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As pesquisas eleitorais e a ‘política de apagamento’ do PT em Curitiba

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Plenária com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) com a pauta da candidatura própria. Foto - - Divulgação PT
A nominata dos pré-candidatos da pesquisa indica também a fragmentação das direitas

Aberta a temporada de pesquisas eleitorais com o início das articulações partidárias para a disputa das eleições municipais de outubro.

Em Curitiba, o cenário inicial aponta para uma divisão entre o bloco das diversas direitas – Eduardo Pimentel, dos governistas Rafael Greca e Ratinho; o tucano agressor de professor, Beto Richa, os lavajatistas Deltan Dallagnol e Ney Leprevost; a extrema direita bolsonarista com Paulo Martins e Cristina Graeml e os candidatos do Centrão — Luizão Goulart e Luciano Ducci –, que tenta o apoio do Partido dos Trabalhadores (PT).

A legenda de Lula segue dividida entre lançar uma candidatura própria ou apoiar Ducci (A decisão foi remetida ao diretório nacional do PT, suspendendo uma consulta aos filiados que estava marcada para o dia 7 de abril).

No espectro à esquerda, figuram a deputada federal Carol Dartora (PT), a primeira mulher negra eleita para Câmara de Deputados, com uma votação expressiva na capital –, e o pedetista Goura, que teve 13, 26% dos votos nas eleições municipais de 2020. Eles representam uma nova safra de lideranças políticas e dialogam com a fatia progressista e renovadora da cidade.

Pesquisa da Radar Inteligência

Na pesquisa divulgada neste domingo (17) pelo Instituto Radar, os pré-candidatos Eduardo Pimentel, Beto Richa, Luciano Ducci, Deltan Dallagnol e Ney Leprevost aparecem tecnicamente empatados — a margem de erro da sondagem é de 3,5 pontos percentuais.

As intenções de votos apontam o atual vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), com 15,8%, seguido pelos ex-prefeitos Beto Richa (PSDB), com 13,1%, o golpista Luciano Ducci (PSB), com 12,3%, o ativista de extrema direita Deltan Dallagnol (Novo), com 11,5%, e o neolavajatista Ney Leprevost (União Brasil), com 10,9%.

Um segundo pelotão vem com o bolsonarista Paulo Martins (PL), 4,7%; Maria “camburão” Victoria (PP), com 3,3%; Luizão Goulart (Solidariedade), com 3,2%; a petista Carol Dartora (PT), com 2,6%; e Goura (PDT), com 2,5%.

Entre os ouvidos pela pesquisa, 7,8% disseram que votariam em nenhum, branco ou nulo; e 12,3% não sabem ou não opinaram.

O levantamento foi conduzido pelo Instituto Radar Inteligência, com uma margem de erro de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos. 816 eleitores foram ouvidos nos dias 11, 12 e 13 de março. O intervalo de confiança é de 95% e o registro no TRE é PR-07339/2024.

Paraná Pesquisa ‘apaga’ o PT

O Instituto Paraná Pesquisa registrou na Justiça Eleitoral uma sondagem para a prefeitura de Curitiba, contratada pela TV Band. Serão ouvidos 800 eleitores entre os dias 15 e 20 de março, com divulgação prevista para a próxima quinta-feira (21).

Três cenários serão apresentados aos pesquisados. Chama atenção que nenhum nome do PT será apresentado aos eleitores. O partido tem três pré-candidatos – a deputada Carol Dartora, o deputado Zeca Dirceu e o advogado Felipe Mongruel. É pública a disputa interna na legenda e uma decisão final ainda não ocorreu. Além disso, a pesquisa vai avaliar a gestão do presidente Lula (PT). Portanto, seria natural a apresentação de um nome do partido do mandatário no levantamento.

Nomes inexpressivos e desconhecidos dos eleitores constam na pesquisa – até Rosangela Moro vai aparecer num dos cenários – e o PT foi “apagado” pelo Instituto Paraná Pesquisa.

Cenário 1, os pré-candidatos Eduardo Pimentel (PSD), Beto Richa (PSDB), Goura (PDT), Ney Leprevost (UB), Paulo Martins (PL), Deltan Dallagnol (Novo), Luciano Ducci (PSB), Luizão Goulart (SD) e Cristina Graeml (PMB e da Gazeta 'Antipovo').

