'MÁQUINA DE GUERRA'

Exército brasileiro fecha contrato de R$ 1 bilhão com empresa que lucra com massacre em Gaza

Companhia israelense vendeu drones usados em bombardeios contra civis; deputada e Movimento BDS cobram embargo de armas

Brasil de Fato | Londrina (PR) |
A ONU diz que a cada dia 37 mães palestinas são assassinadas em Gaza - AFP

O Exército brasileiro decidiu comprar 36 viaturas blindadas de combate, conhecidas como obuseiros, da israelense Elbit Systems, uma das maiores fabricantes de armas e sistemas militares de Israel.

Os artefatos fabricados pela empresa são utilizados pelo governo israelense para bombardear a Palestina, na ofensiva que já resultou na morte de mais de 30 mil palestinos desde outubro de 2023.

A compra dos armamentos deve totalizar quase R$ 1 bilhão. No processo licitatório, a israelense foi a preferida entre empresas da França, China e Eslováquia.

O motivo da escolha é a existência de subsidiárias brasileiras da Elbit, que poderiam garantir o suprimento de munição e suporte logístico. As informações são dos jornais Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo.

Brasil é cobrado por embargo de armas

O BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), um movimento global que articula o boicote econômico ao Estado de Israel, defende um "embargo total" de armas a Israel, assim como fez a Colômbia de Gustavo Petro.

"O Brasil está se tornando um cúmplice feroz ao financiar indiretamente o genocídio israelense através dessas contratações", afirmou Andressa Soares, do movimento BDS.

A deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) declarou ao Brasil de Fato que a compra de armamentos israelenses faz com que o Brasil "fortaleça a máquina de guerra sionista" e contradiz o posicionamento da diplomacia brasileira.

"Não adianta apenas condenar o massacre contra o povo palestino em discursos, é preciso ações concretas, como o rompimento de todos os acordos comerciais, que é o que estamos exigindo desde o início do genocídio", afirmou Melchionna.

No final de fevereiro, Lula (PT) chamou de "genocídio" a operação israelense na Palestina e, por isso, foi declarado "persona non grata" em Israel pelo ministro das Relações Exteriores, Israel Katz.

O Brasil de Fato procurou os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores. Caso haja respostas, a reportagem será atualizada. 

"Genocídio" é um bom negócio

A Elbit declarou à imprensa internacional que aumentou as vendas após a ofensiva de Israel na Palestina iniciada em outubro de 2023. Segundo a empresa, os pedidos de armamentos subiram para 17,8 bilhões de dólares no ano passado, após totalizarem 15,1 bilhões de dólares em 2022.

Não é a primeira vez que as Forças Armadas brasileiras fecham contratos milionários com fabricantes de armas israelenses. Em março deste ano, Fernanda Melchionna questionou um contrato entre a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Israel Aerospace Industries (IAI), uma das gigantes mundiais na fabricação de aeronaves.

A FAB contratou a empresa para fazer manutenção em dois drones de vigilância. O custo total foi de R$ 86,1 milhões, que não passou por licitação.

Drone da Elbit matou voluntários em Gaza, diz organização

A Action Center for Corporate Accountability (Centro de ação para responsabilização corporativa, em tradução livre), organização norteamericana que expõe empresas lucrando com guerras, afirma que ambas as empresas – Israel Aerospace Industries e Elbit Systems – fornecem tecnologia para as forças israelenses atacarem a Palestina.

Segundo a Action Center for Corporate Accountability, a Elbit é a maior fabricante de armas de Israel. A organização afirma que um drone produzido pela empresa foi o responsável pelo bombardeio que matou sete trabalhadores humanitários em Gaza da World Central Kitchen, que distribuía comida para palestinos.

Andressa Soares, do movimento BDS, cobrou um posicionamento do presidente Lula (PT). "A gente sabe que essa postura [de comprar armas israelenses] não necessariamente está vindo do gabinete da presidência, mas a gente precisa que o presidente, como chefe de Estado, se posicione contra essas contratações", opinou.

Edição: Nicolau Soares