Depois de ter circulado pela região sudeste, a peça Três maneiras de tocar no assunto começa nesta sexta-feira (19) uma turnê, com entrada gratuita, pelo norte e nordeste do país.
A peça interpretada por Leonardo Netto, com direção de Fabiano de Freitas, estreia no Recife (PE) e segue depois para o interior do estado, em Petrolina. Ao todo, circulará por 17 cidades.
O espetáculo é dividido em três atos, que abordam de diferentes maneiras a LGBTfobia e a mobilização da sociedade pela garantia de direitos. O primeiro momento é, de certa forma, autobiográfico, quando o ator conta sobre o bullying que sofreu na escola.
“Eu simplesmente não gostava de jogar futebol, gostava de ler e usava óculos, pronto. Não tem anda a ver com sexualidade, tem a ver com comportamento de alguma forma”, explica Netto em entrevista ao programa Bem Viver desta quinta-feira (18)
Depois, a peça faz uma viagem no tempo e remonta o episódio conhecido como Revolta de Stonewall, em 28 de junho de 1969, nos Estados Unidos, quando frequentadores de um bar famoso por reunir público LGBTQIA+ reagiram às agressões feitas por policiais no local.
Por fim, a dramaturgia volta ao Brasil e faz um relato do preconceito dentro do congresso nacional, se embasando em episódios vividos pelo ex-parlamentar Jean Wyllys.
Netto está empolgado com a nova turnê. “Acho que a arte tem esse poder, tem esse dever. A melhor arte é quando ela consegue fazer isso, modificar, transformar as pessoas, transformar o pensamento, despertar o senso crítico.”
Todos os espetáculos serão 100% acessíveis, com intérpretes de Libras, audiodescrição, monitoria para pessoas com deficiência intelectual e em locais com estrutura como corrimões, rampas, banheiros adaptados, iluminação adequada e plateia com reserva de espaços para pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida.
Os ingressos podem ser retirados pelo link e também presencialmente nos teatros 1h antes das apresentações.
Confira a entrevista e, ao final, todos as datas e locais de circulação da peça:
Brasil de Fato: O nome da peça já nos leva a imaginar que é um convite, uma convocação a falar de um problema, colocar sobre a mesa e apertar todas essas nossas feridas. Essa é a ideia?
Leonardo Netto: Essa é ideia. São três maneiras porque aborda a intolerância de uma forma geral e a homofobia de forma específica em três instâncias da sociedade moderna.
Na escola, que é o começo da formação do ser humano. A relação com a lei, com a perseguição pela polícia de forma legal, quando, ainda, a homossexualidade era crime, por exemplo. E como política de Estado, como e de que forma isso se manifesta no âmbito do governo, do Congresso Nacional, nas criações de leis de proteção ou de cidadania que agraciem a comunidade da LGBTQIA+
A peça também evidencia que vivemos numa sociedade intolerante. Queria que você comentasse um pouco sobre quais são os riscos e as ameaças de vivermos numa sociedade que não sabe conviver com a diferença, com a diversidade, na profundidade. Qual é o grande problema de uma sociedade intolerante?
O problema de uma sociedade intolerante é que o preconceito não atinge apenas o alvo do preconceito. Ou seja, não é só o preconceito contra a comunidade LGBT.
Porque teve o caso do pai e do filho que foram agredidos numa feira agro em São Paulo, no interior de São Paulo, porque estavam abraçados e pensaram que era um casal e não eram, era um pai e filho.
Ou os dois irmãos que foram assassinados, também porque estavam andando abraçados e acharam que eram namorados, eles eram irmãos.
Então a intolerância da sociedade atinge qualquer um. Porque é como uma coisa irracional, é uma coisa que vem com a emoção, com uma rejeição descabida. Ela não é certeira. Qualquer cidadão está sujeito a sofrer uma violência vivendo em uma sociedade intolerante, porque podem achar que você é.
Fora isso, tem o preconceito contra a própria comunidade LGBTQIA + de todas as formas, por usar um pano na rua as pessoas são de uma violência, de uma selvageria que não tem mais lugar no século 21.
A peça é dividida em três partes, você já nos explicou um pouco no geral, mas eu queria aprofundar algumas coisas. Na primeira, você se refere a essas situações em torno da infância, no ambiente escolar. Como foi essa imersão no mundo da infância? O que você viu ou ouviu e porque considerou o crucial trazer elementos da infância para o espetáculo?
