O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, voltou a denunciar nesta quarta-feira (8) a tentativa de um “golpe suave” contra o governo colombiano. A fala veio após uma acusação do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país sobre a campanha eleitoral do mandatário. O órgão eleitoral afirma que o presidente extrapolou os gastos permitidos em mais de 5 bilhões de pesos colombianos (R$ 6,6 milhões na cotação atual).
A acusação foi formalizada pelos juízes Álvaro Hernán Prada e Benjamín Ortiz. De acordo com eles, os gastos superaram em 3,7 bilhões de pesos (R$ 4,9 milhões aproximadamente) no primeiro turno e 1,6 bilhão (R$ 2,1 milhões) no segundo turno. A investigação se dá em torno da Sociedade Aérea de Ibagué (SADI), que teria recebido 4 bilhões de pesos (R$ 5,3 milhões), da União Sindical Obrera (USO), por 600 milhões de pesos (R$ 800 mil), e mais 500 milhões (R$ 660 mil) da Federação Colombiana de Educadores (Fecode).
Petro se defendeu e afirmou que as despesas que foram feitas após a eleição foram incluídas na investigação como sendo parte da campanha. “Você pode observar que as doações a partidos se tornaram irregulares mesmo quando são permitidas por lei e que supostas despesas após o término da campanha eleitoral são apresentadas como se estivessem dentro da campanha”, disse o mandatário colombiano.
A expressão “golpe suave” se caracteriza como a tentativa de derrubar um governo sem o uso da violência. Para isso, outros setores políticos usam ferramentas executivas ou judiciais e ataques indiretos para desestabilizar ou impedir a atuação de determinado governante. Nestes casos, os agentes políticos envolvidos dão uma aparente legalidade para os mecanismos usados.
O presidente afirmou ainda que as entidades que fazem parte da coalizão de esquerda Pacto Histórico precisam se reunir e se preparar contra a tentativa de “desrespeito ao voto popular”.
“Estamos diante de uma arbitrariedade: Um órgão administrativo apresenta denúncia contra o Presidente da República. É uma violação constitucional aberta. A resposta está na força do povo. Convido todos os órgãos do Pacto Histórico a reunirem-se imediatamente e as forças sociais do país a prepararem-se contra a tentativa de desrespeito ao voto popular. A democracia entra em emergência”, publicou o presidente em sua conta na rede social X (ex-Twitter).
Petro já havia dito que a Fecode fez uma doação de 500 milhões de pesos colombianos (R$ 635 mil na cotação atual) ao seu partido Colombia Humana, mas que isso não foi destinado à sua campanha eleitoral. Em resposta ao início das investigações, a entidade convocou uma manifestação para apoiar o presidente.
Acusações de Petro
Desde que assumiu em 2022, Petro já denunciou diversas vezes a tentativa de golpe ou desestabilização de seu governo. Em março de 2023, John Marulanda, ex-diretor da Associação de Oficiais Reformados das Forças Militares da Colômbia, disse em uma entrevista que faria “de tudo para destituir um sujeito que foi guerrilheiro” e insinuou que o país deveria seguir o exemplo do Peru, onde o então presidente Pedro Castillo fora afastado do poder. Petro respondeu. Chamou de tentativa de golpe de Estado e pediu investigação sobre o caso.
Em junho, Petro exigiu a renúncia de sua então chefe de Gabinete, Laura Sarabia, e do embaixador colombiano na Venezuela, Armando Benedetti, em meio a ameaças trocadas por ambos que envolviam supostas escutas telefônicas, roubo de dólares e doações de campanha. O presidente colombiano chamou o episódio de "golpe suave para interromper a luta contra a impunidade".
No mesmo mês, intelectuais e líderes políticos de 20 países assinaram uma carta denunciando a tentativa de congressistas de sabotar o governo barrando reformas propostas pelo presidente como a da saúde, a trabalhista e a da previdência. Eles também classificaram esse movimento como "golpe suave". Petro havia rompido com três partidos de direita que compunham sua coalizão após enfrentar essas travas no Congresso. A decisão levou a uma reformulação ministerial e perda de interlocução com setores de centro e de direita no Legislativo. Petro, então, convocou manifestações em apoio às reformas e uma "mobilização permanente" da sociedade.
Em fevereiro de 2024, o presidente disse que o Ministério Público do país tentava derrubar seu governo “pelas vias judiciais”. Naquele período, ele e o procurador-geral Francisco Barbosa estavam travando uma batalha judicial que envolvia acusações contra o então ministro das Relações Exteriores, Alvaro Leyva, por cancelar uma licitação para escolher a empresa que emitiria os passaportes colombianos, e a própria investigação contra as doações da Fecode.
Edição: Lucas Estanislau