No período de 28 de março a 7 de abril, uma série de atividades serão realizadas em Brasília para marcar os 60 anos do golpe civil militar no Brasil. Palestras, debates, atos públicos, apresentações musicais e teatrais integram a programação, organizada por movimentos sociais, pesquisadores, partidos e ativistas da luta por memória, verdade e justiça.
A historiadora Betty Almeida, formada na Universidade de Brasília durante a ditadura, avalia a importância de manter viva essa luta no país. Segundo ela, o processo de imposição do Golpe de 64 foi uma aliança formada pelo setor de empresários, latifundiários, imprensa comercial e a elite das Forças Armadas, além de orientação e financiamento de serviços de espionagem dos Estados Unidos.
Autora do livro "A Paixão de Honestino", que resgata a história do líder estudantil, Honestino Guimarães, Betty Almeida observa que esses elementos avançaram num contexto de “luta de classes em escala internacional e de uma série de reações violentas do capitalismo diante do avanço dos movimentos revolucionários e medos do século XX”.
Na avaliação de Betty Almeida, além da data do golpe completar 60 anos, em 2024 no Brasil, dois fatores reforçam a necessidade de manter a lembrança militante contra o período militar. O primeiro consiste no fato de que existe a renovação de grupos políticos de apoio à ditadura e parte do generalato atual envolvidos numa tentativa de golpe de Estado em janeiro de 2023. O segundo é a publicação de um estudo inédito realizado pelo pesquisador colaborador da UnB e ex-preso político Gilney Viana, que também integra a Comissão Camponesa da Verdade (CCV), aponta que 1.654 camponeses foram mortos ou desapareceram do golpe de 1964 até a promulgação da Constituição, em 1988.
“É importante lembrar que existia uma ditadura no Brasil que oprimiu, perseguiu, torturou e matou seus opositores. E esse tempo não deve voltar. Para isso vamos manter sempre a memória do aconteceu no Brasil ditatorial, para que as novas gerações no lugar de pedir intervenção militar, que lutem por um país onde ninguém sofra com privações e desigualdades, onde as riquezas sejam usufruídas por toda a população e principalmente por quem as produz, que é a classe trabalhadora”, destaca a historiadora, que também integra a Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da Universidade de Brasília.
Confira a agenda:
Samba do Peleja
O coletivo 'Samba do Peleja' realiza neste domingo (31) o evento "Lembrar e repudiar para que Nunca Mais aconteça", que pretende celebrar a democracia. A organização convida o público para “lembrar que o Brasil vivia tempos sombrios, onde falar, lutar, questionar e até sambar era criminoso. Não se pode ignorar ou esquecer tanta gente que sucumbiu à sanguinária ditadura, que teve início no golpe de 64".
Quando: domingo (31), às 15h, no Bar Radiola, SCRN 704/705 – Asa Norte
'Descomemorações'
Para marcar a data de 1º de abril está agendado um ato público na Praça Zumbi dos Palmares, às 16h30. Membro do Comitê Abreu e Lima, Pedro Batista, destaca a atualidade do repúdio às forças sociais que sustentaram a ditadura. “Um grupo de traidores, civis e militares do povo brasileiro, a serviço dos Estados Unidos, deram um golpe de Estado que encarcerou, torturou milhares de pessoas e ainda deixaram seus herdeiros, que é o grupo que foi um dos responsáveis pelo impeachment da presidenta Dilma, que foi responsável pela eleição de um presidente fascista e que tentou dar um golpe de Estado com uma intentona fascista no dia 8 de janeiro de 2023”, apontou.
No mesmo dia, às 19h, a Central Única dos Trabalhadores no DF (CUT-DF), realiza um debate com reflexões e estratégias de luta. Dirigente do Sindicato dos Professores (Sinpro) e um dos organizadores, Cleber Soares, considera que o ato é uma “descomemoração” dos 60 anos do golpe de 64.
“A CUT, os movimentos sociais, o Instituto João Goulart não poderiam deixar passar uma data que precisa ser lembrada para que a população compreenda o que que significou os 21 anos de ditadura com dezenas de mortes e torturas. O legado que nos foi deixado é de uma democracia frágil e incompleta”, explica o professor.
Quando: segunda-feira (1º), às 16h30, ato público na Praça Zumbi dos Palmares no Conic e às 19h, debate da sede da CUT-DF, no Conic.
