Coluna

A primeira lei da política

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Bolsonaro colocou mais de 100 mil na Paulista. Mas, e daí? - Nelson Almeida/AFP
Bolsonaro e a polarização continuarão sendo parte da equação da política

Olá,

Jair Bolsonaro e a polarização continuarão sendo parte da equação da política. E todos fazem as contas de onde isso vai dar.

 

.Ação. Bolsonaro colocou mais de 100 mil na Avenida Paulista. Mas, e daí? Para os otimistas, agora a questão é de qualidade e não quantidade: Lula é presidente, e Bolsonaro, além de inelegível, estaria em vias de ser preso. São os mesmos que argumentam que o movimento das ruas do lado de lá apenas apressará a prisão do capitão. Outros, pelo contrário, alertam que a esquerda mais uma vez está subestimando o adversário, e que já passa da hora de também sairmos às ruas. É verdade que, em relação às investigações em curso, não espera-se que muita coisa mude. Mas, tanto o discurso de perseguição política na Avenida Paulista, quanto o questionamento da legalidade das ações do ministro Alexandre de Moraes visam muito mais desgastar o Supremo Tribunal Federal (STF) e elevar o custo político de uma eventual prisão do que evitá-la. Mais importante que isso talvez seja o movimento político de fundo. Afinal, a mobilização mostra para os aliados mais temerosos que Bolsonaro não é carta fora do baralho e continua sendo o principal puxador de votos da direita. Com a ausência dos militares no ato, o protagonismo ficou para os evangélicos, liderados por Silas Malafaia e movidos pelo discurso de “guerra santa”, certamente potencializado pela crise diplomática do Brasil com Israel. Nesse sentido, Bolsonaro provou que a sociedade brasileira continua polarizada, e essa deveria ser a principal preocupação do governo. Por outro lado, mesmo que o movimento tenha conseguido atrair alguns personagens de peso, como os governadores Tarcísio de Freitas (PL), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Jorginho Mello (PL), a ausência de Bolsonaro das próximas eleições presidenciais cria um vazio político difícil de ser ocupado, por isso, a crise da direita ainda não tem data para acabar.

.Reação. Lula reagiu à demonstração de força do bolsonarismo com um tradicional “morde e assopra”. A mordida veio com a ameaça de retaliação aos deputados com cargos no governo que assinaram o pedido de impeachment contra Lula no calor da crise diplomática com Israel. Já o sopro foi mais amplo. Para a base evangélica, veio com um apoio ao projeto de autoria de Marcelo Crivella (Republicanos - RJ) que prevê a ampliação de isenções tributárias para igrejas evangélicas. Já o aceno ao empresariado veio com a retirada do trecho da Medida Provisória 1202 que previa a reoneração de 17 setores da economia. E, mesmo que os militares não tenham dado as caras na Paulista, eles também ganharam um afago simbólico de Lula em discurso que isentou a nova geração de generais de qualquer participação no golpe de 64. Do outro lado, para estancar um possível avanço da oposição, contam também medidas populares, como a regulamentação de direitos para os trabalhadores de aplicativo, setor majoritariamente pobre, jovem e urbano. E, se as manifestações de rua podem ser demonstrações de força, as fraquezas passam mais uma vez pela crise sanitária. É que o avanço da epidemia de dengue, com mais de um milhão de casos e sete estados em emergência, ameaça esvaziar o trunfo do atual governo no tema da saúde e ninguém sabe quais serão seus efeitos políticos. Se em casa as coisas não estão fáceis, muito menos na vizinhança. A missão de Lula agora é apaziguar as relações entre a Guiana e a Venezuela para que a disputa não contamine o encontro da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). E a de Haddad, mesmo afagado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI),  é levar a pauta da distribuição de renda para a esfera internacional, com a proposta de tributação das maiores fortunas globais.

 

.Ponto Final: nossas recomendações.

.A “diplomacia TikTok” de Israel. Como Netanyahu utiliza a manipulação nas redes para atacar aqueles que se levantam contra o genocídio palestino.

.Onde mora o perigo. Em seu último texto, publicado n’A Terra é Redonda, Luiz Werneck Vianna alertava para a resiliência do fascismo no Brasil.

.Bolsonarismo une ideias da teologia e do populismo, diz estudo inédito. Veja o que entrevistas com eleitores de Bolsonaro revelam sobre o pensamento da direita brasileira. No Uol.

.Quem são as 'tradwives', donas de casa de direita que conquistam seguidores. Conheça a nova onda de influencers que mistura receitas de bolo com pautas conservadoras. Na Folha.

.A jabuticaba que é esconder a indecência do pagamento anual de juros por parte do governo federal. No Jornal da USP, Paulo Feldmann mostra que o conceito de déficit primário é uma invenção dos neoliberais brasileiros.

.A verdade e o sensacionalismo em torno das denúncias de exploração infantil na Ilha do Marajó. Como a mistura de fatos e fake news que circulam pelas redes servem a determinados interesses. Na Carta Capital.

.Por que covid-19 ainda mata tanta gente no Brasil. Na BBC, veja os fatores que explicam o aumento de infecções e mortes por Covid-19. 

.Estudo evidencia o sambista “Candeia” enquanto político e defensor da cultura e dos valores afro-brasileiros. Em plena ditadura militar, o samba foi transformado em arma por uma geração. No Jornal da USP.


Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Vivian Virissimo