O Ministério Público do Peru e a Divisão de Investigação de delitos de Alta Complexidade (Diviac) fizeram uma operação de busca e apreensão na casa da presidente do Peru, Dina Boluarte, em Lima, neste sábado (30). Ela é alvo de investigação de enriquecimento ilícito e omissão na declaração de relógios de luxo.
O caso veio à tona depois da publicação de uma reportagem do portal La Encerrona. O texto afirmava que a presidente peruana, de centro esquerda, tinha mais de US$ 40 mil (mais de R$ 200 mil) em relógios da marca Rolex. A reportagem analisou fotos de Boluarte em eventos com as joias para afirmar que ela possivelmente teria mais de uma dezena de relógios de luxo.
Em resposta, Boluarte afirmou que o que ela tem é fruto do trabalho que faz desde os 18 anos de idade e questionou: “Desde quando uma parte da imprensa se preocupa com o que usa e o que não usa uma presidente? Espero e quero acreditar que isso não seja uma questão sexista”.
Segundo a BBC, também foi identificada uma movimentação de US$ 300 mil (mais de R$ 1,5 milhão) em depósitos de origem desconhecida nas contas pessoais de Dina Boluarte antes de ela tomar posse em dezembro de 2022.
A ação da polícia foi criticada pela presidente. Ela chamou a medida de “surpreendente, arbitrária e abusiva”. O advogado de defesa de Boluarte, Joseph Campos, afirmou que as ações do Ministério Público foram “absolutamente inconstitucionais”. Os policiais entraram à força na casa da presidente e vasculharam também o Palácio do Governo.
A presidenta do Peru já tinha uma audiência marcada sobre o caso para 5 de abril, mas ela pediu à à Procuradoria-Geral da República que o depoimento seja adiantado devido ao andamento das investigações.
No sábado, o partido Peru Livre apresentou ao Congresso pedido de destituição da presidente que será analisado nesta semana. O texto recebeu a assinatura de 26 congressistas do Peru Livre e outras siglas de esquerda. Boluarte disse que “não teme” por isso e lembrou que essa é a 2ª moção que ela enfrentaria desde o início do mandato em dezembro de 2022.
Para derrubar um presidente no Peru, o processo de impeachment precisa receber ao menos 87 votos favoráveis dos 130 congressistas.
O outro processo de impeachment apresentado contra Boluarte foi rejeitado pelo Congresso do país. O pedido de cassação do mandato de Dina Boluarte pretendia responsabilizar a mandatária pelas 72 mortes registradas durante os protestos que ocorreram no final de 2022 e início de 2023.
Posse de Boluarte
A atual presidente do Peru assumiu em dezembro de 2022, depois da tentativa de autogolpe por parte de Pedro Castillo. Ele enfrentava o 3º processo de impeachment e perdeu o cargo depois de ordenar a dissolução do congresso e convocar novas eleições. Castillo foi preso depois de deixar a presidência.
A nova presidente enfrentou uma série de protestos no país, contrários à saída de Castillo. Movimentos populares defenderam a antecipação das eleições, mas o Congresso peruano decidiu rejeitar um projeto de lei que anteciparia a escolha de um novo presidente pelo voto popular para 2023.
Para combater os movimentos, a presidente emitiu um decreto que limitava as liberdades individuais e colocou a polícia na rua para reprimir os manifestantes. Ao menos 72 pessoas morreram nos atos. O mandato de Dina Boluarte é válido até 2026.
Edição: Rodrigo Durão Coelho