Movimentos populares e organizações do campo democrático reuniram-se na cidade do Rio de Janeiro nesta semana para o "Seminário Nacional de organização da Cúpula dos Povos frente ao G20". Ao todo, mais de 60 entidades participaram dos dois dias de atividades que ocorreram na sede do Sindicato dos Bancários, no centro do Rio de Janeiro, entre quinta (9) e sexta-feira (10).
De acordo com o manifesto divulgado pela organização do seminário, a intenção da Cúpula dos Povos é preparar os movimentos e organizações para apresentar um debate crítico frente aos principais encontros mundiais de chefes de Estado que ocorrerão até 2025 no Brasil.
O primeiro deles é o G20. A chamada Cúpula de Líderes do G20 está agendada para os dias 18 e 19 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro, com a presença de líderes dos 19 países-membros, da União Africana e da União Europeia.
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Entre os principais questionamentos realizados pelos movimentos e organizações que compõem a Cúpula dos Povos frente ao G20 estão as diretrizes de austeridade econômica que prejudicam a população e o chamado greenwashing (“maquiagem verde”) que busca convencer que a financeirização da natureza pode ajudar a mitigar a crise ambiental.
“Os novos temas incorporados a reboque pelo G20 - como emprego, racismo, epidemias, desigualdade, superação da fome, clima, meio ambiente ou energia - só demonstram que as esferas de governança capitalista global requerem monitoramento constante dos efeitos destrutivos das próprias práticas e políticas vigentes no sistema financeiro internacional: para eles, é preciso precificar até a destruição, pois ela também dá lucro”, diz trecho do documento “G20: onde os ricos garantem seus privilégios”, divulgado neste ano pelo coletivo.
Seminário
O seminário desta semana foi o maior encontro presencial até o momento. As entidades sindicais, movimentos populares e organizações da sociedade civil de caráter progressista estão em processo de elaboração da Cúpula dos Povos desde setembro do ano passado com atividades virtuais. A proposta dos dois dias de encontro foi criar um espaço de discussão e formação entendendo a importância da mobilização social para as grandes agendas internacionais que serão sediadas no Brasil.
Durante a mesa “Por que queremos uma Cúpula dos Povos frente ao G20?”, Cássia Bechara, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), ressaltou que a cúpula precisa ter como um de seus principais objetivos construir um diálogo com a população sobre o modelo de sociedade que está em jogo.
“A Cúpula [dos Povos] tem que ser um processo de fortalecer a mobilização popular e um diálogo junto ao povo, um processo que fure a bolha para debater num fórum ativo e organizativo do nosso povo. Tem que ser um processo e não um evento, precisamos chegar nas comunidades e nas periferias”, destacou Bechara.
Na mesma linha da militante do MST, Duda Quiroga, da Executiva Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), pontuou sobre a necessidade de disputar narrativa com o G20 em temas que estão ganhando cada vez mais alcance no debate público.
“Se queremos pensar num processo de continuidade que retome o que foram os processos pedagógicos para a ALCA [Área de Livre Comércio das Américas] em seus territórios, temos que pensar na escolha dos temas e destacar a nossa opinião com relação a eles. É o caso da taxação das grandes fortunas. Não queremos que seja somente 2% o valor e sim mais”, ponderou.
Para saber mais sobre o Grupo dos 20 e suas implicações globais, o BRICS Policy Center (BPC) junto com a rede Jubileu Sul e a Abong produziram o “Caderno para entender o G20 “. A cartilha está disponível gratuitamente para download.
Edição: Mariana Pitasse