Rio de Janeiro

Coluna

Entre erros e acertos, "era" Dorival Júnior na Seleção Brasileira começa com saldo positivo

Imagem de perfil do Colunistaesd
Dorival Júnior estreou no comando da Seleção Brasileira com vitória sobre a Inglaterra e empate contra a Espanha - Rafael Ribeiro / CBF
Essa Data-FIFA acabou marcada por acontecimentos que transcenderam as quatro linhas

Se eu contasse no final do ano passado que a Seleção Brasileira venceria a Inglaterra e faria jogo duro contra a Espanha dali a três meses, você provavelmente perguntaria se eu ando fumando orégano ou usando drogas mais pesadas. Afinal de contas, o lendário escrete canarinho vinha de um 2023 marcado por resultados terríveis dentro de campo e decisões ainda piores fora dele.

Mas é como dizem os antigos: não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe. E as coisas também funcionam assim no velho e rude esporte bretão que tanto amamos.

Depois da virada do ano, Dorival Júnior, técnico que vinha de grandes trabalhos no Flamengo e no São Paulo, foi o escolhido para assumir a bronca na Seleção Brasileira. E a primeira grande missão seria a Data-FIFA de março, com os jogos contra Inglaterra e Espanha.

Quem esperava duas “pancadas” se deparou com uma equipe competitiva, bastante concentrada, que tentava “jogar bonito”, mas que entendia o momento de dar bico pra cima e jogar sério. A vitória sobre a Inglaterra no último sábado (23) e o empate contra a Espanha na última terça-feira (26) deixaram um saldo bastante positivo.

Tivemos gratas surpresas dentre os novatos, como goleiro Bento e o zagueiro Fabrício Bruno, a consolidação de Lucas Paquetá como o líder técnico do meio-campo e um iluminado Endrick chamando a responsabilidade (e resolvendo) quando foi necessário. E isso sem mencionar Rodrygo, Danilo, Beraldo, Douglas Luiz e outros que tiveram seus momentos de destaque na Seleção Brasileira.

O que eu e você vimos nessas duas partidas foi uma equipe que ainda sentia a falta de entrosamento, mas que deixava bem clara a vontade de vestir a camisa pentacampeã mundial e sair de campo vitorioso. E diante do que todos nós vimos nos últimos meses, essa postura mais aguerrida e mais comprometida dá um alento danado.

É lógico que o escrete canarinho ainda precisa de ajustes em todos os setores.

Se a defesa sofreu com os cruzamentos na segunda trave contra a Inglaterra, a última linha ficou bastante desprotegida contra a Espanha. Aliás, o jogo desta terça-feira (26) ficou marcado pelas lambanças do árbitro português Antonio Nobre, pela inexplicável ausência do VAR e pela pressão colocada em cima de Vinícius Júnior antes e durante a partida em Madrid.

Infelizmente, meus consagrados, essa Data-FIFA acabou marcada por acontecimentos que transcenderam as quatro linhas. Me permitam uma pequena pausa nos assuntos referentes a “campo e bola”.

A começar pelo próprio Dorival Júnior e suas palavras sobre a condenação de Robinho e Daniel Alves por estupro. Enquanto Danilo mostrava a postura que um verdadeiro líder deveria ter diante de casos tão escabrosos, o comandante da Seleção Brasileira escorregou feio nas palavras e deu a entender que ainda havia dúvidas sobre os crimes cometidos pelos dois ex-jogadores (da parte dele, é claro). Talvez fosse mais sensato ser direto e objetivo sem qualquer tipo de rodeio. Os dois erraram, foram investigados, condenados e agora precisam pagar pelo que fizeram. Ponto final.

Pode ser que Dorival não tenha tido essa intenção.

Eu não sou o Professor Xavier para entrar na mente dele e descobrir isso. Mas não dá pra passar pano Mesmo sendo fã do treinador como eu sou.

Em tempo: as palavras de Leila Pereira (presidente do Palmeiras e chefe da delegação brasileira) ainda ecoam pelas redes sociais e na mente daqueles que não veem nada de errado na postura do jogador brasileiro com relação ao erro do coleguinha. Precisamos de mais conscientização e menos “parças” no futebol. Na vida, eu diria.

E para completar o “combo” de lambanças, temos a entrevista coletiva de Vinícius Júnior na véspera da partida contra a Espanha. Difícil entender qual era o objetivo daquilo ali. Muita gente pode não ter entendido, mas eu entendi exatamente o que estava acontecendo.

Eu e você vimos a CBF faturar em cima da dor de um homem de 23 anos que deixou claro que já não tem a mesma vontade de jogar futebol por causa do racismo que vem sofrendo. E essa mesma CBF coloca um dos seus principais jogadores como “escudo” ao invés de protegê-lo e cobrar de UEFA e FIFA providências sérias e efetivas no combate ao racismo. É preciso sair da seara das hastags e partir para as punições.

Vamos ser francos, pessoal… A simples ideia de se promover uma partida contra o racismo no mesmo país que trata o atacante do Real Madrid com xingamentos racistas e até ameaças de morte foi uma das mais estúpidas que eu já vi. Esse jogo nem deveria ter acontecido.

O xará Luiz Teixeira deu o papo no SporTV. Façam um exercício agora. Procurem as reportagens dos jornais espanhois nas redes sociais sobre a coletiva de Vini Júnior, preparem o estômago e leiam os comentários.

E eu digo mais: busquem as propagandas das “bets”, os sites de aposta. Vocês vão encontrar uma série de “odds” em cima de gols do atacante brasileiro e até em cima de uma possível comemoração com o punho cerrado.

É inacreditável a cara de pau desses caras, bicho.

Não é difícil de entender por que Vini Júnior esteve tão nervoso contra a Espanha e errou além da conta. Aliás, não é difícil de entender como toda a equipe parecia mais pilhada do que na vitória sobre a Inglaterra. É só uma pena que esses fatores e a ausência do VAR (e de bom senso na arbitragem) tenham influenciado diretamente no resultado final. Mesmo não jogando tão bem, a Seleção Brasileira mostrou que pode ser competitiva.

E como não falar de Endrick, meus consagrados? Como não falar do futuro jogador do Real Madrid e seus gols? É interessante como cada foto tirada dele nas duas partidas possuem algo de especial. É como se estivéssemos vendo a história ser escrita diante dos nossos olhos e acompanhando o surgimento de um dos maiores jogadores da próxima geração.

Sei lá, minha gente. Eu tenho essa sensação toda vez que abro o Flickr da CBF e puxo uma foto do Endrick comemorando um dos seus dois gols com a Seleção Brasileira.

O que é certo, pessoal, é que a Seleção Brasileira fecha essa Data-FIFA com saldo positivo. Só que a recuperação da confiança do torcedor passa também por questões mais sérias. Seja o posicionamento correto diante da violência contra a mulher ou uma postura mais séria no combate ao racismo.

Dentro de campo, é possível ver um norte, uma luz no final do túnel. Fora dele, a gente ainda não consegue ver nada além de algumas fagulhas.

Edição: Mariana Pitasse