De uns tempos para cá, Lairson Sena, presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo e Lojas de Conveniências em Postos de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral (Sinpospetro), tem aparecido na mídia representando uma categoria jovem, que tem protestado e se movimentado.
O motivo, infelizmente, se deve a uma fratura exposta da atual sociedade polarizada: os ataques racistas e xenófobos que trabalhadores de postos de gasolina tem sofrido nos seus locais de trabalho, geralmente de madrugada.
Para além das ações no campo jurídico, Sena quer chamar a atenção da sociedade sobre a importância do frentista, que é o "cartão postal da cidade".
O Sinpospetro tem buscado dialogar com a sociedade na forma de campanhas sobre a importância desses trabalhadores, geralmente invisibilizados.
Lairson Sena nasceu na periferia de São Paulo. Como trabalhador, afirma que passou por todos os setores da base e cargos dentro do local de trabalho, e que buscou o curso de Direito, uma vez que precisava se informar "para enfrentar esses caras".
Sena ressalta a importância de um sindicato com trabalho de base cotidiano, confiança da categoria e conectado com os problemas dos mais de 10 mil filiados do sindicato. Em entrevista ao Brasil De Fato Paraná, ele elencou os desafios da categoria.
Brasil de Fato Paraná: A gente tem visto vários ataques contra os trabalhadores frentistas. Quais iniciativas vocês estão organizando pelo sindicato?
Lairson Sena: Uma campanha de conscientização da população e das autoridades, principalmente na área política. A gente vem aí conversando, dialogando.
Eu tive uma reunião agora há pouquinho para a gente tentar até uma audiência com o secretário de Segurança Pública. Mas acredito que tem que conscientizar a população.
A cidade de Curitiba não é uma cidade agressiva. A população é amorosa, acolhe trabalhadores vindos de várias partes do Brasil. O problema que vejo é que nos últimos anos cresceu muito uma intolerância, uma arrogância, uma agressão física. Isso pode ser reflexo de alguns políticos mal intencionados.
Então, eu acho que a gente tem que combater, tem que desarmar os espíritos e temos que praticar o princípio e o valor da empatia. Já foi divulgada uma nota de repúdio a essas agressões, mas agora a gente vai trabalhar com o jornal de sindicato.
E como será essa campanha? E esse debate com a sociedade?
Acredito que fazer uma campanha de divulgação mostrando que o trabalhador em postos de gasolina é o cartão postal da cidade. Ele traz total segurança para a sociedade.
Você imagina que você ou sua esposa abastecem seu veículo, seja lá, duas horas da manhã, meia-noite, dez horas da noite, dependendo do local, sem um trabalhador para poder lhe trazer comodidade, trazer segurança?
Qualquer turista, quando se perde na cidade, ele sente segurança de pedir informações no posto de gasolina. Então, eu acredito que essas agressões. [que] estão sendo recorrentes na cidade de Curitiba, são casos de pessoas intolerantes, gente covarde. A gente tem que enfrentar esse tipo de gente, tem que defender um basta para isso.
O que a gente tem visto também em algumas outras cidades, como Porto Alegre, inclusive com algumas outras categorias, precarizadas ou não, são mobilizações e denúncias contra o racismo que os trabalhadores sofrem, fazendo com que esse eixo da luta antirracista tenha que ser fortalecido pelos sindicatos. Como é que você vê isso? Como é que vocês têm trabalhado nessa questão da luta antirracista?
Racismo, também a xenofobia.
É complicado porque a gente tem que fazer esse enfrentamento. O cidadão de bem, a cidadã, tem que fazer esse enfrentamento contra esses intolerantes e fascistas.
Infelizmente, a nossa sociedade foi contaminada por esse tipo de gente. Vai ter que ter um basta. A gente tem que trabalhar contra o racismo, contra xenofobia e contra qualquer forma de discriminação, não só na nossa categoria, mas no geral.
