Advogada e militante paranaense, integrante do Coletivo Advogados e Advogadas pela Democracia, Tânia Mandarino, há anos, é crítica ao método, princípios e práticas da Operação Lava Jato. Chegou a organizar, em 2017, o Tribunal Popular da Lava Jato, um tribunal popular já na época questionando o método do ex-juiz Sergio Moro e dos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato.
Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, Mandarino analisa o afastamento da juíza Gabriela Hardt, pela Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ). Hardt é investigada por ter avalizado a criação da fundação da Lava Jato, que seria financiada com recursos da Petrobras.
Para Mandarino, ao lado da perseguição política que atingiu o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Lava Jato buscou avançar no enriquecimento pessoal e favorecimento político: “O enriquecimento de seus membros, também com objetivos políticos de se empoderar, de financiar suas campanhas, de deixar de ser procuradores e juízes e se transformarem em mandatários por meio do capital, o que é facilitado por nosso sistema representativo, reunindo recursos suficientes para pagar por cada voto”, afirma.
Porém, por ora, a analista é cautelosa ao observar os fatos desta segunda-feira (15): "Trata-se apenas de um afastamento cautelar para um longo e demorado processo administrativo disciplinar (PAD), em que tudo pode correr ao sabor dos ventos que venham a soprar".
Brasil de Fato Paraná. Qual é o significado, a seu ver, do afastamento de Hardt e de outros 3 procuradores do TRF-4?
Tânia Mandarino. Esse afastamento cautelar enquanto se respondem processos administrativos disciplinares (PADS) certamente tem um significado. Pode não ser um significado tão amplo como nós desejaríamos ou como nós esperamos que seja, ou como a justiça de fato demandaria, mas significa que alguma resposta o judiciário ou o seu órgão fiscalizador, que é o CNJ, deverá dar a sociedade a respeito de todas as falcatruas e crimes que foram cometidos na Lava Jato. Se estão apenas sacrificando alguns para poder esconder coisas muito maiores somente a História com o passar do tempo nos dirá.
Trata-se de um nítido sinal que comprova que o operativo da Lava Jato cumpriu finalidade apenas de perseguição política?
O sinal na verdade já estava dado há muito tempo e o que aconteceu agora foi apenas uma resposta ao que a sociedade estava esperando com tudo que já tinha sido sinalizado.
A Lava Jato não tinha só como finalidade a perseguição política, o que parece que realmente cumpriu seu papel, mas também fins escusos econômico-financeiros, por um lado de ensejar a quebradeira no Brasil e, por outro, do enriquecimento de seus membros, também com objetivos políticos de se empoderar, de financiar suas campanhas, de deixar de ser procuradores e juízes e se transformarem em mandatários por meio do capital, o que é facilitado por nosso sistema representativo, reunindo recursos suficientes para pagar por cada voto.
A operação foi projetada para ampliar o domínio. Esgotada a fase jurídica viria a fase parlamentar. Então a gente vê uma questão financeira sendo fiscalizada com bastante rigor e quer também que tudo que foi feito com relação a perseguição política tenha igualmente consequências doa a quem doer.
Deltan Dallagnol e Hardt planejavam criar uma fundação privada para colocar e acessar suposto recurso "recuperado" de dinheiro público da Petrobras. Um caso como este mostra de onde parte a corrupção no Brasil? Isso porque a mídia empresarial segue desgastando a Petrobras, como se a irregularidade estivesse no próprio caráter estatal da empresa.
O mote imperialista da vez era a corrupção (agora é a liberdade de expressão); já disse alguém no passado que a corrupção é o maior sabão de lavar o fascismo. A correição extraordinária demonstra esse conluio na Lava Jato, esse planejamento entre Dallagnol e Hardt, mas ambos são apenas atores de um projeto que envolve muito mais pessoas.
Demonstra bem que a premissa de combate à corrupção era para falsear os atos do corruptos que tocavam a operação. A mídia empresarial segue desgastando a Petrobras e nós temos que tomar cuidado também com o judiciário nessa relação que não terminou ainda.
Primeiro porque, por ora, se trata apenas de um afastamento cautelar para um longo e demorado PAD em que tudo pode correr ao sabor dos ventos que venham a soprar. Barroso, ao defender a Gabriela Hardt, a quem ele chamou de "essa moça", outro dia no CNJ, já deu mostras de que também não considera lá muito grave o pedido de homologação do acordo feito pelos procuradores porque eles podiam “estar equivocados na época".
Então o judiciário, e não só a mídia empresarial, podem também continuar desgastando a Petrobras. Não sei se isso vai acontecer ou não, se é uma tendência ou não, mas, pelo menos, há indícios de que ao menos um ministro no STF pensando assim nós já temos. Na democracia burguesa, obviamente que o judiciário também é - e a segurança jurídica balouça muito ao sabor dos ventos.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Mayala Fernandes