundação Apaeb, Irpaa, MOC, Patac e Sasop.
Este episódio teve pesquisa, produção, apresentação e roteiro de Daniel Lamir. Também contamos com a parceria de Darlinton Silva, do Centro Sabiá; Denis Monteiro, da Rede Ater NE de Agroecologia; João Ribeiro, da Agroflor; Simone Benevides, do Patac; e Verônica Pragana, da AS-PTA. O tratamento de roteiro é de Camila Salmazio; a sonorização e finalização, de André Paroche. Estratégia de promoção, distribuição e conteúdo digital é de Rafaella Coury. A identidade visual é de Nazura Santos e Rafael Canoba. A direção de programas de áudio fica com Camila Salmazio. A coordenação de Audiovisual é de Monyse Ravena e a direção executiva é de Nina Fideles.
Edição: Thalita Pires