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Livrarias de rua ganham espaço no centro de São Paulo e atraem público com atividades além da leitura

Livraria Expressão Popular, Na Nuvem e Sala Tatuí estão entre os espaços que ocupam o centro de São Paulo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Thais Yamashita, editora da Expressão Popular, afirma que estar localizada no centro de São Paulo é “estratégico” para a livraria - Expressão Popular/Divulgação

Algumas livrarias de rua têm ganhado espaço na região central de São Paulo, com atividades que vão além da venda de livros. A Livraria e Editora Expressão Popular, por exemplo, divide o espaço com o Armazém do Campo, que comercializa produtos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na Alameda Nothmann. 

Thais Yamashita, editora da Expressão Popular, afirma que ter uma loja no centro de São Paulo é "estratégico" para a livraria. O objetivo é "estar num espaço de acesso ao público, como em São Paulo, como uma grande metrópole, e estar no centro da cidade é estratégico para acessar o público leitor que a gente tem interesse em atingir e como um espaço de atuação política". 

Yamashita destaca a importância de estar na região, principalmente em um contexto de gentrificação – quando os espaços passam por uma especulação imobiliária, tornando o custo de moradia elevado e expulsando as populações mais pobres –, mas não perde de vista a relevância de também estar nos bairros periféricos.  

"Quando a gente fala em batalha das ideias, é importante estar nesse território, obviamente nas periferias, que a gente consegue distribuir livros a partir de grandes campanhas, mas também de projetos populares que estão nesses locais. É importante ocupar esse espaço do centro, mas sem perder de vista esse espaço das periferias, com outros atores e com outros parceiros que já estão presentes", afirma Yamashita.  

"A gente vive numa região vulnerável, mas que é histórica, e tem que ter esse cuidado de entender também como o Estado atua. Obviamente que a gente faz parte desse processo, mas não nessa compreensão da gentrificação. Mas pelo contrário. É um espaço de resistência. Então, a livraria historicamente foi esse local de acolhida da população dos entornos."

Outro espaço da região central é a Livraria Na Nuvem, localizada na Alameda Eduardo Prado. Roberto Soqueira, sócio do comércio, endossa o coro da importância de ocupar o bairro.   

"O centro de São Paulo vive um processo de destruição, de associar o centro ao consumo de crack, à marginalidade, a uma série de problemas, o que está ligado à gentrificação, que é destruir, desvalorizar, comprar barato e construir em cima. E aí mudar o perfil do público. É um processo muito cínico. Até criminoso. A gente está aqui para afirmar as coisas aqui no centro são bonitas. As coisas aqui são bem-feitas", afirma.  

"O centro não é o que pintam e que estão tentando desvalorizar. Então a gente quer criar coisas muito bonitas no centro. A gente tem um espaço muito bonito, muito bem montado, muito bem pensado. A gente tem o exemplo do novo Armazém do Campo, que ficou um espaço lindo. Essas boas opções têm que começar a surgir."

A Livraria Na Nuvem divide o espaço com o Café Colombiano. Para Soqueira, o fato de dividir o local com um café contribui para dar mais movimento ao comércio. "Eu digo que a gente também vende o livro, porque o foco principal da livraria é ser um ponto de encontro e de referência cultural. A gente trabalha muito eventos, mas muito mesmo. A gente busca trazer escritoras, escritores, editoras, editores, gente do mundo da literatura e gente do mundo das artes para conversar. A gente convida as pessoas do bairro e de fora do bairro para se juntarem aqui nesses bate-papos", afirma. 

"A gente é uma livraria. Então a gente vende cultura, a gente vende conhecimento. A gente proporciona um encontro de pessoas que gostam de livros, que gostam de falar sobre literatura, sobre humanidades. E a gente encontra as pessoas que estão dispostas a isso, principalmente na região do centro da cidade. É importante ter livrarias em outros polos, até para criar esses centros."

A poucos quarteirões dali está um terceiro espaço que funciona na mesma lógica: a Sala Tatuí. João Varella, fundador do comércio, afirma que o centro de capital paulista pode ser visto como um "ponto de convergência para pessoas de diferentes bairros e regiões, o que a torna mais acessível para um público diversificado".  

"A região central da capital paulista é rica em história, arte e cultura. A presença de livrarias nessa área contribui para a preservação e disseminação do conhecimento, bem como para a promoção da literatura e das artes. A presença de livrarias como a Banca Tatuí enriquece a vida cultural da cidade e oferece um espaço para encontros e discussões", afirma.  

Em suas palavras, a presença de livrarias de rua funciona como um "contraponto" a um espaço de "múltiplas tensões", como é o centro de São Paulo, "oferecendo um espaço inclusivo e acessível". "Vejo as livrarias como um refúgio para as pessoas se sentirem seguras, respeitadas e com acesso aos portais de conhecimento e cultura que chamamos de livros. Implantar uma livraria no centro de São Paulo é um esforço para equilibrar o desenvolvimento urbano, garantindo o acesso à cultura e o debate de ideias", afirma.  

Em 2018, a Banca Tatuí passou a funcionar paralelamente à Sala Tatuí, que reúne cursos sobre escrita, encadernação, design, entre outros temas, clubes de leituras e a comercialização de livros.  

Edição: Thalita Pires