O Sinpospetro tem um trabalho forte de base. Todo dia tem um equipe na rua. Então, a informação chega. O trabalhador confia na entidade sindical, mas deve haver casos por aí de outras categorias que a gente nem sabe o que acontece.
Acredito que tem que ter as autoridades políticas, principalmente aqueles políticos comprometidos com a democracia, comprometidos com o bem-estar das pessoas, com a segurança das pessoas, com a educação.
Eu acho que uma campanha educacional é importante na cidade de Curitiba. Porque você imagina os trabalhadores de fora, das outras cidades, vendo toda essa situação. O cara não vai querer vir mais pra cá.
Curitiba, uma cidade modelo. Que adianta você ter uma cidade moderna, mas ter uma visão de pessoas ignorantes, que maltratam, que te agridem no seu local de trabalho?
Acho que a gente tem que criar uma campanha educativa trazendo empatia para dentro da pessoa. Acho que esse é o primeiro ponto.
Segundo ponto, enfrentar o fascismo e enfrentar o terrorismo da ignorância criada por políticos que não têm comprometimento com a democracia.
Nesses trabalhos de base para discutir essas questões, a categoria tem expressado solidariedade ao companheiro que sofre essa violência?
Sim. Eu estava conversando com trabalhador agora mesmo. O cara estava com medo. O que pode ocasionar isto é agressão com agressão.
Então, a gente tem que conscientizá-los que a gente está trabalhando no campo da informação, de conscientizar a população de Curitiba, conscientizar a sociedade, que o frentista traz segurança, ele é o amigo do turista, ele é o amigo da sociedade.
Eu acredito que são reflexos da ignorância, da estupidez, de maus políticos que passaram nos últimos anos, aí pelo poder, inclusive pelo Congresso Nacional e pela presidência da república. Graças a Deus, mudou. Governo é outro. É um governo que zela em prol da sociedade, que luta por aqueles que mais precisam.
A gente tem que mostrar à população todo dia que a empatia é um princípio. Curitiba tem que dar um basta nisso: agressões contra seu próprio povo. É a ponta que sustenta, que traz a sustentabilidade para a cidade. Não, você tem que ter uma forma de mostrar para as pessoas que tem que ter empatia, que tem que desarmar os espíritos.
Queria saber sua opinião, o Sinpospetro está aparecendo bastante na mídia. As ações, a sua figura, inclusive. A que você deve esse protagonismo?
É um sindicato novo, formado em 2010. Ele tem que 15 anos de vida. É o caçula entre os sindicatos na cidade de Curitiba, diferente de metalúrgicos, comerciários, que têm décadas.
Dizem que vassoura nova quando nasce ela varre melhor [risos]. Brincadeira. Mas eu acho que a gente tem um trabalho bem forte em defesa da categoria já há um bom tempo.
Já fizemos movimento paredista de greve. Já apareceu [em] muita greve nacional. Teve um tempo atrás fomos à Brasília lutar contra o Michel Temer com aquela 'deforma trabalhista' criada. Lutamos para não ter a cassação da presidenta Dilma, presidente honesta. Sempre estivemos na linha de frente.
Agora, a gente está ali mais na mídia devido essas agressões que vêm aparecendo contra os trabalhadores.
Caso isso continue pode haver ações mais radicalizadas no sentido da mobilização, no sentido até paredista mesmo?
A categoria dificilmente faz o movimento paredista porque ela é pulverizada. Cada esquina tem um posto, um CNPJ diferente, um patrão diferente. Então ela é bem dispersa dentro da cidade.
Pode realizar no futuro um manifesto. Antes, fazemos trabalho de conscientização, procuramos os órgãos públicos e tentamos, dentro do diálogo, pelo menos trazer alguma política de segurança pública para a categoria.
Greve, eu acredito que pela dificuldade de ser pulverizada, é mais difícil, mas nada impede da gente faça lá no futuro. Eu acho que seria em último caso.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos