Na ultima sexta-feira o Quênia assinou um tratado de cooperação para o envio de cerca de mil policiais para o Haiti, país mais pobre das Américas e que enfrenta uma gravíssima crise de segurança. A oposição queniana, no entanto, ameaça impedir judicialmente o acordo.
O líder oposicionista Ekuru Aukot classificou o acordo como "falso" e questionou na rede social X/Twitter o que as forças do país poderiam fazer de diferente, já que contingentes mais poderosos de outros países já falharam no Haiti.
"Nesta semana nosso presidente, Williams Ruto, assinou um acordo falso com o primeiro-ministro impostor do #Haiti, #ArielHenri, para enviar 1.000 policiais ao Haiti para 'trazer a lei e a ordem'."
"Os americanos, os franceses, os canadenses e os brasileiros que têm forças mais poderosas já estiveram lá antes. Eles foram "feitos de churrasquinho". Então, que magia irá o Quênia fazer no Haiti quando não conseguirmos lidar com os ladrões de gado no Norte do Quênia?"
So, this week, our president, @WilliamsRuto, purportedly signed a bogus agreement with the imposter PM of #Haiti, #ArielHenri, to deploy 1000 police officers to Haiti to "bring law and order". The Americans, the French, the Canadians, and the Brazillians who have mightier forces…
— Dr. Ekuru Aukot (@EAukot) March 5, 2024
A fala irônica é referência a Jimmy Cherizier, apelidado de Barbecue (churrasco em inglês). Ex-policial, ele lidera a coalizão de gangues que exige a renúncia do premiê do país. O apelido seria pelo costume de queimar inimigos. Ele ameaçou iniciar uma guerra civil se Ariel Henry não deixar o poder e convocar eleições, como havia prometido.
A oposição ao envio de policiais se baseia ainda no temor de que as leis do Haiti seriam diferentes das do Quênia, o que poderia colocar os quenianos em uma situação de insegurança jurídica.
Caos
Na quarta-feira (6), o Conselho de Segurança da ONU expressou preocupação com o que chamou de situação crítica no Haiti. Na reunião de emergência, "todos compartilharam suas preocupações", principalmente a necessidade de enviar a missão internacional de apoio à polícia, disse a embaixadora de Malta, Vanessa Frazier.
Henry não conseguiu voltar ao país, estando em Porto Rico desde a assinatura do acordo no Quênia na sexta-feira.
A atual crise começou na última quinta-feira (29 de fevereiro) quando ataques coordenados alvejaram instalações do governo. No sábado, invasões em prisões libertaram cerca de 3,6 mil detidos, a maioria de gangues criminosas. O governo decretou toque de recolher no dia seguinte, em vigor a princípio até a última quarta, mas prorrogado nesta quinta (7) por mais um mês. Estima-se que as gangues controlem a maior parte da capital do país e que a violência tenha feito 15 mil pessoas abandonarem suas casas na cidade.
Os ataque contra diversos lugares estratégicos tinham o objetivo, segundo as gangues, de derrubar Henry. No poder desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em julho de 2021 — por gangues — deveria ter saído do posto em fevereiro, convocando eleições, mas não o fez.
"Devemos nos unir. Ou o Haiti vira um paraíso para todos ou um inferno para todos", disse Barbecue na segunda-feira. "Não se trata de um pequeno grupo de ricos que vivem em grandes hotéis e decidem o destino dos moradores dos bairros populares."
Os Estados Unidos pediram, na quarta que Henry "acelere" a transição para uma nova "estrutura de governança" e marque eleições.
"Instamos-lhe a acelerar a transição para uma estrutura de governança reforçada e inclusiva", que deve permitir ao país se preparar para uma missão multinacional "para abordar a situação de segurança e abrir o caminho para eleições livres e justas", declarou a jornalistas o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller
Segundo fontes do governo dos EUA ouvidas pelo jornal Miami Herald, a administração Biden teme que o Haiti descambe em definitivo nas próximas para as mãos das gangues criminosas.
Edição: Thalita Pires