Cada vitória do governo tem seu preço, pois só mais e mais emendas acalmam o coração de Arthur Lira
Olá!
Cada vitória do governo tem seu preço, pois só mais e mais emendas acalmam o coração de Arthur Lira.
.Não vale a pena ver de novo. O enredo de tão repetitivo, já ficou previsível. Quando as emendas não caem na conta, Arthur Lira chia, esperneia, ameaça com pautas-bombas, ataca os ministros… Lula tem que entrar em campo pessoalmente e o misto de coronel com menino mimado que preside a Câmara acalma o coração. Dessa vez, o governo havia prometido R$ 14,5 bilhões em emendas de saúde e assistência social até o fim de junho, mas “apenas” R$ 5 bilhões foram autorizados. Foi o suficiente para a histeria do reizinho na semana passada. E em menos de três dias, o governo liberou o dobro que na semana anterior. Pronto. Lira pediu desculpas para Alexandre Padilha, desconversou das pautas-bombas e ficou tudo por isso mesmo. Nem todas as bombas foram desarmadas e o presidente da Câmara não abriu mão de recriar o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), causando um rombo de R$15 bilhões. A paz deve durar até o próximo atraso, porque a meta de Lira e do centrão é receber mais R$ 37 bilhões em emendas antes das eleições. Há também outros motivos para a oscilação de humor de Lira, mas todos sempre têm a ver com dinheiro. Um deles é o despacho de Flávio Dino, agora no STF, pedindo o fim da farra do orçamento secreto e de sua sucessora, as emendas via Pix. Outro é o fiasco da liderança de Elmar Nascimento na tentativa de libertar Chiquinho Brazão, que queimou os cartuchos do favorito à sucessão de presidente da Câmara. Como resultado, Lira teme que o governo construa uma outra candidatura sem o seu aval, e no meio-termo o nome de Marcos Pereira, do Republicanos, ganhou força. O que incomoda também é o protagonismo de Rodrigo Pacheco, que impediu uma derrota do governo, adiando a votação dos vetos presidenciais para maio. Mas, apesar da amizade com o Planalto, Pacheco também tem que desarmar a sua própria bomba: a PEC que aumenta salários do Judiciário a cada 5 anos e que agora ganhou a oposição também dos governadores.
.Tirando o atraso. Ironicamente, os frequentes jogos de cena de Arthur Lira podem ser usados pelo governo quando precisa ganhar tempo. Como no caso da regulamentação da reforma tributária, que só agora foi entregue à Câmara. A estratégia de Haddad de segurar o texto para encurtar o tempo de tramitação no Congresso diminui a possibilidade dos lobbies incidirem sobre um projeto que afeta muitos interesses. Agora, virá o ajuste fino que passa pelo detalhamento de percentuais e mecanismos, mas se o Congresso mantiver o espírito progressivo da proposta, superando um sistema tributário que hoje encontra-se entre os dez piores do mundo, Haddad poderá comemorar. Seja como for, todos têm pressa, incluindo Lula e Arthur Lira, já que a aprovação antes de outubro poderá render frutos eleitorais. Na outra ponta, enquanto negociava as pazes com o centrão, Lula aproveitou para dar uma alfinetada no mercado e no seu representante, Roberto Campos Neto. O que se explica tanto pela necessidade de enfrentar a queda na popularidade, associada à persistência da inflação, quanto para aproximar-se de um dos setores mais massacrados pelos bancos. Afinal, mesmo que o nível de pobreza extrema esteja em queda e seja o mais baixo da série histórica, segundo cálculos da FGV, quem está cada dia mais descontente é a “classe média”. E é para agradá-la que Lula lançou um programa de refinanciamento de dívidas e concessão de empréstimos inspirado no Desenrola, dessa vez voltado para os microempreendedores. Porém, para que as políticas públicas se convertam em popularidade, há ainda dois obstáculos. O primeiro é enfrentar o encurtamento do orçamento, já que uma parte cada vez maior é abocanhada pelo Congresso, enquanto falta para o reajuste dos servidores federais, por exemplo. Outro problema é o ruído na mídia e das redes sociais, que preferem dar visibilidade ao chilique de um bilionário sul-africano ou do presidente da Câmara do que para os feitos do governo. Por isso, a aposta de Lula é melhorar a comunicação, especialmente nas redes sociais, com um investimento pesado para segmentar as mensagens a partir dos próximos meses.
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Edição: Vivian Virissimo
