Mãe e filho viraram réus por manterem uma mulher negra de 85 anos trabalhando em situação análoga à escravidão no Rio de Janeiro. Sem receber salário, a idosa foi mantida como empregada doméstica por três gerações da mesma família, há 72 anos. O caso é o mais longo de escravidão contemporânea já registrado no Brasil, segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Dona Maria Moura chegou na fazenda da família Mattos Maia em Vassouras, no interior do estado, aos 12 anos com a promessa de receber estudos e tratamento igualitário. A vítima, no entanto, trabalhava sem pagamento e dormia aos pés da patroa Yonne Mattos Maia.
Nesta semana, a Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra Yonne e seu filho André Luiz Mattos Maia Neumann por trabalho análogo à escravidão. A informação foi revelada no programa "Fantástico", da TV Globo, no último domingo (10)
Segundo a reportagem, o filho também responde por coação e apropriação do cartão magnético de idosos já que no dia da inspeção do MPT o cartão do INSS da vítima estava com o patrão, que admitiu ter a senha. Com a saúde debilitada e quase cega, hoje dona Maria Moura está com 87 anos.
Mais de 63 mil trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão nos últimos 27 anos, segundo o radar de Inspeção do Trabalho no Brasil. A defesa da família Mattos Maia alega que dona Maria era tratada como "parte da família".
Relembre o caso
O caso da emprega doméstica Maria Moura veio à tona há dois anos quando o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu uma denúncia anônima sobre a condição que ela estava submetida. A idosa foi resgatada aos 85 anos na residência dos antigos patrões no Grajaú, zona norte do Rio, em 15 de março de 2022.
Segundo o MPT, esse é o caso de exploração de uma pessoa em condição análoga à escravidão mais longevo, desde que o crime passou a ser fiscalizado, em 1995. Atualmente, dona Maria recebe uma aposentadoria como autônoma graças ao apoio da irmã, além de um salário mínimo da família Mattos Maia por decisão liminar da Justiça enquanto aguarda o processo.
Edição: Clívia Mesquita