A ofensiva da direita combinada com as trapalhadas do Planalto esconderam o foco das boas notícias
Olá!
Lula optou pela conciliação com o centrão, o mercado, o agronegócio, os militares e os evangélicos. O resultado está aí.
.Onde foi que eu errei? Todas as pesquisas indicam queda na aprovação do governo e os problemas cotidianos se avolumam. Além das difíceis relações com o Congresso e dos desgastes com a segurança pública, há uma nova ofensiva vinda do mercado e do agronegócio. Tudo isso com o avanço da direita no mundo e faltando apenas alguns meses para as eleições. Nesse cenário, pululam explicações simplórias. Para os analistas da direita, o problema seria o excesso de esquerdismo e o espírito voluntarista do presidente. Já para a esquerda YouTuber, tudo não passaria de um problema de comunicação: Lula está no caminho certo, mas a população não está vendo tudo de bom que foi feito.
Obviamente, não há uma explicação única e simples para o problema. Alon Feuerwerker aponta cinco fragilidades que se combinaram de maneira preocupante. Em primeiro lugar, a economia, apesar do discurso triunfalista, não está bem, como mostra a inflação dos alimentos. Soma-se a isso a manutenção de um mercado de trabalho precário. Por outro lado, o esforço arrecadatório do governo não estaria se convertendo em perceptível melhora da qualidade dos serviços públicos. Ademais, a agenda do presidente não estaria refletindo as preocupações mais urgentes da população, como saúde e segurança pública. Por fim, a posição de Lula sobre Israel teria contribuído para reativar a oposição. Deve-se acrescentar ainda a negligência em enfrentar os militares golpistas, como o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, que se tornou alvo das investigações da PF, e os saudosos do golpe de 64.
Neste cenário, há aqueles que propõem mais conciliação, com o agronegócio e, principalmente, com os evangélicos, o que obrigaria o governo a abandonar a disputa em torno da “pauta de costumes”. Ao mesmo tempo, a pauta punitivista avança a passos largos no Congresso. Porém, há os que pensam exatamente o contrário: o problema seria o desengajamento da esquerda e um governo envelhecido precocemente, sem projeto de futuro. Neste caso, seria necessário apostar numa real melhora das condições de vida da população e na mobilização da sociedade para enfrentar a direita.
.Gasolina na fogueira. A “crise da semana”, a queda nas ações da Petrobras provocada pelo descontentamento dos acionistas com a redução do pagamento de dividendos, é bem ilustrativa dos tipos de problemas que o governo enfrenta. A direção da estatal tem feito exatamente o que Lula prometeu durante a campanha eleitoral: rever a política de preços e de distribuição dos lucros da empresa. Desde o governo Temer, a Petrobras jogou os preços lá no alto, alavancando a inflação, mas garantindo lucros polpudos para os acionistas. Entre eles, 45% estão nas bolsas de Nova York e na Bovespa. Somente no segundo trimestre de 2022, esta turma em Wall Street e na Faria Lima embolsou, respectivamente, R$ 17,35 bilhões e R$ 21,55 bilhões em dividendos.
O fato é que não é surpresa nenhuma que agora o governo tenha decidido distribuir R$ 14,2 bilhões em dividendos ordinários e reter os chamados dividendos extraordinários, avaliados em R$ 43,9 bilhões. Mas foi suficiente para mais um choro orquestrado entre o mercado financeiro e os meios de comunicação, que escondeu o fato de que, mesmo segurando os extraordinários, a empresa brasileira pagou mais do que suas cinco concorrentes americanas. Não faltaram as tradicionais acusações de intervencionismo que revelam, como lembra Luis Nassif, ignorância ou má fé sobre como funciona uma empresa pública de capital aberto. Mas há também os problemas internos. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, se absteve na votação do conselho porque discordava do governo do qual faz parte e pretendia pagar todos os dividendos. Já o chefe da Casa Civil, Rui Costa, aproveitou a ocasião para acelerar sua campanha pela derrubada do presidente da estatal, colocando mais combustível numa fogueira pública. Sobrou para Lula enquadrar os subordinados pessoalmente. E, novamente, a ofensiva da direita combinada com as trapalhadas do Planalto esconderam o foco das boas notícias, como a redução do número de famintos no país.
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*Ponto é elaborado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Geisa Marques