Palestra na UnB: 60 anos do Golpe Civil-Militar
O Projeto de Extensão Memória e Ditadura convida ao circuito de palestra “60 anos do Golpe Civil-Militar”. A organização é da Associação Nacional de História (ANPUH-DF). A programação conta com os professores Daniel Faria, Elane Rodrigues e a doutoranda Programa de Pós-Graduação em História, Paula Franco. A mediação será feita pela professora Camila Silva. Os palestrantes irão abordar suas pesquisas e o peso do período militar no Brasil até os dias de hoje.
Quando: segunda-feira (1º), às 19h, auditório do Programa de Pós-Graduação de História da UnB (subsolo do ICC Norte)
Comissão Camponesa da Verdade na UnB de Planaltina
Na terça-feira (2), a Comissão Camponesa da Verdade (CCV) organiza no campus da UnB em Planaltina um dia inteiro de evento sobre repressão da ditadura contra às lutas por terra e direitos do trabalhador rural. O evento começa com a exposição “Ditadura Nunca Mais: 60 anos do Golpe de 1964 e o campo brasileiro”, às 09h, e oficina de bordado com o Coletivo Borda Luta, às 10h.
A partir das 14h, a programação começa com a exibição do filme '30 anos de Anistia', dirigido por Luiz Fernando Lobo. Em seguida, será realizada a mesa redonda “O golpe e suas sequelas” com participação de lara Xavier Pereira militante da antiga Ação Libertadora Nacional, exilada política durante a ditadura militar e articuladora da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Esse bloco também conta com a participação de Rubens Valente, jornalista autor de "Os fuzis e as flechas: História de sangue e resistência indígena na ditadura".
Às 16h, inicia a conferência “Camponeses e ditadura civil-militar” com participação dos pesquisadores Gilney Viana e Halyme Franco da Comissão Camponesa da Verdade e Francisco Urbano Araújo da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (Cntag) para falar do estudo que revelou vítimas da ditadura em áreas rurais.
Quando: terça-feira (2), a partir das 9 horas, na Faculdade UnB Planaltina.
Julgamento Krenak na Comissão de Anistia
Também na terça-feira (2), a Comissão de Anistia fará o julgamento de casos de violência contra indígenas da etnia Krenak durante os anos de chumbo.
Em uma rede social, o líder indígena e vereador na cidade de Resplendor (MG), Geovani Krenak destacou que “será um dia histórico de reparação do meu povo Krenak e os crimes cometidos pelo Estado Brasileiro durante o regime militar. É o primeiro julgamento de reparação coletiva da história do Brasil. Meu povo foi perseguido, torturado, exilado e morto em um presídio construído em minha aldeia pelo governo. Parentes de outras aldeias também eram trazidos para nossa terra e sofriam tortura assim como nossos líderes”.
Ele acrescenta que este “julgamento e a responsabilização do Estado, pode nortear todos os crimes cometidos contra os povos indígenas durante a ditadura”.
Quando: terça-feira (2), às 9 horas, no Auditório do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania na Esplanada
Sessão Especial no Senado
No dia 2 de abril, às 10h, o Senado Federal sediará uma sessão especial em memória do golpe. Às 19h será realizada uma missa em homenagem aos mortos e desaparecidos da ditadura na Igreja Dom Bosco da 702 Sul.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento da sessão especial, destacou que o golpe militar de 1964 representou um dos momentos mais significativos da história brasileira, alterando substancialmente o curso político, social e econômico do país. Ele ressaltou que durante a ditadura, houve a cassação de mandatos legislativos e a suspensão dos direitos políticos de diversos cidadãos brasileiros.
“Com efeito, a realização da sessão especial no Senado Federal é simbólica e resultado diagnóstico da luta do Congresso Nacional contra forças autoritárias e antidemocráticas”, ressalta Randolfe no requerimento.
Quando: terça-feira (2), às 10h, no Senado Federal
Teatro dos Bancários
A companhia de teatro Casa de Ferreiro exibe a peça “Prisioneiro 12.207” nos dias 6 e 7 de abril, às 20h, no Teatro dos Bancários. A peça é baseada em livros, documentos e depoimentos de pessoas que sofreram violações dos direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil.
O espetáculo criação de Bruno Estrela e Silvia Viana, que também atuam como protagonistas, conta ainda com a participação de Gaivota Naves e Guilherme Cobelo, da banda Joe Silhueta, interpretando músicas autorais. Os ingressos esgotaram e haverá uma sessão extra no domingo (7), às 17h. Retirada de ingressos no site.
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Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Flávia Quirino