“A grande dúvida é se Putin terá 81% ou 80%, ou 79%. Esse é o grande dilema dessas eleições”
Prestes a completar dois anos de guerra, as tensões no leste europeu, entre Rússia e Ucrânia, seguem sem perspectivas de resolução. Neste episódio, o podcast Três por Quatro se propõe a analisar os pilares que sustentam o conflito, e sobretudo o governo do russo Vladimir Putin.
Ao Brasil de Fato, diretamente da Rússia, o historiador Rodrigo Ianhez, especialista no período soviético, afirma que a guerra na Ucrânia desencadeou a maior crise nas relações do Kremlin com os países do Ocidente desde os mísseis cubanos em 1962 e a Criméia em 2014.
Apesar das tentativas de negociação, a resolução do conflito segue em um impasse: “Os russos já afirmam que eles tiveram esse interesse e estão abertos a negociar. Enquanto os ucranianos, atualmente, não têm demonstrado abertura.”
O especialista explica que "a Rússia não vai abrir mão, por exemplo, da questão da Crimeia. Enquanto os ucranianos afirmam que é algo inegociável”, território que se tornou autônomo do governo russo, consequência da revolução ucraniana de 2014.
Para João Pedro Stedile, liderança do MST e comentarista do podcast Três Por Quatro, o conflito no leste europeu vai além das relações entre Rússia e Ucrânia. "Havia um acordo histórico desde o governo Gorbatchov de que a OTAN não colocaria mísseis com ogivas nucleares na fronteira com a Rússia. Bem, o que houve é que a OTAN, há dois anos, começou a dar sinais em aliança com o governo Zelensky, que colocaria esses mísseis na fronteira”.
"Isso é inaceitável", declara Stedile, afirmando que "a Rússia teve o direito de se defender". Ele também lembra de outro ator principal dessa guerra: ”Os Estados Unidos é que têm o interesse de vender armas."
Em fevereiro, o Senado dos Estados Unidos aprovou mais um projeto de lei de ajuda de US$ 95,3 bilhões (quase R$ meio trilhão) para Ucrânia e Israel em uma votação. “Isso faz parte da indústria bélica americana”, afirma Stédile.
Nova organização geopolítica
Ianhez relata a experiência da guerra diretamente do território russo. "A expectativa era de um impacto econômico maior do que a gente sente no nosso cotidiano", mas a economia russa segue crescendo, apesar das sanções impostas por países líderes do Ocidente. Em 2023, o PIB do país de Vladimir Putin cresceu 3,6%.
"O que aponta, na minha visão, é o fato de os russos terem se preparado para o impacto de sanções ao longo de todos esses anos, desde 2014", afirma.
Ianhez aponta para um processo de substituição da importação no campo e no setor agrícola, que é visível, além do estreitamento das relações com a China, o que de acordo com ele, "as sanções acabaram gerando essa oportunidade".
Para Stedile, "o grande ganhador de tudo isso é o Putin. Hoje, a Rússia tem apoio inquestionável da China, que inclusive fornece tecnologia, construiu uma aliança com a Turquia, com o Irã, e inclusive com a índia", afirma.
Popularidade e o futuro de Putin
Também falou com o podcast Três por Quatro, o jornalista Serguei Monin, correspondente do Brasil de Fato para a Rússia, que não demonstrou dúvidas quanto às eleições presidenciais que acontecem em território russo em março deste ano.
Segundo ele, “a grande dúvida é se Putin terá 81%, 80%, ou 79%. Esse é o grande dilema dessas eleições”. Agora, “é inegável que não sabemos avaliar a porcentagem exata da popularidade, até porque é válido dizer que as eleições são facultativas, então há uma abstenção muito grande também; mas é inegável a legitimidade do Putin como líder em todo o país”.
“Houve um certo acordo tácito assim, ao longo dos primeiros mandatos, é de que 'a população vive bem, tem salário, aposentadoria, consegue reformar a casa. Então a gente legitima o presidente para governar. Porque qualquer outra opção seria um caos”.
Monin destaca que são mais de 20 anos de governo de Vladimir Putin, e lembra que ele “pode se reeleger mais duas vezes, segundo as últimas reformas feitas na Constituição”.
Novos episódios do Três por Quatro são lançados toda sexta-feira pela manhã, discutindo os principais acontecimentos e a conjuntura política do país.
Edição: Nicolau Soares