Porque eu acho que qualquer pessoa LGBTQIA+ encontra na escola o primeiro enfrentamento com o preconceito e a violência através do bullying. Eu fui uma criança que sofreu bullying na escola, por conta disso.
Eu estou falando de quando eu tinha sete anos de idade. Eu não tinha sequer sete anos no começo dos anos 1970, que não é a mesma coisa que ter sete anos de idade hoje. Sete anos de idade no começo dos anos 1970 eu era muito mais ingênuo, não tinha sexualidade nenhuma.
Eu simplesmente não gostava de jogar futebol, gostava de ler e usava óculos, pronto. Não tem anda a ver com sexualidade, tem a ver com comportamento de alguma forma.
Eu estudei na mesma escola desde a alfabetização até fazer o vestibular, com as mesmas pessoas. Então isso durou dos meus sete anos até os 17. Foi uma coisa que se estabeleceu no começo da minha vida escolar e durou a vida inteira. Foram vários tipos de violência, física, psicológica.
Uma vez um psiquiatra falando que o ambiente escolar é um ambiente de uma violência muito sofisticada. A escola é um lugar extremamente violento. Então eu quis começar por isso, a partir da minha experiência pessoal e de experiências que eu pesquisei de casos, inclusive de casos famosos.
Então o primeiro solo é uma espécie de aula de bullying, o que é, como praticar e quais são as consequências, ministrada por uma espécie de professor que está falando diretamente com a plateia sobre isso e às vezes coloca para a tela no lugar de quem sofre bullying, às vezes no lugar de quem pratica o bullying, faz o bullying, e às vezes no lugar de quem assiste o bullying, sem fazer nada, também é uma forma de violência muito séria.
Na segunda parte fala de um episódio histórico lá nos Estados Unidos, a Revolta de Stonewall. Queria que você explicasse um pouco o que foi essa revolta, qual foi o contexto dela e o que link você busca com o seu texto desse episódio lá nos Estados Unidos da década de 1960.
A segunda parte fala sobre a Revolta de Stonewall. Eu escrevi um personagem fictício que não existiu na vida real, mas que seria uma pessoa que estava presente na noite da revolta de Stonewall.
A revolta de Stonewall aconteceu em junho de 1969 em Nova Iorque. O Stonewall era um bar para homossexuais, um bar gay, que era constantemente investigado pela polícia e os clientes eram atingidos, eram presos, porque a homossexualidade era considerada crime, na época. Na Inglaterra foi crime até 1967, em 1967 deixou de ser crime e nos Estados Unidos, em 1969 ainda era crime.
Até que uma noite os clientes do bar se revoltaram contra aquela situação, contra aquela violência sistemática permanente e resolveram enfrentar a polícia, fisicamente, saíram na porrada com a polícia.
E esse é um fato marcante, é o fato inicial da luta pelos direitos civis [da comunidade]. Tanto que o dia da revolta, que foi o dia 28 de junho, é o dia do orgulho LGBT mundial, porque foi nesse dia que aconteceu a revolta.
A partir daí, no ano seguinte, em 1970, na data, 28 de junho, saiu a primeira parada do orgulho gay em Nova York. Então o Stonewall é um fato importante para o mundo inteiro.
Algumas pessoas me questionaram por que eu não utilizei um fato da história do Brasil, já que temos histórias um pouco mais tarde, assim, em São Paulo, fatos parecidos com esse e tal. Porque eu acho que o Stonewall seria um marco mundial, é o primeiro da história.
Então, eu quis ouvir falar dele. Fiz uma pesquisa muito aprofundada sobre a noite da revolta, consegui pesquisar depoimentos de pessoas que estiveram presentes, que são remanescentes dessa história.
Encontrava diferenças de relatos entre uma pessoa e outra. Um falava uma coisa, outro falava outra sobre o mesmo momento, mas eu acho que consegui tirar, se não um relato extremamente fiel, mas o mais próximo disso, assim, sobre o que aconteceu.
Esse personagem conta como uma pessoa que viveu lá, que esteve lá, que viveu aquilo, conta na primeira pessoa o que aconteceu naquela noite.
E o que é que você percebe do momento histórico que a gente vive hoje no Brasil?
O momento que a gente vive hoje no Brasil é uma coisa assustadora, porque mesmo as coisas já conquistadas, há muito tempo… Eu estou falando não só da questão LGBTQIA+, mas, também, da coisa comportamental, assim, dos valores dos costumes.
