Fome

Cozinhas Solidárias poderão servir 1,1 milhão de refeições por mês com novo decreto de Lula

Programa receberá R$ 30 milhões e compõe um conjunto de medidas do governo federal para tirar o Brasil do Mapa da Fome

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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De acordo com o governo federal, cerca de 2,77 mil cozinhas solidárias atuam no país. - Audiovisual Marginal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou o decreto que libera recursos para as cozinhas solidárias. A homologação ocorreu nesta terça-feira (5) durante a abertura da 1ª Reunião Plenária Ordinária de 2024 do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), no Palácio do Planalto, em Brasília (DF). 

Lula parabenizou os conselheiros do Consea e afirmou que o programa é o resultado do trabalho de pouco mais de um ano, que corresponde ao seu período na Presidência. O presidente também afirmou o objetivo de acabar com a fome no país até o fim de seu mandato, em 2026. 

"Criança desnutrida não pode esperar. Pessoas que não tomam café da manhã e não almoçam não podem esperar. É um compromisso de honra, de fé e de vida a gente acabar com essa maldita doença chamada fome, que não deveria existir num país agrícola como o Brasil. No dia 31 de dezembro, ao terminar meu mandato, o meu compromisso é que não tenha ninguém passando fome no país", disse o presidente. 

"O problema não é falta de alimento. É falta de recursos para as pessoas terem acesso a alimento. Obviamente que falta recursos para garantir a melhoria da produção, o aumento da produção. Nós temos todos os instrumentos para acabar com a fome nesse país", afirmou. 

Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), afirmou que o decreto é de "grande relevância". "São 2.400 pontos já cadastrados no governo, garantindo a condição de atendimento daquilo que Lula defende para o Brasil: a segurança alimentar e nutricional", disse Dias durante a cerimônia.  

O ministro também afirmou que a meta do governo federal é tirar o Brasil do Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas (ONU), condição para a qual voltou em 2022. O país havia saído do mapa em 2014, durante o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Voltar para o mapa significa que a quantidade de brasileiros que não sabem quando farão a próxima refeição está acima da média mundial.  

Nas palavras do ministro, sair do mapa demanda "transferência de renda, complemento alimentar a partir da rede de alimentação escolar e a complementação a partir de outras áreas".  

Programa Cozinha Solidária  

Apesar de ser regulamentado nesta terça-feira (5), o programa foi criado em julho de 2023 após movimentos populares articularem-se para preparar e distribuir refeições para pessoas em situação de vulnerabilidade social, principalmente durante a pandemia de covid-19. Nesse sentido, as cozinhas solidárias foram consideradas uma tecnologia social crucial no combate à insegurança alimentar e nutricional. De acordo com a pasta, cerca de 2,77 mil atuam no país. 

Agora, a gestão do programa será feita por meio de parcerias entre o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e entidades sem fins lucrativos, que farão a operacionalização do programa na ponta, com a população em situação de vulnerabilidade. No total, o governo vai selecionar cerca de 90 cozinhas em todas as regiões do país. 

A elaboração e a implementação também passarão por outras iniciativas e órgãos, como Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No total, serão liberados R$ 30 milhões para o programa.  

O ministro também anunciou um acordo de cooperação para erradicação da fome em parceria com a Fundação Banco do Brasil, no valor de R$ 4 milhões, "para trabalhar a capacitação e equipamentos para essa rede de voluntários de todo o Brasil que trabalham em cozinha solidária", afirmou Dias. "Com essas liberações, nós vamos garantir 1,1 milhão de novas refeições todos os meses."

De acordo com o decreto que regulamenta o programa, um dos objetivos é "combater a insegurança alimentar e nutricional, (...) preferencialmente para pessoas em vulnerabilidade e risco social, incluída a população em situação de rua"; além de "oferecer regularidade no acesso à alimentação de qualidade, em quantidade suficiente". 

O decreto define algumas diretrizes para a instalação do programa, como o acesso à alimentação adequada e saudável, de acordo com os preceitos do Guia Alimentar para a População Brasileira. Também prevê a participação social na formulação, execução, acompanhamento, monitoramento e controle do programa. Assim, as Cozinhas Solidárias que participarão da iniciativa também poderão contribuir ativamente no acompanhamento do programa. 

Outro ponto é a valorização da cultura alimentar e incentivo à utilização dos alimentos provenientes da agricultura familiar e da agricultura urbana e periurbana, como aqueles adquiridos por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). 

A regulamentação ocorre em um cenário com 33 milhões de pessoas no Brasi em situação de insegurança alimentar e nutricional considerada grave, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) publicados em 2022. 

Edição: Matheus Alves de Almeida