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Resistência

"Juventude sem terra vai continuar erguendo nossas bandeiras", projeta dirigente sobre 40 anos do MST

Eró Silva comenta ato político que vai celebrar aniversário do movimento em Campos (RJ) no próximo sábado (24)

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Cambahyba Cicero Guedes
Encontro estadual do MST no Rio acontece em preparação para o Congresso Nacional do movimento - Pablo Vergara

No marco de quatro décadas de existência, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vai realizar em julho o seu 7º Congresso Nacional em Brasília (DF). Até lá, celebrações de aniversário do que é considerado o maior movimento popular do país se espalham por diferentes estados. No Rio de Janeiro não será diferente.

Um grande ato político vai reunir no próximo sábado (24) militantes históricos, assentados e parceiros do movimento em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. A atividade é parte da programação do Encontro Estadual do MST, que acontece nos dias 23 a 25 de fevereiro, na Escola Técnica Agrícola Antônio Sarlo, também em Campos.

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A expectativa da organização é de que a militância do estado termine os dias de encontro com o fôlego renovado para movimentar mais atividades em preparação para o Congresso Nacional. Até julho, a cidade do Rio e assentamentos organizados pelo MST vão receber eventos no bojo do aniversário de 40 anos do movimento.

O Brasil de Fato conversou com Eró Silva, da direção nacional do MST, sobre os 40 anos do movimento, o encontro estadual e a simbologia de iniciar as celebrações desse marco com um ato político em Campos, região que esteve historicamente e continua sendo trincheira na luta pela terra no estado.

"Projetar para mais 40 anos é principalmente trabalhar a juventude sem terra que vai continuar erguendo as nossas bandeiras. E a nossa luta permanece no sentido de implementar aquilo que a gente entende como reforma agrária popular", afirma a dirigente.

Confira a entrevista completa:

Brasil de Fato: Qual será o tema do encontro estadual do MST?

Eró Silva: Vai ser o momento da gente celebrar os 40 anos de história do MST e iniciar a celebração no estado do Rio de Janeiro. Vamos fazer um ato celebrativo convidando pessoas históricas que ajudaram a construir o MST no Rio de Janeiro, que hoje estão construindo outras frentes, às vezes em outros estado. Também vamos tratar sobre os nossos quase 30 anos aqui no estado que já é ano que vem.

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O Encontro Estadual também tem o papel de traçar as nossas ações para esse ano. Pensar em como a gente vai se organizar para ir para o Congresso, pensar no nosso calendários de lutas, nas ações junto com a sociedade. É um encontro que a gente também delibera. É um momento de projetar as ações daqui para frente

Campos dos Goytacazes foi palco de momentos importantes da luta pela terra no estado. O que representa a escolha desse território para realizar o encontro?

Campos dos Goytacazes é o território que o MST faz uma grande ocupação com o [assentamento] Zumbi dos Palmares. Isso lá pelos anos de 1997 quando o MST enquanto organização retoma novamente a luta pela terra aqui no estado.

É significativo a gente fazer o encontro onde está fincado também nossas principais e primeiras áreas de reforma agrária nesse período. A gente tem cerca de 11 assentamentos na região norte do estado a maioria está em Campos.

Então celebrar com as famílias e com o assentamento novo Cícero Guedes, que vai estar presente no encontro Estadual, tem esse significado para gente. É um espaço onde nós tivemos muitas lutas, tivemos perda do nosso companheiro Cícero também naquele território, mas principalmente a gente tem um espaço pra celebrar as nossas conquistas. E a partir daí também indicar quais são as nossas futuras ações também para avançar na reforma agrária popular.

O que para você significa projetar os próximos 40 anos do MST?

Projetar para 40 anos ou mais é principalmente trabalhar a juventude sem terra que vai continuar erguendo as nossas bandeiras. E a nossa luta permanece no sentido de implementar aquilo que a gente entende como reforma agrária popular.

A reforma agrária é um direito da sociedade, direito de reparação histórica.

Seja para o povo preto, os povos originais, mas principalmente hoje quando a gente olha essa crise econômica e financeira que o país vive, que muitas famílias se tivessem um espaço para produzir sua própria comida, e também comercializar, teriam também uma moradia.

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Então a gente entende que a nossa luta é muito presente. Nesses 40 anos que o MST chega é uma luta cotidiana ainda. A nossa projeção é de ampliar os trabalhos cada vez mais e sempre buscar apoiar as outras lutas como tem sido esse momento de estar cada vez mais próximo das lutas da favelas e da cidade. Porque isso faz parte do nosso projeto de reforma agrária popular.

Qual a expectativa para o Congresso Nacional do MST neste ano?

A partir do Congresso Nacional vamos mostrar para a sociedade a atualização do nosso programa agrário. Nós temos fôlego e muita garra para nos manter não só por mais 40 anos, mas muito mais anos.

A gente espera que a reforma agrária seja efetivada, é uma luta que a gente não queria que perdurasse mais de 40 anos. Mas a gente entende que a nossa luta do movimento é a luta por terra, pela transformação da sociedade, e pela reforma agrária. Então assim são lutas que se permeiam.

Mesmo quando tem a distribuição da terra, precisa ainda de muita luta para que as famílias tenham moradia, políticas públicas. E que a gente consiga ter essa ferramenta do combate à fome e a miséria no Brasil. Essas são as principais bandeiras do MST.

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A gente produzir comida de verdade, fazer reforma agrária pra gente ter acesso ao solo e tecnologia para produzir comida boa e barata. Que a população que está nos centros urbanos também tenham o acesso.

Que desafios estão colocados para as políticas públicas no campo?

Temos o avanço do Agro, a destruição dos bens da natureza. Quando tem um déficit de trabalho no campo, dificuldade de moradia, o processo de êxodo rural sempre foi buscar a cidade como uma alternativa de sobrevivência. Porque aqui vai ter o catador, vai ter mão de obra numa construção, vai fazer um bico para comer no final do dia.

Às vezes isso acontece em locais que não está chegando a energia elétrica, não tem um transporte, não tem saúde. Quando a gente olha para o cenário real do que é o campo do Brasil não é esse cenário do agronegócio de quem tem um jatinho para ir no médico fora do Brasil. Esse não é o cenário do morador da área rural. Existem cenários que estão invisíveis.

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É que as políticas públicas sejam reconstruídas com efetividade e impacto no território de quem precisa para trabalhar a emancipação das pessoas. A política publica não é para deixar as pessoas dependentes, é um motor de emancipação e independência, principalmente financeira, das pessoas.

Edição: Mariana Pitasse