A vice-presidenta da Colômbia, Francia Marquez, primeira mulher negra a ocupar o cargo, defendeu em Foz do Iguaçu (PR) a superação de práticas machistas e racistas na esquerda, que, segundo ela, prejudicam a união dos povos na América Latina.
"Um dos grandes erros que cometemos como região é que a esquerda latino-americana foi tolerante com culturas machistas e racistas. Nossa união regional deve surgir das entranhas dos povos, em sintonia com a base e dos movimentos sociais", afirmou, sob aplausos de uma multidão.
A autocrítica foi feita nesta sexta-feira (23), durante o segundo dia da Jornada Latino-americana e Caribenha de Integração dos Povos, que reúne desde quinta-feira (22) mais de 4 mil integrantes de movimentos sociais de 26 países na tríplice fronteira com Argentina e Paraguai.
Uma das vozes mais poderosas antimineração e do movimento negro na Colômbia, a vice de Gustavo Petro lembrou que a América Latina pouco contribui com o aquecimento global se comparada aos países ricos, mas sofre os maiores efeitos das mudanças climáticas, que atingem principalmente populações pobres, periféricas, pretas e indígenas.
"Estamos enfrentando os desastres climáticos que cada vez são mais extremos e frequentes e devastadores. Por isso, devemos falar em transição energética e defesa da biodiversidade. Se pensarmos em transição energética justa, a região mudaria”, defendeu Francia Marquez.
Medidas concretas pela integração dos povos
A vice-presidenta era uma das presenças mais aguardadas na Jornada Latino-americana e Caribenha de Integração dos Povos, que deve contar também com Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai; Silvio Almeida, ministro brasileiro de Direitos Humanos; e Márcio Macedo, da Secretaria-Geral da Presidência do Brasil.
Ao chegar na manhã desta sexta-feira (23) ao Centro de Convenções de Foz do Iguaçu, onde é realizado o encontro de movimentos do continente, Francia Márquez cumprimentou integrantes de movimentos sociais e conheceu o espaço de exposição de alimentos saudáveis da reforma agrária, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Márquez participou da conferência "Desafios da Integração Latinoamericana e Caribenha", ao lado de representantes do MST, Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade (RedH) e Frente Patria Grande da Argentina.
Ovacionada pelo público, a vice-presidenta propôs medidas concretas para integrar a América Latina e Caribenha, como a flexibilização de vistos entre países, buscando uma comunicação mais direta e a valorização dos produtos regionais.
"Nossos artistas devem ser validados com Grammys ou Oscar, o equivalente para a música latino-americana é o Grammy Latino, enquanto a África e a Índia têm seu Bollywood. Não temos uma plataforma latino-americana que nos permita nos posicionar como povos", advertiu Francia Márquez.
Edição: Matheus Alves de Almeida