O dia 1º de maio, comemorado como o Dia Internacional dos Trabalhadores, foi adotado em 1889 durante o primeiro congresso da Segunda Internacional. A organização que reunia partidos socialistas e organizações de trabalhadores de diferentes partes do mundo, tinha como objetivo coordenar diferentes lutas pela extensão dos direitos civis e trabalhistas contra o despotismo do sistema capitalista.
Realizado no centenário da Revolução Francesa, foi nesse congresso que se decidiu convocar as organizações de trabalhadores - filiadas ou não à Segunda Internacional - para que organizassem em seus respectivos países protestos e manifestações com o objetivo de lutar pela jornada de trabalho de oito horas.
Durante décadas, a luta por “8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas de recreação” vinha ganhando força em diferentes partes do mundo. Naqueles anos, as jornadas de trabalho nas fábricas chegavam a 14 horas, com condições subumanas, em que era comum até mesmo crianças e mulheres terem de trabalhar sem qualquer liberdade, exceto a escolha entre morrer de fome ou de doenças contraídas no local de trabalho.
Naqueles anos, era comum que empregadores e governos acusassem o movimento das oito horas de trabalho de ser “irresponsável”. Com a ameaça de que a implementação das oito horas levaria ao colapso econômico.
O Dia Internacional dos Trabalhadores foi comemorado pela primeira vez o dia 1º de maio de 1890. A data escolhida foi homenagem aos Mártires de Chicago, os cinco líderes operários anarquistas executados nos Estados Unidos por participarem dos protestos pela jornada de trabalho de oito horas, iniciados três anos antes, no 1º de maio de 1886.
Aquele julgamento foi uma farsa em que nem o devido processo legal nem os direitos dos acusados foram respeitados. A imprensa de direita sustentava sem nenhuma prova a culpa de todos os réus e afirmava “a necessidade de enforcar os estrangeiros anarquistas”.
Patria é Humanidade
O movimento trabalhista cubano foi um dos primeiros no continente a comemorar o que seria o primeiro Dia Internacional dos Trabalhadores. Nesse dia 1º de maio de 1890, o então Círculo de Trabalhadores de Havana organizou um desfile que culminou em cerimônia diante de mais de 3 mil pessoas. Cerca de vinte líderes operários discursaram.
Naquela época, Cuba ainda era uma das últimas colônias espanholas remanescentes no continente e o sonho de independência dos trabalhadores cubanos estavam intimamente ligados à emancipação dos trabalhadores. A revolução social e a independência nacional faziam parte da mesma bandeira.
Ao longo dos anos, as lutas do movimento operário cubano acumularam vitórias e derrotas. Sendo assim, o 1º de maio é uma data inevitável nos calendários das lutas rebeldes do movimento popular cubano. Uma data que teve que enfrentar a repressão de diferentes governos em mais de uma ocasião.
Uma das celebrações mais importantes ocorreu em 1925. Por essa data, os trabalhadores de Cuba encontravam-se em meio à greve geral. Naquela ocasião, o líder estudantil Julio Antonio Mella - um dos fundadores do Partido Comunista Cubano - e Alfredo López, secretário-geral da Confederación Obrera de La Habana-, pronunciaram enérgicos discursos diante de quase 40 mil pessoas reunidas.
Anos depois, a comemoração foi proibida após o golpe de Estado liderado por Fulgencio Batista em 10 de março de 1952. A partir desse momento, todas as manifestações do Dia Internacional dos Trabalhadores foram severamente perseguidas pelo regime ditatorial.
A repressão forçou o movimento dos trabalhadores a continuar suas lutas na clandestinidade. Esses foram os anos da Guerra Revolucionária, quando diferentes organizações, como o 26 de Julho - liderado por Fidel Castro -, o Diretório Revolucionário 13 de Maio e o Partido Socialista Popular, enfrentaram a ditadura de Batista apoiada pelos Estados Unidos.
Com o triunfo revolucionário de 1959, todo 1º de maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, adquiriu um novo impulso e significado.
Uma tarde sob a bandeira vermelha
Cinco meses haviam se passado desde a queda da ditadura de Batista. Ainda faltariam dois anos para que Fidel anunciasse pela primeira vez o caráter socialista da Revolução.
