TEATRO POLÍTICO

Espetáculo resgata memória de Margarida Alves e Roseli Nunes no mês de luta das mulheres

Em Brasília (DF), peça chega ao teatro do Sesc nos dias 1º a 3 de março

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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As protagonistas da peça "A Legítima História Verdadeira" são símbolos da luta de mulheres por direitos - Matheus Alves

Para abrir o mês de março em homenagem à luta das mulheres, a Cia Burlesca apresenta o espetáculo “A Legítima História Verdadeira”, em Brasília (DF). Após circular por áreas da reforma agrária, espaços de formação e escolas do campo e da cidade, a peça que conta a trajetória de Margarida Alves e Roseli Nunes, lideranças que lutaram pelos direitos dos povos do campo, chega ao teatro do Sesc da 504 Sul, nos dias 1º a 3 de março. 

A obra narra a história de mulheres que desafiaram as estruturas autoritárias e desiguais do Brasil, especialmente a concentração fundiária que perpetua conflitos por terra ao longo dos séculos. As apresentações, seguidas de bate-papo, acontecem às 20h na sexta (1º) e sábado (2) e às 19h no domingo (3). No sábado também haverá uma oficina gratuita de teatro político, das 15h às 18h.

“O teatro é um megafone, ele é uma linguagem artística que tem uma potência de amplificar narrativas e discursos”, explica a atriz e integrante da Cia Burlesca, Julie Wetzel, sobre as motivações por trás da construção do espetáculo. 

“[Contar a história dessas mulheres] acho que é assumir 'A Legítima História Verdadeira' como a história das mulheres que lutam, das mulheres que estão na linha de frente lutando pelos direitos humanos, por uma vida digna para suas famílias e para toda a classe trabalhadora. É uma forma de reafirmar de que lado que a gente está, de que lado que a própria história deveria ser vista e em qual história que a gente acredita”, afirma. 

Para contar a história de Margarida e Roseli, o grupo visitou os estados de origem das homenageadas, Paraíba e Rio Grande do Sul, para coletar memórias. É em uma dessas andanças que surge o nome da peça, quando um militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao começar a entrevista, diz que “o que vai contar é a legítima história verdadeira, não vou inventar nada”. 

“A falta dele foi muito impactante pra gente, em um tempo histórico que há disputa da informação, um ex-presidente eleito por fake news, uma disputa absurda na internet. Então, como que a gente se coloca diante desse tanto de informação que vem sendo jogado e multiplicado sem tantos critérios, principalmente na internet, nas grandes mídias?”, foi o questionamento que, segundo Wetzel, impulsionou a Cia Burlesca a contar a história de mulheres que são proposital e historicamente apagadas. 

Luta das mulheres do campo

As vidas das duas protagonistas da peça “A Legítima História Verdadeira” se cruzam não apenas na luta incansável por direitos, mas também no trágico fim: “as duas foram assassinadas pelo latifúndio”, explica a atriz Julie Wetzel. 

Margarida Maria Alves, líder sindicalista paraibana, foi morta a mando de latifundiários em agosto de 1983, aos 50 anos. O crime aconteceu na porta de sua casa, na frente do único filho e do marido, e segue impune até hoje. 

Desde 2000, a memória da sindicalista inspira a maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina, que recebe seu nome: a Marcha das Margaridas. A mobilização acontece a cada quatro anos, em Brasília, e reúne milhares de pessoas em defesa dos direitos dos povos do campo e dos trabalhadores.  

Roseli Nunes também lutou pela reforma agrária, por justiça, por direitos e contra a fome. Sua vida foi ceifada durante um protesto de pequenos agricultores e agricultoras no Norte do Rio Grande do Sul. Um caminhão investiu contra uma barreira humana formada na BR-386, em Sarandi, ferindo 14 agricultores e matando três. Mas seu legado permanece e inspira a luta em muitos acampamentos, assentamentos e escolas, em diversos lugares do país, que levam seu nome.

Além de Margarida e Roseli, o espetáculo narra a trajetória de mais de 20 mulheres, como Irmã Dorothy, Mãe Bernadete e Marielle Franco, que se colocaram como lideranças de suas comunidades e foram perseguidas. 

“É um espaço de denúncia, mas também de inspiração neste mês tão importante que a gente tem que relembrar as nossas histórias, as histórias das nossas mulheres lutadoras que nos inspiram e que nos fazem se manter em luta hoje em dia”, completa Julie Wetzel. 

Serviço

Apresentação do espetáculo e bate-papo - "A Legítima História Verdadeira"

01/03 (sexta-feira) às 20h

02/03 (sábado) às 20h

03/03 (domingo) às 19h

Ingressos disponíveis aqui (R$ 30 inteira, R$ 15 meia

Oficina de teatro político - "As Mulheres fazendo História"

02/03 (sábado) das 15h às 18hs

Atividade gratuita

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Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Márcia Silva