No cenário 2, serão apresentados aos eleitores: Rosangela Moro (UB), no lugar de Ney Leprevost, e Valdemar Jorge, pelo “Novo”.

No cenário 3, Eduardo Pimentel, Ducci, Luizão, Ney e Valdemar.

A nominata dos pré-candidatos da pesquisa indica também a fragmentação das direitas – a velha, a neoliberal, os bolsonaristas e os lavajatistas. E sem a opção para os eleitores de Lula e do PT.

O Instituto Paraná Pesquisa vai avaliar ainda o nível de rejeição dos pré-candidatos e a influência do prefeito Rafael Greca, do governador Ratinho Jr, do presidente Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro no processo eleitoral de Curitiba.

A pesquisa está registrada no TRE-PR sob o número PR-01504/2024, com nível de confiança de 95% e uma margem de erro estimada em 3,5% para mais ou para menos.

Riscos da tática de apagamento do PT em Curitiba

Caso prevaleça a decisão de aliança com Ducci, o PT pode sofrer sérios danos políticos em Curitiba. O partido segue mergulhado num intenso debate interno entre lançar uma candidatura própria ou apoiar a candidatura do deputado federal do PSB — alternativa rejeitada por grande fatia da base do partido.

Na quinta-feira (14), o Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do Diretório Nacional do PT determinou a suspensão do processo de consulta aos filiados do partido na cidade.

A resistência das bases petistas ao nome de Luciano Ducci é consequência de sua ação política prática, uma atuação conservadora e de direita. Ducci votou pelo impeachment fraudulento da presidenta Dilma Rousseff, apoiou a criminosa operação Lava Jato e votou em todas as medidas regressivas contra os trabalhadores nos governos de Temer e Bolsonaro. Integrante da bancada do centrão de Lira, votou até na aberração do Marco Temporal, uma medida nefasta que visa subtrair a terra das comunidades indígenas e ribeirinhas.

Durante o seu mandato tampão na prefeitura de Curitiba – de 2010 a 2012 – já que Ducci era o vice-prefeito na gestão de Beto Richa, adotou políticas contra os direitos dos servidores públicos, manteve intacta a licitação do transporte coletivo, que garante o controle da operação por um reduzido grupo de empresários.

Além disso, prosseguiu com a política que favorece o controle do orçamento público pelos consórcios que operam com a especulação imobiliária e o uso do solo na cidade, com a privatização e a terceirização dos serviços de zeladoria, o controle privado de dados pelo ICI e a com a falta de transparência na gestão da Urbs.

A mesma receita seguida pelas gestões de Lerner, Greca, Taniguchi, Beto Richa e agora novamente Greca-Eduardo Pimentel.

Apoiar Ducci amarra o PT com o atraso

Em nome de que se defende e se faz uma aliança sem bases programáticas? Qual a motivação?

Alimentar uma frágil ilusão de que o governo Lula e o próprio PT podem ser defendidos por inimigos jurados de nosso projeto. Isto é falso. Não se combate o Bolsonarismo amarrando o PT às mesmas forças responsáveis pelo impeachment da presidenta Dilma, pela prisão de Lula e pela eleição fraudulenta de Bolsonaro. Com os neoliberais, vide as recentes declarações de Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, partido de Geraldo Alckmin, condenando a política de soberanista de Lula para a Petrobras e a política exterior de Lula contra o genocídio do povo palestino.

O PT de Curitiba tem uma história de lutas contra os poderosos, inclusive aqueles a quem corre hoje o risco de ser submetido. O PT de Curitiba tem em seu acervo político uma heroica vigília de 580 dias em defesa da liberdade de Lula. Ali se viu quem estava conosco e não se viu quem estava contra.

A candidatura própria do PT é a melhor alternativa para unir e fortalecer o partido em Curitiba e favorece a acumulação de forças para as próximas batalhas.

 

*Jornalista, escritor e pós-graduando em Ciência Política. Militante do PT de Curitiba. Autor de ‘Brasil Sem Máscara – o governo Bolsonaro e a destruição do país’ [Editora Kotter, 2022] e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ [Kotter, 2021], entre outras obras. É colunista em diversos portais e sites da imprensa progressista e de esquerda.

**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná

Edição: Pedro Carrano