Portugal vai às urnas neste domingo (10) para definir a formação do parlamento nacional e, consequentemente, do primeiro-ministro que vai comandar o governo nos próximos anos. O pleito acontece quatro meses após a renúncia de António Costa, do Partido Socialista, que governava desde 2015.
O cenário atual gera incertezas sobre qual será o futuro do país. Pelas pesquisas prévias, partidos de direita e extrema-direita disputam de maneira mais equilibrada as cadeiras do parlamento junto com a esquerda.
“Esta é uma eleição com um desfecho imprevisível”, afirma o cientista político português Bruno Costa em entrevista ao Brasil de Fato.
A única certeza é que as eleições devem formar “um parlamento que traga dificuldades na hora de aprovar um governo e orçamentos”, argumenta o pesquisador que realiza doutorado sobre a organização da sociedade em territórios que sofreram colonialismo.
As pesquisas mais recentes apontam para a liderança de Luís Montenegro, da Aliança Democrática (AD), formada por dois pequenos partidos conservadores. Ele aparece seis pontos percentuais à frente do Partido Socialista (PS) liderado por Pedro Nuno Santos.
O terceiro nome que aparece no pleito é o extremista André Ventura, representando a coalizão Chega.
“Nós fizemos muito paralelos entre Ventura, [Donald] Trump e [Jair] Bolsonaro. Dizemos que é farinha do mesmo saco. É um discurso sensacionalista, é um discurso de ódio. O grande foco é atacar uma minoria em Portugal, que são os ciganos e isso foi o que mais deu audiência para seu discurso”, diz o português Jonas Farias, que atua como engenheiro de dados.
“Portugal não vive isolado da realidade europeia e internacional. A minha leitura é que a extrema-direita ganhou relevância eleitoral mais tarde aqui, precisamente porque a revolução de 25 Abril de 1974 ainda está presente na memória de muitas pessoas e, de forma geral, é uma parte fundamental da memória coletiva portuguesa”, argumenta Bruno Costa fazendo referência à Revolução dos Cravos que completa 50 anos em 2024.
O movimento marcou o fim do regime conhecido como salazarismo, devolvendo a democracia ao país, paralisada desde 1933 pelo Estado Novo de António de Oliveira Salazar, que governou o país até 1968, quando passou o poder ao seu herdeiro político, Marcello Caetano.
“De qualquer forma, muito de abril ficou por cumprir”, argumenta Costa.
“Apesar dos avanços feitos em todas as áreas, muitas pessoas sentem, hoje, que o seu trabalho não é retribuído como melhoria das condições de vida e isso põe em xeque a confiança no tipo de sistema democrático que temos, falando genericamente”, segue o pesquisador.
Segundo Costa, é “neste contexto, que a extrema-direita, com o seu discurso racista e xenófobo (herdado da era colonial e fascista, uma visão de mundo que nunca deixou de habitar o imaginário de alguns setores reacionários), promove respostas que ganham adesão pela sua simplicidade tosca e mentirosa”, finaliza.
Edição: Camila Salmazio