Foram as reformas de base, sobretudo a Reforma Agrária, que motivou o golpe de 1964
O golpe militar de 1964 significou o maior atraso contra a democracia já vivenciado na história da nossa República, em todos os sentidos. Forças Armadas puseram na fogueira a Constituição Federal; instalaram uma ditadura sangrenta; subverteram a democracia; corromperam a Justiça e o Direito; perseguiram, torturaram e mataram a todos que se opuseram ao regime autoritário.
O golpe foi considerado empresarial-militar, pois consistiu-se na armação coletiva das grandes indústrias, dos latifundiários, da burguesia, da classe média, das alas tradicionais das igrejas conservadoras, do apoio dos imperialistas dos Estados Unidos e da imprensa golpista.
Uma história que muita gente ainda não sabe: por que aconteceu o golpe?
Aconteceu porque nosso presidente João Goulart já havia assinado as reformas de base tão necessárias para o nosso país não só naquele momento, mas ainda hoje. E eu faço questão de lembrar quais eram, de forma resumida para não tomar muito o tempo de vocês. Jango assinou a criação da Reforma Administrativa, que previa a reestruturação da administração pública federal e a criação da Lei Orgânica do Sistema Administrativo Federal; assinou a criação da Reforma Eleitoral, para garantir, vejam vocês, o direito do voto aos militares de baixas patentes e aos analfabetos; assinou a criação da Reforma Bancária, para controlar a inflação por meio de um órgão central; assinou a criação da Reforma Tributária, com a modernização da arrecadação tributária para evitar fraudes fiscais; assinou a criação da Reforma Universitária, criando a liberdade para o exercício da docência; também teve a Reforma Constitucional, para permitir a criação de todas estas reformas e, principalmente, a Reforma Agrária.
Foram as reformas de base, sobretudo a Reforma Agrária, que motivou o golpe de 1964, com os ruralistas e os latifundiários, essa turma hoje que vende que o “agro é pop”, mas que há 60 anos financiou o golpe militar.
Financiou os assassinatos na Casa da Morte, em Petrópolis. Financiou os assassinatos na Usina Cambahyba, em Campos. Uma turma que, como diria Darcy Ribeiro, é anti-povo, antinacionalista, antibrasileira, que se opôs e continua se opondo a uma reforma feita inclusive pelos principais países capitalistas do mundo, hoje desenvolvidos, sobretudo por terem feito a reforma agrária em seus territórios. Mas aqui temos uma elite covarde e, sobretudo, ignorante no que diz respeito ao próprio desenvolvimento econômico do país. E que nos levou a uma ditadura odiosa e abominável, que interrompeu uma nação no caminho do desenvolvimento e nos entregou um país mergulhado na hiperinflação, na fome, na corrupção e na criminalidade. Basta ver que um dos maiores símbolos da nossa pátria daqueles tempos, a Taça de Tricampeão do Mundo, foi roubada e derretida na maior cara de pau, como diria o antigo samba.
Mesmo machucadas pela dor e marcadas pela violência militar, foi possível colocar um fim nesta triste história. De punhos erguidos, reerguemos na marra, na força do povo brasileiro, a democracia, e fizemos eleições diretas. Escrevemos uma nova história com nossa Carta Constitucional de 1988. Brigamos por nossos direitos nas ruas e nos reorganizamos na luta por mais direitos. Elegemos um trabalhador à Presidência da República: Luiz Inácio Lula da Silva. E fomos mais longe: elegemos Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente da República na história deste país.
Jamais esqueceremos o que significou o golpe militar e os horrores do AI-5 que torturou, cassou mandatos e matou milhares de pessoas e outras tantas que ainda hoje continuam desaparecidas.
Temos clareza que a serpente continua presente e mostrou sua cara com a prisão injusta do presidente Lula, com a morte de 700 mil pessoas que o governo do inominável negou vacina e assistência médica durante a pandemia e na tentativa de golpe no 8 de janeiro de 2023. E é preciso deixar nítido: Não vamos anistiar nenhum golpista!
Seguiremos em fileira!
Este período tem que ser marcado pela luta por memória, verdade e justiça. Para isso, é preciso estar nas ruas. Nossa mobilização deve ser permanente, e por isso construímos manifestações em todo o Brasil.
Enquanto a bota pisoteava prendendo estudantes, jornalistas, artistas e militantes, muitas rosas sobreviveram e viraram resistência, formando inúmeros jardins de luta por todo o Brasil.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Jaqueline Deister