Genocídio

Padilha nega desculpa de Lula a Israel: 'Se tem uma coisa que precisa pedir é o cessar-fogo'

Lula virou alvo de ataques após comparar morte de palestinos ao Holocausto da Alemanha nazista

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ministro Alexandre Padilha participou do Roda Viva, da TV Cultura, desta segunda-feira (19) - Reprodução/Youtube/TV Cultura

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, negou a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se desculpar pelas falas em que relacionou o genocídio palestino ao Holocausto promovido pela Alemanha nazista contra os judeus. 

“Se tem uma coisa que Lula precisa pedir para Netanyahu é o cessar-fogo", disse o chefe da pasta em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (19). “Foi correta a crítica que ele fez à Netanyahu.”  

“O presidente, na própria fala dele, deixa claro o posicionamento em relação a [Benjamin] Netanyahu [primeiro-ministro de Israel] e à sua postura histórica enquanto presidente da República neste momento de defesa de Israel, da existência do Estado de Israel e à relação que ele sempre teve com a comunidade judaica aqui no Brasil. Ficou claro", argumentou Padilha. 

Questionado sobre se a fala de Lula foi infeliz, Padilha disse: “Infeliz é a vida de uma mãe palestina que está vendo a sua criança sendo bombardeada ou traumatizada após um bombardeiro. Infeliz são médicos e médicas como eu não conseguirem fazer seu trabalho porque está bombardeado e desrespeitado um conjunto de regras que a própria ONU estabelece sobre conflitos como esse. Isso é profundamente infeliz, e o presidente Lula reagiu a essa situação”. 

O ministro disse ainda que após a fala do presidente, o fato diplomático mais importante foi o reconhecimento da necessidade de um cessar-fogo por parte Estados Unidos, e não o “espetáculo” que Netanyahu tentou criar. “O grande fato político e diplomático não foi o que o escarcéu que tentou fazer o chefe do governo de Israel. Até os Estados Unidos, aliados históricos de Israel, reconhecem, hoje, que não é possível admitir a continuação da atividade militar pelo primeiro-ministro de Israel.” 

“Torço para que essa posição nova dos Estados Unidos mobilize e acabe com qualquer tipo de obstáculo dentro da ONU [Organização das Nações Unidas] para que a gente possa migrar para o cessar-fogo o mais rápido possível”, disse. 

Padilha também argumentou que a fala de Lula foi “um grito de protesto de quem está vendo dezenas de milhares de mulheres, crianças e colegas médicos dentro de hospitais sendo bombardeados”. 

“O presidente verbalizou aquilo que outras lideranças internacionais já disseram, não só chefes de estado, sociedade, profissionais de saúde, representantes de agências da ONU, que tem um massacre acontecendo e que tem que encerrar o mais rápido possível”, explicou Padilha.  

Fala do presidente 

No último domingo (18), em entrevista coletiva antes de deixar a Etiópia rumo ao Brasil, Lula comparou o massacre promovido pelas forças militares de Israel contra a Faixa de Gaza ao Holocausto promovido pela Alemanha nazista contra os judeus na Segunda Guerra Mundial. "O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", afirmou o presidente. 

Após a fala, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, anunciou, nesta segunda-feira (19), que Lula seria considerado "persona non grata" no país. O termo é um instrumento jurídico utilizado nas relações internacionais para indicar que um representante oficial estrangeiro não é bem-vindo. 

Nesta terça-feira (20), o coletivo Vozes Judaicas por Libertação publicou uma carta em apoio a Lula. O grupo afirmou que é impossível comparar e hierarquizar genocídios, dado que “a experiência vivenciada por cada povo afetado é inigualável”. Ao mesmo tempo, no entanto, "a contradição de o povo judaico ser ora vítima e agora algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós".  

O coletivo ainda afirma que “enquanto coletivo de judias e judeus, temos antepassados que foram vítimas do Holocausto nazista, e entendemos que nosso imperativo ético é nos posicionarmos contra o genocídio do povo palestino e contra a utilização da nossa defesa como justificativa”. 

Edição: Vivian Virissimo