A gente estuda esses vários saberes e isso vai enriquecer nossa bagagem e levar para as nossas bases
Após décadas de luta e aposta no trabalho coletivo, a antiga fazenda Annoni, com 9,3 mil hectares, destoa dos campos infinitos de soja do noroeste gaúcho. Os assentados são referência em diversidade de alimentos e pelos experimentos para produzir soja não-transgênica e orgânica. Quem teve protagonismo nessa caminhada foi o Instituto Educar, criado em 2005 para oferecer ensino técnico em agropecuária com foco em agroecologia.
Além do curso técnico, o Educar oferece o curso de graduação em Agronomia e vai formar sua terceira turma de engenheiros agrônomos do movimento em março de 2025, no marco de 20 anos do instituto.
Hoje, o Curso de Graduação em Agronomia do Instituto Educar, no município de Pontão, norte do Rio Grande do Sul, é fruto de uma parceria entre o movimento e a Universidade Federal da Fronteira Sul. E, em março de 2025, irá formar sua terceira turma. O instituto é um dos 49 centros de ensino do MST no país. O estudante Ricardo Luís Volpi explica a importância da educação dentro do MST
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“O movimento consegue entender o que está acontecendo na sociedade e consegue sistematizar, E aplicar também a muitas das práticas, né? E, por exemplo, hoje a gente está nesse lugar. Também há um plano nacional, plantar árvores, produzir alimentos saudáveis, Eu acho que é um passo que o movimento sem-terra está dando na compreensão de que a gente precisa entender o nossos territórios. Entender, por exemplo, o que são os biomas e como a gente consegue fortalecer esses territórios com agroecologia”, destaca.
Construir agroecossistemas sustentáveis, aliando técnica e conhecimento científicos, é um dos objetivos destes futuros engenheiros agrônomos engajados na luta popular. É o caso de Daniel, atingido pelo rompimento da Barragem da Samarco, em Mariana, em 2015.
Assim como ele, muitos estudantes do Instituto Educar vêm de outros assentamentos e regiões do país. E levam, depois de formados, o conhecimento para ser aplicado em seus territórios.
“A gente estuda esses vários saberes e isso vai enriquecer nossa bagagem e levar para as nossas bases, né? Tudo em prol de um patamar do sistema mais diferenciado do que existe hoje colocado para nós na sociedade. Então, o instituto trabalha muito bem nessa questão política, e na questão da classe social. Então é um enriquecimento essencial para a formação de um agrônomo”.
A formação de jovens iniciada em 2005 dentro do instituto Educar com o ensino técnico em agropecuária com foco em agroecologia, é parte da transformação protagonizada pelos assentados que vivem na área da antiga Fazenda Annoni, em Pontão.
Após décadas de luta e aposta no trabalho coletivo, o antigo latifúndio com 9,3 mil hectares, um dos primeiros ocupados na história de 40 anos do MST, se tornou um celeiro de produção de alimentos no noroeste gaúcho, destoando dos campos infinitos de soja ao redor.
O Instituto Educar e outros centros da formação do movimento sem Terra estão fazendo esse esforço, junto com universidades. Vamos construindo técnicas para nós e buscando espaço, fazendo pesquisa e ganhando experiência, para que possamos nos apropriar desses conhecimentos e dessas tecnologias para produzir, sim, alimentos saudáveis, explica a professora Salete Campigotto, que iniciou a trajetória como educadora no movimento ainda como acampada no início dos anos 1980.
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Coordenadora do Educar, ela conta que os princípios da agroecologia já eram ensinados para as crianças lá atrás, em 1984, nas salas de aula.
“A gente trabalhava com várias alternativas em agroecologia. Uma delas envolvia o baculovírus, para resolver o problema da lagarta que comia folha de soja. Era uma das atividades no turno inverso das aulas, Já era um trabalho para nossa associação e ao mesmo tempo um aprendizado, né? Um aprendizado de agroecologia, sobre o respeito à terra. Então, isso marcou muito a minha vida profissional”, acrescenta Campigotto.
Além da diversidade de alimentos produzidos nos 7 assentamentos dentro da Annoni e em suas cooperativas, os camponeses também se destacam pelos experimentos para produzir soja não-transgênica e orgânica. É um sinal de que há uma solução coletiva para enfrentar o domínio do agronegócio na região.
“Hoje não basta distribuir terra para criar pequenos produtores de soja. Não é mais isso. Lá em 1985, você justifica, vai pegar uma matéria improdutiva para produzir soja. Hoje não justifica mais. Hoje a sociedade não ganha com isso, ressalta Mario Lill, da coordenação regional do MST no Rio Grande do Sul.
Edição: Douglas Matos