Por exemplo, a questão do aborto. A gente já tem muitos anos três situações previstas por lei onde o aborto é legal, no caso do estupro, no caso de anecefalia e no caso de risco de vida para a mãe.
Mesmo assim, ainda estão querendo voltar atrás e que nem isso seja possível. Nós já conquistamos a direita união estável gay, homossexual, até isso agora querendo voltar, não querendo que valha mais.
O terceiro ato, que se chama o Homem no Congresso Nacional, é muito baseado na figura do Jean Wyllys, que foi um deputado, assumidamente gay, que lutou por essa causa e por outras causas, mas por essa causa enfrentou bullying dentro da Câmara.
E aí a gente faz no fashion ciclo que volta a questão do bullying, como acontece na escola. Ele dizia que sofria bullying como se tivesse na quinta série do colégio, dentro do Congresso Nacional.
Então, é um deputado, que não é o Jean, na peça, mas que se usa de discursos do Jean, de trechos de falas Jean, para fazer um discurso para os seus pares deputados dentro do Congresso.
E aí ele expõe não só o bullying que ele sofre dentro do Congresso, como todo esse retrocesso de políticas de públicas relacionadas a esse tema.
A peça me lembra muito o Bertolt Brecht quando ele fala que a gente não pode naturalizar as coisas, e a arte entra nesse papel do confronto, o texto vai nessa linha. Você espera que a arte tenha que cumprir esse papel de confrontar a sociedade, tirar essa naturalidade do preconceito, essa naturalidade dos problemas sociais?
Eu acho que não só tem esse papel como ter essa obrigação. Quando ela consegue fazer isso, é tão eficaz que ela é transformadora. A cultura é tão atacada por governas ditatoriais, porque governos ditatoriais têm medo do que a arte pode provocar nas pessoas como pensamento.
Então por isso que a cultura é sempre o primeiro ministério que deixa de existir, a primeira atividade que para de ter incentivo.
De uns anos para cá, os artistas já estão sendo demonizados como mamadores das tetas do Estado, como se fosse fácil ter acesso a Lei Rouanet. A quantidade de coisas que a gente tem que prestar conta. A gente não pode comprar um lápis fora do que está previsto.
É uma dificuldade, então assim, dizer isso é uma injustiça. Porque nós somos sempre os primeiros a não ter qualquer tipo de apoio, que agora somos os primeiros a ser demonizados. E somos os que mais andamos na linha reta.
Acho que a arte tem esse poder, tem esse dever. A melhor arte é quando ela consegue fazer isso, modificar, transformar as pessoas, transformar o pensamento, despertar o senso crítico.
Recife/PE • Teatro Apolo • 19 e 20 de abril, sexta e sábado, às 20h
São Luís/MA • Teatro João do Vale • 24 e 25 de abril, quarta e quinta, às 20h
Fortaleza/CE • Teatro Dragão do Mar • 27 e 28 de abril, sábado e domingo, às 19h
Petrolina/PE • Teatro Dona Amélia • 02 de maio • quinta, às 20h
Natal/RN • Casa da Ribeira • 04 e 05 de maio • sábado, às 20h, e domingo, às 19h
Caicó/RN • Centro Cultural Adjuto Dias • 08 de maio, quarta, às 19h
Crato/CE • Centro Cultural do Cariri • 10 de maio • sexta, às 19h
Camaçari/BA • Teatro Alberto Martins • 13 de maio, segunda, às 19h
Salvador/BA • Sala do Coro do TCA • 15 e 16 de maio, quarta e quinta, às 20h
Boa Vista/RR • previsão 25 e 26 de maio
Belém/PA • previsão 29 e 30 de maio
Santarém/PA • previsão 01 de junho
Manaus/AM • previsão 06, 07 e 08 de junho
Porto Velho/RO • previsão 03 e 08 de julho
Ji-Paraná/RO • previsão 06 de julho
Rio Branco/AC • previsão 09 e 10 de julho
Palmas/TO • previsão 12 e 13 de julho
Sintonize
O programa de rádio Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. A versão em vídeo é semanal e vai ao ar aos sábados a partir das 13h30 no YouTube do Brasil de Fato e TVs retransmissoras: Basta clicar aqui.
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Edição: Matheus Alves de Almeida