Se Israel concretizar seus planos de atacar o único ponto de entrada de ajuda humanitária para os palestinos da Faixa de Gaza, a cidade de Rafah, isso seria o equivalente a uma "sentença de morte" para os programas de assistência à população do território. As declarações foram feitas nesta segunda (26) pelo secretário-geral da ONU, António Guterrez, horas depois de Israel anunciar os planos de ampla operação militar.
"Uma ofensiva israelense total sobre a cidade não seria apenas aterrorizante para mais de um milhão de civis palestinos refugiados lá; isto colocaria o último prego no caixão dos nossos programas de ajuda", disse Guterres em Genebra, durante encontro do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
A pequena Rafah ficou lotada com a chegada de cerca de 1,5 milhão de palestinos em busca de escapar dos bombardeios em outras partes de Gaza. Apesar de apelos internacionais para que não seja feita a operação militar na região — inclusive dos EUA — Israel disse que vai em frente.
"Tem que ser feito porque a vitória total é nosso objetivo e a vitória total está ao nosso alcance", disse o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, à TV dos EUA no domingo. Ele disse ainda que há um plano para a deslocar civis palestinos para outras áreas, embora os bombardeios ocorram por todo o território.
A ONU diz que a situação em Gaza é de fome generalizada. Os poucos comboios que chegam ao norte são saqueados e palestinos recorrem a ração animal e folhas para sobreviver.
"Vamos morrer de fome", disse Abdullah al Aqra, 40 anos, à agência de notícias AFP.
Não é só a fome. O chefe dos Médicos Sem Fronteiras, Christopher Lockyear, disse que os ataques israelenses constantes a hospitais impedem o cuidado às vítimas. Ele diz ser comum crianças de cinco anos pedirem para morrer, ao passarem por amputações sem anestesia e verem familiares mortos.
A maioria dos cerca de 30 mil mortos em Gaza é de mulheres, crianças e adolescentes. Muitos dos sobreviventes não possuem mais familiares vivos em Gaza.
"É uma guerra de punição coletiva, uma guerra sem regras, uma guerra a todo custo", disse Lockyear.
Em Ramallah, o premiê palestino Mohammad Shtayyeh renunciou ao cargo alegando "impotência" diante do massacre em Gaza e as violações em Jerusalém Oriental e na própria Cisjordânia.
Os EUA afirmaram ainda que negociações para um cessar-fogo avançaram na sexta-feira em Paris e é possível uma pausa de seis semanas para troca de prisioneiros e entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Edição: Matheus Alves de Almeida