Naquela época, com o triunfo da Revolução, os líderes revolucionários se propuseram a reduzir a pobreza e alfabetizar a população - em um país devastado pela desigualdade. No entanto, para atingir esses objetivos, era preciso mudar a estrutura econômica do país.
Naquele primeiro 1º de maio da Revolução, em 1959, foram celebrados atos em toda Cuba. Aqueles meses transcorreram intensamente e a ilha era uma verdadeira ebulição. Os diferentes líderes do movimento 26 de Julho estavam em todo o país. Raúl Castro foi o principal orador em Havana, enquanto Camilo Cienfuegos estava na província de Camagüey e Ernesto Che Guevara em Santiago de Cuba.
Em todos os seus discursos, eles falaram sobre a importância da unidade nas filas revolucionárias. Eram tempos de grande incerteza e os boicotes contra a revolução estavam começando a ser fortemente incentivados pelos empresários e proprietários de terras cubanos.
Naquele Dia Internacional dos Trabalhadores, Che Guevara afirmou que a base do novo governo revolucionário era “a classe trabalhadora e os camponeses”. Deixando de fora os setores dominantes do país. E anunciou novamente que o governo cumpriria sua promessa de realizar a Reforma Agrária.
“Já dissemos mil vezes e repetimos agora que a base essencial deste governo e os únicos com quem ele assumiu compromissos que não podem ser quebrados são os camponeses e as classes trabalhadoras. E a lei mais importante deste período da nossa história, a lei que vai mudar o panorama econômico do país e que também vai mudar o panorama social é a Reforma Agrária", declarou Che em meio aos aplausos e gritos das milhares de pessoas que se reuniram para comemorar.
Dias depois, em 17 de maio de 1959, foi assinada a Lei da Reforma Agrária. Com essa medida, o governo revolucionário distribuiu as terras do latifúndio entre mais de 100 mil famílias de camponeses, que até então viviam na mais profunda pobreza. Estima-se que, antes dessa medida, 80% das terras férteis estavam nas mãos de empresas estadunidenses.
A Lei de Reforma Agrária enfureceu o governo dos EUA, que, a partir de então, adotou uma política de confronto aberto contra Cuba.
Revolução é um sentido do momento histórico
Todos os anos, o Dia Internacional dos Trabalhadores é uma das datas mais importantes comemoradas em Cuba. Delegações de todo o mundo viajam à ilha para participar das comemorações, visitar cooperativas de trabalhadores e acompanhar o povo cubano em sua mobilização.
Como Fidel disse, a história do Primeiro de Maio também serve para contar a história de cada país. Num memoravél discurso no 1º de maio de 1962, declarou que “O que acontece no Primeiro de Maio serve para definir a política de um país. Onde quer que os trabalhadores sejam oprimidos, onde quer que a classe trabalhadora seja vítima da mais feroz exploração, não se pode sequer falar em Primeiro de Maio; onde quer que o imperialismo e os regimes exploradores que o apoiam decidam a política de qualquer país do mundo, os trabalhadores não podem sequer se reunir no Primeiro de Maio".
Depois de mais de 40 anos de história da Revolução, em 1º de maio de 2000, Fidel fez um discurso no qual deu uma das mais importantes definições do significado da Revolução Socialista. Frente à Tribuna Aberta da Juventude, ele expressou:
“Revolução é sentido do momento histórico; é mudar tudo o que deve ser mudado; é a plena igualdade e liberdade; é ser tratado e tratar os outros como seres humanos; é nos emanciparmos por nós mesmos e com nossos próprios esforços; é desafiar as poderosas forças dominantes dentro e fora da esfera social e nacional; é defender os valores em que se acredita ao preço de qualquer sacrifício; é modéstia, abnegação, altruísmo, solidariedade e heroísmo; é lutar com audácia, inteligência e realismo; é jamais mentir ou violar princípios éticos; é a profunda convicção de que não há força no mundo capaz de esmagar a força da verdade e das ideias. Revolução é unidade, é independência, é lutar por nossos sonhos de justiça para Cuba e para o mundo, que é a base de nosso patriotismo, nosso socialismo e nosso internacionalismo.”
Edição: Rodrigo Durão Coelho