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Para resgatar amizade histórica, poetas dos EUA vão a Havana prestar solidariedade aos artistas e ao povo cubano

Iniciativa foi coordenada pelo ativista político Andy Shallal e pela escritora Alice Walker, ganhadora do Pulitzer

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Encontro em Havana reuniu mais de 70 poetas, escritores e promotores culturais dos Estados Unidos em solidariedade ao povo cubano - Reprodução 'Bem Viver TV'
Eu sempre quis recriar essa amizade histórica entre Cuba e os Estados Unidos

Promovido pelo emblemático espaço cultural Busboys and Poets, em Washington, D.C., mais de 70 poetas, escritores e promotores culturais dos Estados Unidos viajaram a Havana em solidariedade ao povo cubano. Esta foi a segunda vez que a atividade entre escritores ocorreu na ilha. A viagem teve como objetivo resgatar os laços culturais históricos que unem os dois povos através das figuras e da amizade do poeta negro americano Langston Hughes e do poeta cubano Nicolás Guillén. 

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“Sou um amante da história e há muitos anos descobri que Langston Hughes, um famoso poeta americano que viajou para Cuba, teve um ótimo relacionamento com um poeta cubano, Nicolás Guillén. Esse relacionamento foi tal que se tornou um vínculo muito forte entre eles e continuaram amigos por muitos e muitos anos depois disso, até a morte de Langston Hughes”, conta o artista, ativista social e diretor do Busboys and Poets, Andy Shallal.

“Eu sempre quis recriar essa amizade histórica entre Cuba e os Estados Unidos, que vem ocorrendo há muitos anos e que agora, por motivos políticos, foi rompida. E nós, como pessoas, como cidadãos comuns que se preocupam com a paz e o amor no mundo, queremos ter certeza de que isso será retomado. Portanto, colocar aqui uma estátua de Langston Hughes nos lembra que sua presença foi importante naquela época e é ainda mais importante hoje”, acrescenta. 

A delegação foi acompanhada pela renomada escritora e ativista Alice Walker, autora da obra renomada ‘A Cor Púrpura’ e a primeira mulher negra a receber o Prêmio Pulitzer. Na ilha caribenha, ela foi condecorada pelo governo cubano com a medalha Haydée Santamaría, em reconhecimento ao fortalecimento dos laços culturais e políticos entre EUA e Cuba.

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“Este é um exemplo e é como se estivéssemos olhando para um poema. Dito pela humanidade. É por isso que é tão comovente, porque um poema da humanidade nos lembra que temos poder. Não somos fracos como eles querem que pensemos que somos. E é em um lugar como este que homenageamos Nicolás Guillén e Langston Hughes. Isso nos faz perceber que temos memória. E as memórias são poderosas. Sem memórias, não podemos seguir em frente. Temos de nos lembrar de quem estava aqui antes e entender profundamente que eles estavam aqui nos vendo”, ressalta Walker. 

Para a poetisa e dramaturga cubana Nancy Morejón, o espírito da reunião é de esperança e de busca de um caminho para as relações entre os povos. “Nunca fomos contra o povo americano. Tivemos problemas entre sucessivas administrações, um governo e outro. Mas nós não, as pessoas precisam se relacionar umas com as outras e entender que somos iguais. Esta é uma prova maravilhosa de que podemos ter um intercâmbio, um bom diálogo, um intercâmbio nutritivo. Uma troca que nos torna melhores e que mostra que um mundo melhor é possível”, explica. 

A amizade entre Nicolás Guilléne e Langston Hughes foi marcada pelo amor à arte e as lutas pelas causas justas. Seus poemas se colocam contra a opressão, o racismo, o autoritarismo e pela emancipação dos povos. A delegação busca redescobrir esse amor e essa amizade, mas também esse compromisso que faz da arte uma poderosa bandeira contra um mundo marcado pela guerra e pela miséria. 

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“Acho que a cultura, como sabemos, nos toca no coração. E quando nosso coração é mudado, nossa mente o segue muito rapidamente. Às vezes, a cultura pode abrir oportunidades, um caminho, para nos levar a um lugar que é muito melhor do que aquele em que estamos”, reflete Andy Shallal. O artista e diretor do Busboys and Poets entende que a cultura é a forma mais barata e eficaz de se promover mudanças na sociedade. 

“Acho que precisamos demais disso. Nunca teremos arte e poesia suficientes. E isso faz muito mais sentido do que construir bombas, colocar fronteiras e erguer muros. Isso não é útil e também não é muito econômico; é muito caro fazer essas coisas. Por outro lado, você pode fazer arte a partir do nada”, defende.

Alisha Byrd, integrante da delegação estadunidense, destaca o poder de conexão e ressonância da poesia. “Acho que temos experiências de vida em comum. Temos muitos pontos em comum que às vezes não são realmente mostrados, porque talvez nosso idioma seja diferente, porque estamos em lugares geograficamente diferentes. Mas, novamente, as palavras que são expressas na poesia têm uma ressonância universal”, destaca. 

Byrd vai além: “Quando ouvimos um poema, sabemos que ele nos atinge no coração. E acho que é importante que possamos ouvir poesia nas casas uns dos outros, para que saibamos que há um ponto em comum aqui, que há uma conexão cultural que compartilhamos”, conclui. 

Edição: Raquel Setz