As ruas do centro do Rio de Janeiro foram ocupadas por centenas de mulheres na noite desta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. Com cartazes, faixas e palavras de ordem, as manifestantes defenderam pautas como o fim da violência, a legalização do aborto, a equidade de gênero e a Palestina Livre.
Um dos momentos mais marcantes do ato na capital fluminense foi protagonizado por mães vítimas da violência do Estado. Segurando faixas, vestindo camisas com a foto dos filhos assassinados e em meio à lágrimas, as mães clamaram por justiça.
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Rosilene Ramos da Silva é moradora do Conjunto de Favelas da Maré, na zona norte do Rio. Ao Brasil de Fato ela contou que perdeu o filho e o marido assassinados pela Polícia Militar.
“No dia 5 de outubro de 2005 eu perdi meu filho com dois tiros nas costas à queima roupa. Agora, em 2022, eu perdi o meu marido também. A gente tinha uma barraca de eventos na Maré. Teve uma operação, os policiais abordaram meu marido, bateram e ainda mataram sem saber quem era. Meu marido foi levado como traficante, ele tinha carteira assinada. Hoje eu não tenho ninguém, a minha família são as outras mães que perderam seus filhos. Todo dia uma mãe chora, até quando?”, desabafou Rosilene.
Assim como ela, Maria Rúbia Brito da Silva, moradora do Complexo do Chapadão, na zona norte da cidade, também perdeu o filho para o Estado em 2019. Ela conta que ele foi assassinado ao retornar do trabalho para casa com um tiro na nuca. Hoje, Maria Rúbia sofre as consequências físicas e psicológicas da perda de Pablo Henrique.
"Meu filho era meu amigo, meu companheiro. Não foi embora dali [Chapadão] por minha causa, porque não quis me deixar e era também o provedor do lar, porque ele tinha um bom trabalho e ganhava um bom salário. Hoje eu tomo três remédios de pressão, minha pressão é alta, meu colesterol é alto, estou com hérnia de disco, não posso trabalhar e passo dificuldade", conta.
O 8M ocorre dois dias depois do julgamento do policial militar Alessandro Marcelino de Souza por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, pela morte de Johnatha de Oliveira Lima, de 19 anos, durante uma operação na favela de Manguinhos em 2014. A sentença revoltou familiares do jovem que aguardavam uma condenação por homicídio doloso.
“Nesta semana tivemos um golpe muito grande, tivemos novamente nossos filhos assassinados, tivemos uma companheira que aguardou 10 anos por justiça para o seu filho e quando chega esse fadado dia, o policial é responsabilizado como se não tivesse culpa pelo o que fez. A justiça para o Jonathan é a justiça para todos os nossos filhos. Este golpe foi muito profundo para todas nós e estar aqui neste dia, com várias mulheres é também dizer que nós queremos justiça. Necessitamos ter um dia internacional das mulheres também com bem-viver”, afirmou a vereadora Mônica Cunha (PSOL) que perdeu o filho para a violência do Estado há 17 anos.
Palestina Livre
Um dos temas centrais no 8M deste ano foi a defesa da Palestina Livre. As mulheres denunciaram por meio de cartazes as violações de direito e as mortes da população em Gaza pelo Estado de Israel e exigiram o cessar-fogo.
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Na avaliação da deputada estadual Marina do MST (PT) esta é uma das pautas centrais do Dia Internacional das Mulheres deste ano. “Defender a Palestina hoje é defender as mulheres, as crianças. É uma luta mundial da classe trabalhadora que está colocada para as mulheres no Brasil”, ressaltou a parlamentar.
Marina ainda destacou a importância da defesa da participação popular na construção da democracia no Brasil. Ela acredita que é um caminho fundamental para combater a desigualdade social.
“A defesa da democracia é um tema que as mulheres têm um papel fundamental. Precisamos defender a democracia institucional, o governo Lula, mas também encontrar formas de construção de uma democracia popular, onde as mulheres, mais o conjunto da classe trabalhadora, possam ter espaço para fazer proposição para os principais problemas atravessados pelo povo pobre”, finaliza.
O ato pelo 8 de março começou na Praça Candelária e as manifestantes marcharam por mais de um quilômetro até a Cinelândia. Todo o trajeto foi marcado por muita expressão cultural do movimento feminista.
Edição: Clívia Mesquita