Os principais representantes da Central Geral dos Trabalhadores (CGT) na Argentina avaliaram que a segunda greve geral deste ano nesta quinta-feira (9), no quinto mês do governo de Javier Milei, atingiu seus objetivos. “A greve os machucou”, disse Pablo Moyano, dirigente da CGT que representa os caminhoneiros. Ele afirmou que a CGT manterá o plano de luta “com maior vigor”, caso o governo Milei mantenha as medidas de arrocho contra os trabalhadores.
Convocada pela Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a mobilização abrange todos os setores do país: indústria, comércio, bancos, ensino público e privado, e funcionalismo público em nível municipal, estadual e nacional. As ruas da capital argentina, Buenos Aires, permaneceram vazias ao longo desta quinta (9). Assim como estações de ônibus, metrô e aeroportos do país.
Para Héctor Daer, dirigente da CGT e representante da Federação Argentina das Associações de Trabalhadores da Saúde, "a contundência da paralisação demonstra que o governo tem que tomar nota e reconfigurar sua política de ajuste".
"Sua política está levando os trabalhadores e trabalhadoras a extremos que dificilmente podem ser recuperados se essas políticas seguirem adiante", afirmou Daer.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o secretário sindical da Federación de los Aceiteros (Federação dos Trabalhadores de Oleaginosas), Ezequiel Roldan, descreve sem titubear o governo de Milei como "um governo que está tentando destruir todos os direitos dos trabalhadores".
A Federação é uma das organizações sindicais mais combativas do país, que organiza os trabalhadores em um dos setores estratégicos da produção argentina: o complexo de exportação de soja e derivados. A combinação de atitude sindical combativa e localização estratégica na produção permitiu que eles alcançassem alguns dos melhores salários da classe trabalhadora na Argentina.
“Encerramos as negociações e poderíamos ter nos acomodado em nossa zona de conforto. Mas, como Federação não estamos lutando apenas por nossos salários. Acreditamos que todos os trabalhadores precisam receber um mínimo que cubra suas necessidades. A questão é lutar por isso. Os sindicatos precisam exigir o balanço de lucros das empresas. E se há empresas que não podem pagar, elas têm de provar isso mostrando os balanços correspondentes aos seus lucros", afirma ele.
Prestes a ser votada no Senado nas próximas semanas, a Lei de Bases ou Lei Ônibus, como ficou conhecida, foi um dos alvos principais da mobilização grevista. Aprovada em votação na Câmara dos Deputados, a lei concede poderes especiais ao Executivo, prevê a privatização de empresas públicas, a eliminação da moratória previdenciária, uma reforma trabalhista e um pacote fiscal.
“A única maneira de implementar seu plano econômico é destruindo todos as conquistas que nós, a classe trabalhadora, obtivemos. É por isso que um dos núcleos da mega lei que eles pretendem aprovar no Congresso é uma reforma trabalhista que acabará com os direitos dos trabalhadores de se organizarem e protestarem", aponta Roldan.
Na tarde desta quinta-feira (9), os sindicatos e organizações piqueteras (movimentos populares atuantes no país) que integram o Encontro de Trabalhadores Ocupados e Desocupados convocaram uma conferência de imprensa na Praça do Congresso.
“Estamos aqui para defender as conquistas de nossos pais e avós” disse o dirigente do Sindicato Único dos Trabalhadores de Pneus (Sutna), Alejandro Crespo, que classificou a Lei Ônibus como uma “reforma inconstitucional”, que precisa ser combatida pela classe trabalhadora. “Estamos começando a ver uma resposta proporcional ao ataque frontal que os trabalhadores argentinos estão recebendo”, disse sobre a mobilização desta quinta (9).
Resposta do governo
O presidente argentino, Javier Milei fez uma postagem onde afirma que a palavra “paro” (paralisação em espanhol) também significa “desnudo e descoberto”. “Portanto, isto significa que aqueles que promovem a paralisação foram desnudados, revelando o tipo de pessoas que são.”
Em coletiva de imprensa, o porta-voz do governo argentino, Manuel Adorni, também atacou os sindicatos e afirmou que a paralisação “atenta contra o bolso e a liberdade das pessoas”.
A ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, tentou pegar um dos poucos ônibus públicos que estava circulando para contestar a força do movimento grevista, mas seu bilhete de transporte estava sem saldo.
El blooper de Patricia Bullrich: subió a un colectivo, pero la SUBE no tenía saldo. pic.twitter.com/ClGKZqijS1
— Agencia El Vigía 🇦🇷 (@AgenciaElVigia) May 9, 2024
Edição: Rodrigo Durão Coelho