O grupo guerrilheiro Exército de Libertação Nacional (ELN) disse na noite desta terça-feira (20) que as negociações por paz com o governo da Colômbia estão “congeladas”. Em nota, afirmou que o processo está em “crise aberta” e convocou sua delegação para consultas.
O ELN afirma que o governo está desrespeitando os acordos de cessar-fogo firmados nas mesas de negociação por meio das Forças Armadas e da polícia. Ainda de acordo com o texto, o governo estaria negociando paralelamente “por fora do processo nacional” no Estado de Nariño. As negociações de paz oficiais envolvem o ELN, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Conferência Episcopal colombiana.
#ATENCIÓN
— Delegación ELN (@DelegacionEln) February 21, 2024
Comunicado del Comando Central del ELN.
"los diálogos entre el ELN y el Gobierno Nacional entrarían en una fase de congelamiento mientras el Gobierno se disponga a cumplir lo acordado".https://t.co/KQHgAuDH6m pic.twitter.com/RrCisrp9Ks
A delegação do governo nos diálogos de paz respondeu e publicou uma nota afirmando estar cumprindo com aquilo que foi negociado e que sempre esteve “disposta a encontrar saídas ante situações críticas”.
O texto afirma também que as decisões tomadas “unilateralmente” são de “inteira responsabilidade” do grupo e que está nas mãos do ELN “aprofundar uma solução negociada”. O governo acusa o grupo também de gerar uma "crise desnecessária".
#Atención. Comunicado a la Opinión Pública de la Delegación de Gobierno en los Diálogos de Paz con el Ejército de Liberación Nacional - ELN pic.twitter.com/D4LzjpqCdb
— Delegación de Paz del Gobierno de Colombia (@DelegacionGob) February 21, 2024
Essa já é a segunda vez em duas semanas que o ELN denuncia violações dos acordos por parte do governo. A frente do ELN que atua no estado de Chocó, na região oeste da Colômbia, interrompeu o cessar-fogo assinado entre o grupo e o governo, em Cuba, durante 5 dias. A medida foi tomada pela Frente de Guerra Ocidental Omar Gómez e teve como justificativa um suposto acordo entre militares e paramilitares na região que, segundo o ELN, impede a "circulação de pessoas e alimentos", além de usar a população local como "escudo humano".
De fato, o governador de Nariño, Luiz Alfonso Escobar já havia anunciado que haveria negociações na região com um grupo armado, mas não especificou qual grupo se tratava: “Significa outra vitória que conquistamos como governo estadual. Uma coisa são os diálogos a nível nacional, outra coisa é regionalizar a paz”.
A troca de notas entre as delegações do governo e do ELN foi feita depois de o ministro da Defesa da Colômbia, Iván Velásquez, assegurar o início do processo de libertação dos sequestrados por parte do ELN. O cessar-fogo acordado em Cuba entre o grupo guerrilheiro e o governo colombiano foi prorrogado até agosto. O ministro não especificou quantas pessoas estão sequestradas pelo Exército de Libertação Nacional porque, segundo ele, há divergências nos números “oficiais”.
Política de paz
O diálogo permanente com os grupos armados é uma das políticas implementadas pelo presidente colombiano, Gustavo Petro, desde o início do seu mandato em 2022. O presidente transformou a Paz Total em uma política de Estado a partir da aprovação da lei 418, que firma o compromisso do Estado colombiano em manter contato para negociar o fim dos confrontos entre esses grupos.
As negociações com o ELN se somam a outras mesas de diálogos estabelecidas pelo governo. Até agora, o Estado conseguiu abrir diálogos com a Segunda Marquetalia e com o Estado Maior Central (EMC), dois grupos surgidos de dissidências das Forças Armadas Colombianas (Farc).
O ELN - grupo que lutava ao lado, mas não integrava as Farc - foi o primeiro a assinar um Acordo de Paz com o Estado colombiano em 2016, durante o governo de Juan Manuel Santos. Após o acordo, sete mil guerrilheiros ingressaram na vida civil, as Farc entregaram as armas e se transformaram no partido Força Alternativa Revolucionária do Comum.
Edição: Rodrigo Durão Coelho